Na semana passada falamos sobre um filme de terror que mistura palhaço com possessão demoníaca. Hoje falaremos de um filme de terror que mistura investigação policial, lenda urbana e horror metafísico: O Mensageiro do Último Dia.
Lançado em 2020, O Mensageiro do Último Dia (The Empty Man) é uma joia sombria do terror sobrenatural que passou despercebida por muitos. Com roteiro e direção de David Prior, o filme é uma adaptação livre da graphic novel homônima publicada pela BOOM! Studios, escrita por Cullen Bunn. Com uma duração de 2h17, o longa aposta num ritmo lento para construir uma narrativa que mistura investigação policial, lenda urbana e horror metafísico.
Estrelam O Mensageiro do Último Dia James Badge Dale, Marin Ireland, Stephen Root e Sasha Frolova. A trilha sonora, é de Christopher Young e Lustmord, e contribui para mergulhar o espectador numa espiral de paranoia, cultos secretos e o vazio existencial que habita entre os mundos.
Um lançamento turbulento
Embora tenha sido filmado originalmente em agosto de 2017, O Mensageiro do Último Dia enfrentou um destino turbulento nos bastidores. Após obter pontuações baixas nas exibições de teste, a 20th Century Studios, já em processo de fusão com a Disney, perdeu a confiança no potencial comercial da obra. Como resultado, o lançamento foi adiado por anos e, quando finalmente chegou aos cinemas em 23 de outubro de 2020, o longa foi praticamente ignorado, tratado como uma espécie de “resto” do estúdio. Segundo o próprio diretor David Prior, o filme lançado ainda era uma versão bruta, sem o acabamento que ele imaginava.
A recepção inicial foi majoritariamente negativa, tanto da crítica quanto do público, com muitos não sabendo exatamente o que esperar. No entanto, com o tempo, e especialmente após seu lançamento em mídia doméstica e streaming, O Mensageiro do Último Dia começou a conquistar um status cult, sendo reavaliado por sua ambição temática, atmosfera densa e abordagem incomum dentro do gênero.
A história de O Mensageiro do Último Dia

O filme começa com um prólogo enigmático ambientado nas montanhas do Butão, onde um grupo de alpinistas se depara com uma entidade antiga e inquietante. Esse trecho inicial, que mais parece um curta à parte, planta as sementes de algo muito maior e muito mais sombrio. Cortando então para uma cidade americana nos dias atuais, o filme passa a acompanhar James Lasombra, um ex-policial solitário e atormentado pelo luto, que se envolve na investigação do desaparecimento de uma adolescente ligada a um misterioso culto urbano. A conexão entre esses eventos distantes no tempo e no espaço é o que move a narrativa para caminhos cada vez mais obscuros e inesperados.
Ao mergulhar mais fundo nesse desaparecimento, Lasombra começa a descobrir uma série de símbolos, relatos e coincidências que giram em torno de uma figura lendária conhecida como “The Empty Man”. Dizem que se você assoprar uma garrafa em uma ponte abandonada, ele virá até você em três dias. O primeiro dia, você o ouve. No segundo, você o vê. No terceiro… bom, ninguém volta para contar. O problema é que isso pode ser só a superfície de algo muito mais profundo, envolvendo fenômenos paranormais, manipulação psíquica, cultos esotéricos e a tênue fronteira entre realidade e delírio.
Aos poucos, o filme abandona a investigação tradicional e mergulha em um terror metafísico, onde o protagonista se vê cada vez mais envolvido em uma rede de acontecimentos que desafiam a lógica, a ciência e a sanidade.
O medo como entidade viva

O Mensageiro do Último Dia brinca com a percepção, com o tempo, e com a ideia do medo como entidade viva. O que parecia uma simples lenda urbana se revela um quebra-cabeça de dimensões cósmicas, onde o próprio espectador é convidado a duvidar do que vê. É um terror que vai além do susto, ele inquieta, desconstrói e permanece com você muito depois dos créditos finais.
A mensagem do filme vai muito além do susto ou da história de culto. É uma meditação sobre o poder da crença, o papel do medo e a fragilidade da identidade. O filme questiona o que acontece quando deixamos que ideias externas ocupem o lugar do nosso eu, quando cultos, traumas, filosofias extremas ou entidades antigas tomam forma através da fé cega. O “Empty Man” não é só um monstro ou entidade: ele é o símbolo do que preenche o vazio quando a gente deixa de olhar pra dentro.
O filme possui uma energia forte do horror existencial Lovecraftiano, onde a verdadeira ameaça não é um demônio com garras, mas a possibilidade de que nada tenha sentido, e que nós sejamos só instrumentos de algo incompreensível. O protagonista, ao buscar respostas, encontra mais perguntas, e quanto mais ele tenta entender, mais sua própria noção de realidade se fragmenta. A mensagem final é desconfortável, filosófica e, de certo modo, libertadora: se tudo é vazio, o que nos resta além da ilusão?
Curiosidades
- O filme teve proução da 20th Century Fox, mas com a compra do estúdio pela Disney, o filme virou um órfão criativo. A nova gestão não sabia o que fazer com um terror filosófico de quase 2h20. Resultado: um lançamento em 2020 sem marketing, sem trailer decente e sem divulgação nas redes sociais.
- A introdução, longa e cheia de mistério no Butão, era para ser um curta independente. Mas o diretor David Prior gostou tanto do conceito que decidiu usar como prólogo. isso ajudou a dar esse ar de “cosmos maior” à trama.
- O filme é baseado em uma HQ da Boom! Studios, escrita por Cullen Bunn, mas a adaptação é bastante livre. A graphic novel tem um tom mais direto e violento, enquanto o filme abraça um terror mais existencial e filosófico.
- Surpreendentemente, o grupo de seguidores que aparece no filme foi inspirado em cultos filosófico-esotéricos reais, como a Ordem de Thule, a Church of the SubGenius e elementos de filosofia ocidental (Nietzsche, Jung, Bataille). Prior estudou essas vertentes para criar um culto que fosse verossímil, mas perturbador, focando na ideia de que “crença coletiva pode gerar realidade”.

Agora que sabe um pouco mais sobre o filme, bora assistir? E depois me conte o que achou do filme!
Por fim, O Mensageiro do Último Dia está disponível no Disney+.
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