“Lembre-se que a fronteira da Rebelião está em toda parte.” – Karis Nemik

Chega ao fim Star Wars: Andor, e com isso, também encerro minha última crítica por arco de episódios desta obra que, com méritos, se estabelece como uma das melhores da franquia. Mais do que isso, Andor se destaca entre as grandes séries recentes da televisão, com uma narrativa envolvente, atuações marcantes e um roteiro que alia tensão política, drama pessoal e construção de mundo como poucas vezes se viu em Star Wars.

Tony Gilroy entregou um feito admirável, condensar quatro anos de narrativa em apenas 12 episódios, sem comprometer a profundidade ou o impacto dramático da história. O sentimento de tristeza com o fim da série vem justamente do desejo de ver mais desse universo e de seus personagens tão bem desenvolvidos. Embora não falte nada em termos de qualidade ou conclusão, o simples prazer de acompanhar mais temporadas de Andor seria um presente para os fãs.

O legado de Luthen Rael no último arco

Review | Star Wars: Andor T02 x 10 a 12: Faça Isso Parar / Quem Mais Sabe? / Jedha, Kyber, Erso
Reprodução: Disney+

O quarto e último arco foca, como era de se esperar, em Luthen Rael e no legado que ele deixa para a rebelião. Após o destaque dado a Mon Mothma no arco anterior, com sua decisão de se voltar abertamente contra o Imperador Palpatine, era natural que Gilroy centrasse a reta final em Rael. Então, em “Faça Isso Parar“, o espectador descobre mais sobre o passado desse líder rebelde, incluindo sua deserção do Império e a adoção de Kleya Marki ainda criança, moldando sua rede de espiões sob o disfarce de antiquário.

Seu arco se encerra com um sacrifício digno. Enfrentando Dedra, que o descobre e o desmascara, Rael opta por se sacrificar para proteger informações valiosas. A missão é finalizada por Kleya, que assume o risco e a dor da perda. Apesar de alguns críticos considerarem sua origem “convencional”, o desenvolvimento do personagem é coerente e potente. A escolha de mostrar Rael como um ex-sargento imperial traumatizado aprofunda sua jornada moral e destaca o preço da luta pela liberdade.

A decisão de dedicar um episódio inteiro a Rael, culminando em sua morte precoce, permite que a série abra espaço para o retorno triunfal de Cassian Andor, agora ao lado de seu inseparável K-2SO. A missão improvisada para resgatar Kleya em Coruscant, mostrada no episódio “Quem Mais Sabe?“, ecoa a extração de Mon Mothma em “Bem-Vinda à Rebelião“, mas aqui há um tom de urgência, desespero e improviso.

LEIA TAMBÉM: Review | Star Wars: Andor T02 x 07 a 09 – Mensageiro / Quem É Você? / Bem-Vinda à Rebelião

Destaque para a brilhante direção de Alonso Ruizpalacios, que orquestra uma sequência de ação intensa com o droide KX, incluindo o uso do corpo de Heert como escudo em um momento brutal. O episódio também mostra as consequências da missão paralela de Dedra, interrogada por ninguém menos que o Diretor Orson Krennick, interpretado novamente por Ben Mendelsohn. A dinâmica entre ele e Denise Gough oferece uma tensão dramática que enriquece ainda mais a narrativa.

O episódio final, “Jedha, Kyber, Erso“, tem a tarefa complexa de encerrar tramas, definir o destino dos personagens e conectar a série diretamente a Rogue One. O retorno de personagens secundários, como os senadores vividos por Jonathan Aris e Sharon Duncan-Brewster, ajuda a compor esse elo com o prelúdio do filme original de 1977.

Mas o que realmente brilha é o conflito interno da Aliança Rebelde. Saw Gerrera, em forma de holograma, questiona abertamente os métodos de Mon Mothma e seus aliados. Além disso, na “távola redonda” de Yavin Prime, vemos o desprezo de vários líderes pelas ações de Luthen Rael, mesmo reconhecendo sua importância. É Cassian quem se impõe, exigindo que as informações obtidas por Rael sejam consideradas, e Mon Mothma, conhecendo o valor de seu antigo aliado, é quem garante a continuidade da missão.

Epílogo e possibilidades futuras

Review | Star Wars: Andor T02 x 10 a 12: Faça Isso Parar / Quem Mais Sabe? / Jedha, Kyber, Erso
Reprodução: Disney+

O epílogo oferece vislumbres dos destinos dos personagens: Cassian e K-2 partem para Kafrene; Kleya, Vel e Wilmon aguardam em Yavin IV; Partagaz se suicida; Dedra é mantida presa; Krennick supervisiona a Estrela da Morte; e Saw Gerrera contempla o deserto de Jedha. Por fim, Bix aparece ao lado de B2EMO, com o bebê de Cassian no colo, sugerindo um raro momento de esperança.

Esses momentos finais reforçam o quanto a série soube construir um universo rico e emocionalmente ressonante. Fica a sensação de que Andor ainda teria muito a oferecer, não apenas em possíveis novas temporadas, mas também como ponto de partida para outros spin-off. Um prelúdio sobre Luthen e Kleya, missões de Cassian e K2, ou até histórias envolvendo Jyn Erso, Chirrut Îmwe e Baze Malbus seriam extremamente bem-vindos.

Star Wars: Andor é uma obra-prima dentro do universo expandido da franquia. Tony Gilroy conseguiu o impossível, criar uma série madura, politicamente relevante e emocionalmente envolvente em um universo conhecido por seus duelos de sabres e batalhas espaciais. Que a Lucasfilm saiba valorizar projetos desse nível e criadores como Gilroy. Porque, após Andor, sabemos o quão alto essa galáxia pode voar.