Luto, reconstrução e preparação

Após os eventos caóticos de “Através do Vale“, era natural esperar que o episódio seguinte adotasse um tom mais contido. “O Caminho” cumpre exatamente esse papel, funcionando como uma ponte emocional entre a tragédia vivida em Jackson e os desdobramentos futuros da trama. Apesar de sua estrutura mais lenta e contemplativa, o episódio oferece uma base sólida para o restante da temporada, assumindo o luto como elemento central e preparando o terreno para o arco de vingança de Ellie.

Logo nos primeiros minutos, o episódio mostra as consequências imediatas da morte de Joel. A dor de Tommy e a fúria silenciosa de Ellie ganham destaque em cenas impactantes, como a explosão emocional da jovem no hospital. A fotografia, com tons alaranjados de destruição e sombras densas, reforça a atmosfera melancólica. No entanto, a narrativa opta por um salto temporal de três meses logo após esse impacto inicial, decisão que pode dividir opiniões.

De um lado, a elipse enfraquece a continuidade emocional direta do trauma. Por outro, permite que o roteiro de Craig Mazin construa um capítulo mais introspectivo e melancólico, quase como um funeral simbólico. Ao invés de mergulhar imediatamente na sede por vingança, o episódio oferece à audiência tempo para absorver a perda, o que contribui para uma transição de tom mais coerente com o segundo jogo.

Luto, trauma e a escolha por um novo ritmo

Review | The Last of Us 2: O Caminho (The Path)
Reprodução: Max

O foco em Jackson e sua comunidade ocupa boa parte da narrativa. “O Caminho” explora como as pessoas se reorganizam após uma tragédia, refletindo sobre o conflito entre justiça e vingança. A dinâmica entre o coletivo e o individual ganha forma nas interações dos personagens, com destaque para Ellie e Gail. Esta última atua como uma espécie de consciência moral, com diálogos incisivos que desafiam a protagonista.

A direção de Peter Hoar reforça essa proposta com uma abordagem visual singela, que combina a aparente normalidade de Jackson com diálogos densos e complexos. A fotografia da viagem de Ellie e Dina é um dos pontos altos do episódio, belas paisagens, cortes suaves e momentos de intimidade que evidenciam a construção do relacionamento entre as duas personagens.

O episódio se distancia temporariamente do terror e dos infectados, priorizando os laços humanos. A relação entre Dina e Ellie ganha espaço, com direito a cenas de flerte, vulnerabilidade e troca de afeto. Embora o ritmo desacelerado possa frustrar parte do público, o foco no desenvolvimento emocional das personagens é um acerto, considerando especialmente a escalada de violência que se aproxima.

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Relações pessoais e a ausência da ameaça externa

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Ainda assim, há momentos de tensão pontual. Um novo grupo religioso é apresentado e rapidamente eliminado por uma facção paramilitar, introduzindo novas ameaças para o futuro. A jornada até Seattle começa a se delinear, sinalizando que o conflito está longe de acabar.

Uma das questões mais debatidas do episódio é o retrato de Tommy. Gabriel Luna entrega uma versão mais terna do personagem, o que faz sentido dado seu papel atual na comunidade. No entanto, sua passividade contrasta com a versão do jogo, e isso pode impactar o arco futuro da história. Será preciso esperar para avaliar o desenvolvimento do personagem.

Mais polêmica ainda é a dinâmica entre Ellie e Dina. Isabela Merced brilha no papel de Dina, com carisma, inteligência e frases marcantes que dominam a tela. Em contraste, Bella Ramsey tem menos espaço e um roteiro que a coloca em segundo plano. Embora sua performance emocional funcione bem, a caracterização de Ellie neste episódio a torna mais infantil e apagada, o que levanta dúvidas sobre sua presença em cenas futuras de ação.

Está chegando a hora do acerto de contas

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Apesar das críticas pontuais, “O Caminho” é um episódio fundamental. Ele oferece um respiro narrativo necessário, investe no drama humano e prepara emocionalmente o público para a tempestade que se aproxima. As sementes estão lançadas, especialmente no núcleo de Jackson, que prenuncia grandes reviravoltas e decisões morais difíceis.

Como destaca Gail em um dos diálogos mais marcantes do episódio: “Algumas pessoas não podem ser salvas”. A partir dessa máxima, o roteiro sinaliza o que está por vir, um mergulho profundo na natureza humana, em seus impulsos mais sombrios e nas escolhas que moldam o destino.