O fim de Succession foi exibido em 28 de maio de 2023, exclusivamente na HBO Max. Durante as 4 temporadas da série, a câmera sempre se move com gestos hesitantes entre os membros da família Roy. Ninguém entre os que levam esse sobrenome parece particularmente agradável: em cada cena, apesar dos ternos e gravatas, ocorrem os insultos e os tratamentos mais degradantes. 

Não há espaço para a delicadeza aristocrática no clã – quase nobre – formado pelos Roy, dono de um dos maiores conglomerados de comunicação do planeta.

Decerto, Succession, é apresentado aos espectadores sem qualquer pudor, como um banquete indecente da vida da burguesia norte-americana.

Nem tudo é completamente ficcional na célebre série televisiva: poucos nos Estados Unidos ignoram os paralelos com a família dividida de Rupert Murdoch, o magnata dos meios de comunicação que controla a Fox News.

Além de figurar na lista da BBC, recentemente, Succession foi eleita a terceira melhor série do século XXI pelo Hollywood Reporter, a reportagem justifica: “seus roteiros revelam como uma superabundância de dinheiro e uma deficiência de amor podem deformar a alma.” Portanto, não é para menos.

Succession sempre nos encantou com trilha sonora marcante, performances magistrais e escrita incrível, ao mesmo tempo em que alcançou um equilíbrio maravilhoso entre palavrões e profundidade.

Mas antes de continuar, importante avisar: que daqui pra baixo, pode haver SPOILERS.

O episódio 4×03 é épico

O episódio 4×03 de Succession surpreendeu, emocionou e a recepção positiva foi algo unânime, algo cada vez mais difícil numa sociedade polarizada. “O Casamento de Connor”, dificilmente será superado na lista dos melhores do ano, mas é também um dos melhores episódios da história da televisão.

Esta opinião é partilhada com as classificações alcançadas através do público no IMDb , que com quase 33.000 (até o momento) votos atribuem ao episódio uma classificação de 10 estrelas, algo que até agora só tinha sido atingido por Breaking Bad.

O episódio traz o fim de Logan Roy, que morre em um avião, longe de seus filhos, fora das telas, enquanto testemunhamos as terríveis consequências para sua família, o desespero dos filhos em dizer “adeus”, cada um à sua maneira, em um plano sequência que provavelmente dará indicações ao Emmy aos interpretes dos 3 filhos de Logan que participam da ligação telefônica.

4×10 – O derradeiro final de Succession

Chegamos ao episódio 4×10 com Kendall desesperado em sua luta para conseguir os votos da diretoria para bloquear o acordo com a GoJo. Enquanto vive o luto pela morte do pai, Roman que se escondeu na fazenda de sua mãe em Barbados.

Shiv e Kendall viajam para lá para dissuadi-lo, cada um com seus interesses próprios, mas enquanto o fazem, as peças continuam se movendo. Tom, em conversa com Matsson, recebe a oferta do cargo de CEO, o mesmo pelo qual Shiv acredita que ela está lutando .

Rumores sobre o golpe logo chegam a Barbados (obrigada, Greg!), e Shiv decide se aliar novamente a seus irmãos em uma última tentativa de assumir o controle da Waystar Royco com Kendall no comando. Afinal, o pai havia lhe prometido a gestão do impériodesde os sete anos.

O fim de Succession no auge

A série da HBO Max saiu justamente enquanto estava no auge. E, justamente por isso, o fim de Succession é tão redondo quanto poderíamos esperar. Claro, aqueles que esperavam por castigos inesperados (e merecidos!), sonhos que ganham vida, limbos inexplicáveis ​​ou qualquer final maluco que se possa imaginar, talvez tenham se decepcionado.

A série sabe muito bem quais são seus princípios e embasamentos. E Succession termina com a certeza de saber desde o início que tipo de série é e o que quer nos dizer.

