Na semana passada falamos sobre um filme de terror lovecraftiano com tempero brasileiro. Hoje falaremos de um filme de terror que mistura palhaço com possessão demoníaca: Clown.
Clown (2014) é um filme de terror dirigido por Jon Watts, com roteiro assinado por ele em parceria com Christopher D. Ford. A produção executiva ficou nas mãos de Eli Roth, conhecido por seu trabalho em filmes como O Albergue e O Canibal. Estrelam o filme Andy Powers, Laura Allen e Peter Stormare.
Clown começou como uma brincadeira e virou praticamente um pesadelo, tanto no enredo quanto na produção. O diretor Jon Watts (Homem-Aranha com o Tom Holland) e o roteirista Christopher Ford criaram um trailer falso de um filme chamado Clown, colocando o nome de Eli Roth (Bastardos Inglórios) como produtor, sem ele saber! A jogada foi tão ousada que o próprio Roth viu, curtiu, e resolveu produzir de verdade.
O filme foi teve lançamento em 2014 na Itália, mas só chegou aos EUA em 2016, porque ficou preso num limbo de distribuição.
A história de Clown
Kent McCoy é um homem comum: pai amoroso, marido dedicado e corretor de imóveis trabalhador. Ele vive uma vida tranquila com sua esposa Meg e seu filho Jack, que está prestes a completar sete anos. Tudo está preparado para a festinha de aniversário: bolo, presentes, amigos da escola, só falta o palhaço. O animador contratado cancela em cima da hora, e o desespero bate, mas Kent encontra uma solução inusitada ao descobrir, por acaso, um velho traje de palhaço guardado em uma das casas que está vendendo.
Como um bom pai, ele veste o traje e faz a alegria das crianças na festa. A brincadeira, no entanto, vira um pesadelo grotesco.
No dia seguinte, Kent tenta tirar a fantasia e não consegue. O nariz falso está grudado à pele. A peruca não sai. A roupa parece fazer parte do corpo dele. Com o passar dos dias, seu corpo começa a se transformar. A pele se torna mais pálida e áspera, os dentes crescem em presas irregulares, o apetite muda e Kent percebe que está literalmente se tornando um monstro.
A entidade ancestral Clöyne
Mas não é só uma maldição visual: a roupa carrega consigo o espírito demoníaco de uma entidade ancestral chamada Clöyne, a origem obscura e monstruosa da figura do palhaço. Segundo antigas lendas nórdicas, o Clöyne era uma criatura usada para entreter as crianças até que passou a devorá-las. A cada geração, ele retorna ao mundo ao possuir quem veste sua “pele”, o traje amaldiçoado.
Kent se desespera em busca de ajuda, consultando especialistas, pesquisando na internet e até rastreando um homem misterioso chamado Herbert Karlsson, que já enfrentou o Clöyne no passado. Karlsson revela a verdade mais terrível: a única maneira de se livrar da maldição é alimentar o demônio com cinco crianças inocentes, uma para cada sentido humano. Só assim o Clöyne poderá ser liberto do corpo de Kent ou consumi-lo de vez.
A partir daí, o filme se transforma num jogo tenso entre a razão e o instinto. Kent luta contra a fome incontrolável, se isola da família, tenta cometer suicídio de várias formas e falha. A roupa o protege, o Clöyne não deixa. Sua esposa Meg, ao descobrir a verdade, entra em um pesadelo pessoal, tentando impedir o marido de se tornar um assassino ao mesmo tempo em que luta para salvar o próprio filho, que pode ser o próximo na lista da criatura faminta.
Um filme pesado e angustiante
Com uma atmosfera sufocante, cenas brutais e uma espiral de desespero crescente, Clown é uma jornada angustiante pela perda de controle, a desfiguração da identidade e a fragilidade da moral humana diante de uma maldição antiga e cruel.
Para quebrar a maldição Clöyne precisa devorar cinco crianças inocentes, uma para cada sentido humano (visão, audição, tato, paladar, olfato). Ou seja, mostra como o demônio se alimenta da pureza humana. A própria infância é o alvo, ou seja, a inocência é o que está em jogo. É como se o filme dissesse: ao se deixar corromper, você destrói tudo de puro à sua volta, até o seu próprio filho, se não cuidar.
A fotografia é de Matthew Santo, com trilha sonora composta por Matt Veligdan, e o design de maquiagem e efeitos práticos é um dos pontos altos da produção, realçando o horror físico e psicológico da transformação central. Lançado originalmente em 2014, o longa é uma produção norte-americana distribuída pela Dimension Films, com aproximadamente 100 minutos de duração e classificação indicativa para maiores de 18 anos, devido ao conteúdo gráfico e temático pesado.
Curiosidades
- Não existe lenda real do Clöyne, ele foi totalmente criado pelos roteiristas, como se fosse uma criatura do folclore nórdico ancestral, para dar uma ideia “maldição antiga”. Muita gente acredita até hoje que a entidade veio de mitologia real.
- O traje amaldiçoado do palhaço foi montado com peças e tecidos de fantasias velhas, sujas e desgastadas, propositalmente, para parecer um item antigo e perturbador. A aparência nojenta da fantasia foi reforçada com sujeira, gosma e até tecido emborrachado que grudava na pele do ator.
- Quase toda a transformação do protagonista foi feita com maquiagem e próteses, ao estilo clássico de body horror. O diretor queria evitar CGI para tornar a metamorfose mais visceral e realista. Resultado: horas e horas de maquiagem por dia, especialmente nas fases mais avançadas da “clownificação”.
- Clown foi rodado em apenas 24 dias, com um orçamento relativamente baixo.
- Existe um final alternativo no roteiro original, muito mais sombrio e sem nenhuma esperança — onde o Clöyne simplesmente vence e continua possuindo novos corpos. Mas os produtores acharam que ia ser “sombrio demais até pro Eli Roth” e optaram por uma versão um pouco mais aberta.
- Durante as filmagens, o ator Andy Powers (Kent) vomitou de verdade em uma cena de transformação, por causa da claustrofobia causada pelas próteses e calor do set. E o diretor manteve a cena! Porque ficou mais real. Clássico do terror raiz.
Agora que sabe um pouco mais sobre o filme, bora assistir? E depois me conte o que achou do filme!
Por fim, Clown não está disponível no momento nas plataformas de streaming.
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