“… Espero que seja melhor que eu.” – Javier Miller
Como esperado por muitos fãs, o episódio 6 de The Last of Us, intitulado O Preço, adota uma estrutura inteiramente baseada em flashback. No entanto, em vez de se concentrar em um único evento, o capítulo costura diversos momentos ao longo dos anos, desde a infância de Joel e Tommy com o pai, Javier (interpretado por Tony Dalton, de Better Call Saul), até situações marcantes dos aniversários de Ellie. A narrativa culmina nos eventos que antecedem o ataque a Jackson, desta vez sob o ponto de vista mais íntimo de Joel.
Trata-se de um dos capítulos mais longos e densos da temporada, condensando múltiplos fragmentos do passado para ampliar o contexto emocional e o peso dramático da jornada de Ellie, após o traumático confronto com Nora. A adaptação de como Ellie descobre a verdade sobre os Vaga-lumes é especialmente eficaz, ao invés de retornar a Salt Lake City, a série opta por uma abordagem mais econômica e simbólica, mantendo o foco emocional da trama.

Uma construção narrativa ousada, mas eficaz
Embora seja inusitado inserir um episódio com essa estrutura tão próxima ao final da temporada, O Preço funciona de forma isolada como um dos melhores capítulos da série até aqui. Dirigido e coescrito por Neil Druckmann, criador dos jogos originais, o episódio reverencia seu material de origem não apenas por meio da fidelidade visual e textual, mas principalmente pela maneira como resgata os temas centrais da franquia, laços familiares, trauma, e a sobrevivência emocional em um mundo devastado.
Logo na abertura, a série mergulha em conflitos familiares e traumas intergeracionais, revelando o passado abusivo de Joel. Esses elementos ajudam a justificar, ao menos parcialmente, sua rigidez emocional e seus impulsos violentos, ao mesmo tempo que evidenciam seu desejo profundo de ser um pai e um protetor melhor. Nesse contexto, a sequência no museu funciona como um respiro, um momento de ternura e leveza que fortalece a ligação entre Joel e Ellie.
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Pedro Pascal entrega, mais uma vez, uma atuação poderosa, combinando a aspereza de Joel com um toque de doçura que raramente se vê no jogo. Bella Ramsey também brilha em cena, mostrando carisma, sensibilidade e talento cômico, especialmente quando o roteiro colabora. Assim, momentos como a cena do violão, os diálogos no museu e a recriação do sonho de Ellie de ir ao espaço são conduzidos com delicadeza pela direção de Druckmann, permitindo que o relacionamento entre os personagens respire e cresça diante do público.
Apesar da suavidade desses momentos, a tensão nunca desaparece completamente. Além disso, o distanciamento emocional entre Joel e Ellie vai ganhando espaço até explodir em uma sequência impactante com a participação de Eugene (Joe Pantoliano). A revelação central do episódio é apresentada como um evento espelhado, uma solução inteligente que evita a repetição da jornada até o hospital e reforça o caráter trágico do enredo.
O peso da verdade e o legado de Joel
A morte de Eugene é uma das cenas mais intensas do episódio, mesmo sem a presença de infectados. A maneira como Joel oferece conforto nos momentos finais é melancolicamente bela e reforça seu lado mais humano. Em seguida, a mentira contada por Joel a Ellie, e a ausência de remorso, preparam o terreno para um dos melhores diálogos da temporada. A sequência do “penúltimo encontro” entre os dois é comovente e agridoce, funcionando como uma despedida emocionalmente satisfatória antes da chegada dos eventos devastadores que se aproximam.
Ainda que fosse ousado permitir que Ellie carregasse um sentimento de culpa, a série opta por uma despedida esperançosa entre os dois, o que, ironicamente, intensifica o impacto emocional da morte de Joel. O episódio, como o próprio título sugere, trata do custo de decisões e ações. E agora, esse custo recai sobre Ellie.

“O Preço” é um episódio maduro, sensível e carregado de simbolismo. É uma ode às melhores qualidades de The Last of Us como franquia, combinando fidelidade ao material original com adaptações inteligentes e emocionantes. Com dramaturgia de alto nível, performances memoráveis e direção cuidadosa, o episódio se destaca como um dos pontos altos da temporada, e como uma despedida digna para Joel e Pedro Pascal.
O capítulo final tem a difícil missão de encerrar essa jornada com a mesma profundidade. Há motivos para preocupação quanto ao ritmo e à execução do desfecho, mas até aqui, a série mostra pleno domínio do que quer contar.
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