E nesse sentido, o final de Succession é impecável

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Reprodução/HBO Max

Logan, o grande protagonista, é implacável e insubstituível, Mesmo assim, em flashs é possível perceber que ele não vem de uma família amorosa. Novamente, a série nos entrega a dualidade do ser humano. Por um lado, entende-se muito do seu comportamente. Todavia, não haverá ninguém como ele: graças a Deus!

FInal feliz? Eventualmente, ao ser questionado, Jesse Armstrong, o autor da série deixa em aberto para os fãs, porém, o tom de crítica deixa implícito os obstáculos:

De novo, prefiro deixar para a imaginação de cada um. Essas pessoas podem ser felizes? Não sei. Sei que é bem difícil ser um monarca, ou alguém muito poderoso, e não deixar que isso domine sua vida. Veja a família real britânica, toda essa coisa do príncipe Harry (risos). O poder é muito complicado, e acho difícil para pessoas que vêm de famílias poderosas terem boas relações com a relevância que seus nomes carregam.

Jesse Armstrong, 2023

“Eu te amo, mas não suporto você” – Shiv, A Rainha Consorte

Decerto, Shiv é a grande protagonista feminina da série e a mais inteligente dos irmãos, infelizmente, o machismo corporativo a engoliu da pior maneira possível. Ela foi fundamental para tornar esse final perfeito.  A célebre frase dita por Shiv ao irmão Kendall: “Eu te amo, mas não suporto você” traz mais uma vez o quão distorcida pode se tornar o ambiente familiar.

Sua surpreendente mudança desencadeou a queda do império da família Roy, mas por que ele fez isso? Esta surpresa poderia ser comparada a qualquer uma das melhores reviravoltas de roteiro com finais surpreendentes do cinema.

 Sobre a escolha da personagem, Jesse Armstrong, afirmou: “prefiro que as pessoas tirem suas conclusões. Mas, já que a série acabou, não me importo de dizer o que penso. Não foi nenhum cálculo do tipo: “vai ser uma posição melhor para mim”. Foi simplesmente uma sensação visceral de revirar o estômago por causa daquela competição que o pai sempre incentivou, na qual quem vencesse carregaria também o amor dele. Tinha esse significado extra descomunal. E ela não podia ver o irmão vencer”.

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Imagem: Divulgação / HBO Max

Kendall, o grande perdedor

O grande perdedor de toda história. Kendall foi quem esteve mais alto na maioria das vezes e, curiosamente, quem caiu mais baixo. Sua história em Sucession é a de um louco capaz de dominar o mundo e, ao mesmo tempo, a de um cara incapaz de enfrentá-lo.

Ele me prometeu quando eu tinha sete anos”, diz ele, lembrando a primeira conversa com o pai, quando as chaves do império lhe foram prometidas. Entretanto, o Imperador desapareceu. Na última cena, olhando para o horizonte, Ken tem certeza de que não tem mais nada nesta vida e, por mais nojento que seja seu personagem, neste momento, ele nos proporciona um dos momentos mais emocionantes das séries de televisão. Sua história acabou. Outra vez.

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Imagem: Divulgação/HBO Max

Roman, o desmoronado

Nesta última temporada vimos Roman desmoronar. Não é que ele fosse um dos personagens mais odiados da série, mas era tão difícil de amar quanto fácil de desfrutar. Seu cinismo e senso de humor selvagem sempre esconderam uma história triste sobre uma infância tóxica, mas, no final, foi quando  ele tirou completamente a máscara.

Não havia muito mais por trás disso, apenas um “pobre” homem assustado que impôs sua imagem para sobreviver em um mundo que ele temia e que, agora, não lhe pertence. Ainda assim, ele é bilionário e desprezível, mas talvez seja  o que tenha maior potencial de  emergir após o vendaval.

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Imagem: Reprodução/HBO Max

Connor e Willa, o alívio cômico de Sucession

Inesperadamente, Connor foi o filho que melhor entendeu a índole do pai e soube aproveitar os pequenos momentos íntimos. Ele sabia que nunca havia sido cogitado pelo pai para herdar o reino e, talvez, justamente, isso lhe retirou um peso das costas.

