O impacto de um cometa mudou tudo. Em Survive the Fall, você não enfrenta um apocalipse nuclear clássico, mas sim as consequências de um desastre natural e os novos perigos que surgiram nas ruínas.

Com uma mistura de estratégia em squad e gerenciamento de base, o jogo propõe repensar a sobrevivência pós-catástrofe. Será que essa abordagem diferente consegue se destacar no gênero?

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Trailer de lançamento | Reprodução: YouTube

Em um gênero dominado por guerras nucleares e vírus zumbis, Survive the Fall já começa com um trunfo: seu apocalipse veio do céu. Dessa forma, o impacto de um cometa não só exterminou boa parte da humanidade como deixou um legado tóxico – a névoa Stasis.

Essa premissa fresca se reflete no visual do mundo: em vez de desertos áridos, temos florestas que reconquistaram o espaço urbano, edifícios engolidos por trepadeiras e uma atmosfera de “fim lento” em vez de colapso instantâneo.

Aqui, os perigos vêm tanto da natureza mutante quanto dos sobreviventes desesperados. Factions como os fanáticos “Sighted” ou os mutantes “Shroomers” sugerem conflitos ideológicos interessantes, mesmo que nem sempre explorados em profundidade.

É nesse cenário que você, liderando um grupo de sobreviventes, precisará equilibrar estratégia e recursos.

Jogabilidade: tática e sobrevivência nas ruínas

Survive the Fall brilha na forma como mescla estratégia em tempo real com gestão de recursos. Controlar um squad de três sobreviventes, cada um com habilidades específicas, traz profundidade às missões de coleta e combate.

O sistema de delegar tarefas (como um personagem revirando containers enquanto outro vigia) agiliza a exploração, evitando aquela sensação de microgerenciamento cansativo.

  • Survive the Fall Gameplay
  • Survive the Fall Gameplay
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Nos confrontos, a opção de pausar e dar ordens táticas funciona bem, lembrando jogos como Wasteland 3. Stealth é viável, esgueirar-se entre arbustos ou criar distrações com pedras, mas quando o combate explode, a IA limitada dos inimigos reduz o desafio.

A escassez de munição no início força criatividade, seja usando armas brancas ou armadilhas ambientais, como explosivos e estruturas suspensas.

Ainda assim, alguns problemas de poluição visual atrapalham: ícones de interação se acumulam na tela, e a interface de inventário, funcional mas genérica, não ajuda na imersão. São detalhes que, se ajustados, elevariam a experiência de “sobrevivência tática” que o jogo almeja.

Base-Building: do caos à comunidade

Gerenciar seu acampamento é onde o jogo mais se destaca. A progressão é satisfatória: você começa com barracas improvisadas e, com pesquisa de tecnologias (usando “pontos de conhecimento”), desbloqueia estruturas como cozinhas, hortas e defesas.

Há um equilíbrio interessante entre priorizar recursos imediatos (comida, medicamentos) e investir em upgrades a longo prazo.

O ciclo dia/noite pressiona suas escolhas – durante o dia, você explora; à noite, defende a base de ataques. É uma mecânica que mantém a tensão, mas peca pela repetitividade dos ataques e pela falta de uma personalização mais aprofundada.

Designar sobreviventes para tarefas fixas (o “caçador” sempre caça, o “médico” sempre cura) simplifica demais o que poderia ser um sistema mais dinâmico.

Survive the Fall gameplay | Imagem: Toplitz Productions

Ainda assim, ver seu refúgio crescer, de um aglomerado de lonas para uma comunidade organizada, traz aquela recompensa gostosa de “casa pós-apocalíptica”.

Só faltou mais impacto narrativo: suas escolhas afetam pouco os eventos ou os moradores, que raramente desenvolvem personalidade além de suas funções mecânicas.

Mundo e atmosfera

O jogo se diferencia visualmente ao trocar desertos radioativos por florestas e pântanos tomados pela vegetação, um pós-apocalipse “verde”. Locais como o parque nacional, com aviões caídos cobertos por trepadeiras, ou as cidades em ruínas envoltas na névoa Stasis, criam um cenário melancólico e original.

A narrativa, contada via texto estático, não engaja tanto quanto deveria. Personagens como Blooper (um NPC que chama a névoa de “vento peidorrento”) divertem, mas a maioria dos diálogos é são sem propósitos e servem mais para distribuir missões.

As facções (como os Shroomers, que abraçam a mutação) tinham potencial para conflitos morais interessantes, mas não saem do muito do superficial.

Vale ou não a pena jogar Survive the Fall?

Se você busca um survival tático com uma premissa diferente e não se importa com alguns problemas de poluição visual e IA, Survive the Fall oferece horas sólidas de gerenciamento e combate.

A construção da base é o ponto alto, mesmo que simplificada, e o mundo aberto incentiva exploração. E apesar de ser mais um survival pós-apocalíptico, ele tenta (e muitas vezes consegue) traçar seu próprio caminho.

A combinação de gestão de base satisfatória, combate tático funcional e um mundo que foge dos clichês do gênero cria uma experiência sólida para fãs de survival estratégico.

A progressão do acampamento, de um refúgio precário para uma comunidade organizada, oferece aquela recompensa viciante típica do gênero, enquanto as missões de exploração mantêm uma dose saudável de tensão e descoberta. Não é revolucionário, mas é competente onde importa.

A IA limitada e alguns sistemas simplificados (como a especialização rígida dos personagens) podem frustrar jogadores que buscam profundidade tática. Ainda assim, há charme na forma como o jogo mescla influências de State of Decay e Wasteland em algo com identidade própria.

O jogo carrega as marcas de um projeto indie com ambição maior que seu orçamento. A narrativa, embora com boas ideias, raramente se aprofunda nos conflitos morais que sua premissa sugere.

Requisitos para jogar no PC | Imagem: Steam

Sendo assim, para quem está cansado dos mesmos cenários nucleares e quer um survival com personalidade, é uma aposta válida. Ele pode não ser o maior destaque do genêro, mas é um sobrevivente resiliente, assim como os personagens que controla.

Survive the Fall está disponível para PC via Steam. O jogo também pode ser encontrado em promoções frequentes na Epic Games Store e GOG.

* Review feita a partir do “media test” de Survive the Fall, enviada pela Toplitz Productions.