“Revolução não é para os sãos.” – Saw Gerrera
Ao relembrarmos Rogue One e a primeira temporada de Andor, é impossível não pensar nos detalhes impactantes da gênese da Aliança Rebelde. A série criada por Tony Gilroy se destacou ao mostrar como interesses divergentes se alinham, mesmo que de forma instável, em nome de um objetivo maior. O preço dessa união é alto, e isso se torna ainda mais evidente na segunda temporada.
Desta vez, com roteiros meticulosamente elaborados, o Império ganha uma nova camada de complexidade. Ele deixa de ser apenas uma força caricata e onipotente, como aquela que exterminou Jedi por meio de uma ordem via rádio ou destruiu Alderaan com um disparo. Embora a aniquilação do planeta em “Uma Nova Esperança” ainda cause impacto, ali ela funciona como um atalho narrativo. Em Andor, o horror é construído em detalhes, a destruição sistemática de um planeta paradisíaco, com a exploração de seus recursos e a manipulação cruel de sua população local, é apresentada de maneira gradual e devastadora.

O Império não apenas tem personalidade; agora ele possui identidade. O plano central do segundo arco da temporada revela isso com força. A trama se desenrola em três frentes principais. Syril Karn (Kyle Soller) é transferido para Ghorman por Dedra Meero (Denise Gough) com o intuito de provocar a resistência local. E assim, abrindo espaço para a dominação imperial e a mineração de um recurso estratégico. Ao mesmo tempo, Luthen Rael (Stellan Skarsgård) envia Cassian Andor (Diego Luna) para avaliar a situação. Com o intuito de facilitar a aproximação entre a resistência de Ghorman e a Aliança Rebelde. Porém, ao perceber a fragilidade da célula local, Cassian se recusa a colaborar plenamente. Por fim, levando Luthen a acionar Vel Sartha (Faye Marsay) e Cinta Kaz (Varada Sethu), culminando na execução do plano de Dedra e na trágica morte de Cinta.
Como em “O Império Contra-Ataca“, temos aqui uma vitória do lado sombrio. A combinação da frieza estratégica de Dedra com a visão limitada e impaciente de Luthen leva a um desfecho sombrio. Cassian, por sua vez, se vê transformado em mero peão de um tabuleiro já montado, sendo gradualmente afastado de sua própria humanidade. A relação entre ele e Luthen se desgasta ainda mais quando este se aproxima de uma frágil Bix Caleen (Adria Arjona), como se tentasse recuperar o que já perdeu em si.
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A frase dita por Saw Gerrera (Forest Whitaker) para Wilmon Paak (Muhannad Bhaier) resume bem esse estado: “São? Ninguém mais é são.”. Essa condição se aplica a todos, Luthen, Cassian, Bix e até o próprio Gerrera, que surge aqui em uma versão anterior à que vimos em Rogue One, sem seu respirador. A participação de Whitaker, inicialmente parecendo fan service, se revela essencial. Seu personagem representa o desgaste físico e mental causado pela guerra, guiado não pela esperança de democracia, mas por um desejo irreversível de vingança.
Mesmo que o arco narrativo de Gerrera pareça isolado, seus momentos marcantes, como o assassinato de Pluti (Marc Rissmann) e a revelação de seu vício em rhydonium, adicionam densidade à narrativa e contrastam com os métodos mais “civilizados” de Luthen. A brutalidade de Gerrera espelha as contradições morais dos rebeldes, reafirmando que a linha entre o bem e o mal é cada vez mais tênue.

A segunda leva de episódios também apresenta momentos notáveis. O monumento em Palmo que relembra o massacre ordenado por Tarkin; a ambientação inspirada na resistência francesa da Segunda Guerra Mundial; o retorno de Ben Mendelsohn como Krennic em uma excelente cena ao lado de Mon Mothma (Genevieve O’Reilly). E a operação arriscada de Kleya Marki (Elizabeth Dulau) para recuperar um microfone escondido, sob o disfarce de Lonni Jung (Robert Emms).
Outros destaques incluem a trajetória traumática de Bix, culminando em sua vingança contra o cruel Dr. Gorst (Joshua James). E a substituição breve de Bail Organa, tradicionalmente vivido por Jimmy Smits, agora interpretado por Benjamin Bratt devido a conflitos de agenda. A série ainda brilha ao retratar espaços vividos com autenticidade, de hotéis e becos a apartamentos assépticos e festas de elite, com uma riqueza visual e dramática rara desde a trilogia original.
Andor não é apenas uma série sobre a rebelião, ela transforma Star Wars em algo maduro, refinado e detalhista. Ao trocar a lente da luneta pela da lupa, Gilroy entrega um drama político denso, sem pressa, sem explosões gratuitas, onde cada engrenagem narrativa conta. É um novo auge para a franquia, e um dos melhores momentos já criados dentro desse universo.
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