Decerto, a falta de proximidade e afeto lhe impactaram diretamente, como em seu discurso em 4×02: “O bom de ter uma família que não te ama é que você se adapta. Vocês perseguem o papai, implorando para que ele os ame e que os ouça”. Se Willa não voltar, não importa. Eu não preciso de amor. É como um superpoder. E se ela voltar, mas ela não me amar, não importa.  Eu não preciso disso.”

Eles se casam e tem um “final feliz”, nos modos Succession.-Talvez, Willa seja uma esposa (realmente) feliz se Connor assumir a embaixada e um oceano afaste os dois.

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Imagem: Divulgação/ HBO Max

Greg, a jornada do herói

Greg, o pobre primo rico da família Roy, começou como mascote do parque Waystar. Poateriormente, tornou-se o saco de pancadas particular de Tom. Na 4° temporada alçou vôos maiores, sendo responsável pela demissão de centenas de trabalhadores, deu ordem para anunciar o novo presidente dos Estados Unidos e carregou o caixão de Logan no grande funeral da América.

Ele é o exemplo perfeito da jornada do herói. Ou o do sanguessuga. Com seu jeito desajeitado, tornou-se fonte confiável de notícias, golpes e tramas. Ele aprendeu rápido que informação é poder.

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Imagem: Divulgação/HBO MAX

Tom, o sucessor

Inegavelmente, Tom ganhou! Certamente, sabíamos que ele era capaz de tudo, mas poucos o viam como um verdadeiro candidato à sucessão. Contudo, o velho machismo perpetuou na sede da Waystar para colocar a coroa numa bandeja e ele, sem pestanejar, tirou-a da esposa (Shiv).

Provavelmente, ele será um fantoche de Matsson, mas, ele chegou lá! “Tomando” o lugar do sogro, aquele que ele bajulou desde o primeiro episódio com um relógio caro. Mais uma vez, o capitalismo prova que aquele que sabe jogar o jogo e está disposto a tudo, está léguas na frente.

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Imagem: Reprodução/HBO Mac

Succession: o melhor final de todos?

Os quatro irmãos que guerrearam durante quatro temporadas para herdar o trono do pai, todo-poderoso, chegaram ao fim do caminho sem o troféu e tendo perdido muito mais do que o dinheiro pode comprar.

No desespero final de Kendall, há um vazio enorme que ele não sabe como preencher. Nas explosões de Roman está a percepção de que ele nunca corresponderá às suas próprias expectativas. E, finalmente, na renúncia de Shiv, há o último esforço que nos é exigido: aceitar a realidade. Connor, por sua vez, entendeu que nunca foi uma opção para o pai.

Succession, de certa forma, pode ser comparada com Game Of Thrones do mundo dos negócios. A analogia com as duas séries da HBO Max é inevitável: afinal, várias pessoas que têm um direito legítimo a uma coroa lutam pelo poder.

Por sua vez, Succession é basicamente abordada como um documentário da National Geographic que segue a história de um ninho de escorpião.

Em suma, o encerramento da série não explica o destino de ninguém, é incômodo de assistir, deixa um rastro de veneno e traição, abre múltiplas leituras, é sórdido e revela a verdadeira intriga que gira em torno dos Roys: existe, genuinamente, um herdeiro legítimo dessa coroa? Será que Kendall, Shiv ou Roman realmente mereciam sentar-se no trono de ferro de Logan? Existe, de fato, uma sucessão possível?

Inegavelmente, Logan foi um péssimo pai. Todavia, ele não errou em seu último diálogo com os 4 filhos: “Eu amo vocês, mas vocês não são pessoas sérias“. Consequentemente, é difícil torcer por qualquer um deles, todos tem facetas desprezíveis. Entretanto, todos vivenciaram a realidade de uma infância turbulenta e tóxica, pra dizer o mínimo.