O lançamento de um filme esperado, aquele que você passou o ano inteiro querendo assistir, deveria ser uma experiência inesquecível. Você sai de casa com antecedência para não pegar trânsito, já comprou o ingresso pela internet, pagou um valor cheio e ainda investiu em um combo de pipoca e refrigerante, porque você merece.
Chega a grande hora. A sala está cheia, as luzes se apagam, o filme começa. Mas, em vez de imersão, o público é bombardeado por conversas paralelas, risadas fora de hora, luzes de celulares e até transmissões ao vivo nas redes sociais. Alguém na sua frente se incomoda e reclama com os espectadores ao lado. Recebe em troca um olhar atravessado e a resposta: “relaxa, é só um filme”.
Essa parece ser a nova realidade dentro das salas de cinema, e tem afastado os cinéfilos mais criteriosos ou simplesmente pessoas que querem relaxar assistindo a um bom filme. A etiqueta cinematográfica parece ter sido esquecida por parte do público, ou pior, nunca ter sido aprendida por muitos novos frequentadores.
Problemas sistêmicos e recentes
Uma busca rápida na internet revela centenas de relatos de constrangimentos dentro das salas de cinema. De acordo com a ANCINE, nos anos de 2023 e 2024 o número de espectadores foi menor que em 2019, último ano antes da pandemia. Um dos fatores que pode explicar essa queda é a ascensão do streaming e todas as suas possibilidades.
No entanto, o comportamento do público também tem papel nesse decréscimo. Em casa, é comum assistir a filmes usando o telefone, mandando áudios no WhatsApp, conversando com amigos ou familiares e até brincando com o cachorro. Esse comportamento está sendo levado para dentro das salas, transformando-as em uma extensão da intimidade doméstica, e não em um espaço coletivo que exige regras. E muitas pessoas estão desistindo de frequentar os cinemas por conta do comportamento alheio.
O uso das redes sociais também pesa nessa equação. Todo mundo quer ter um post viralizado, e uma foto “exclusiva” de um frame de um filme comentado pode parecer a chance perfeita. Que falta faz um lanterninha atualmente.

Quem mais desrespeita no cinema? Será que é somente o cinema?
A ideia de que apenas os jovens atrapalham a sessão é simplista. Na prática, o desrespeito à etiqueta atravessa todas as idades, mas assume formas diferentes. Entre os mais jovens, é comum o uso constante do celular, a gravação de trechos para redes sociais e os comentários em voz alta durante o filme. Já os adultos são frequentemente vistos atendendo ligações, debatendo o enredo em tempo real e conversando com quem está ao lado.
O ponto comum entre todos eles parece ser justamente o celular, que se tornou o símbolo de uma mentalidade individualista.
Em São Paulo, uma das redes mais importantes de cinema afixou cartazes com alerta sobre comportamentos inadequados. Além disso, antes das sessões são exibidos vídeos institucionais lembrando regras básicas, como evitar o uso do celular, não filmar ou fotografar o filme, não conversar alto e não consumir comidas com cheiro forte.
O problema não se restringe ao cinema. No teatro, situações semelhantes têm acontecido. O musical Wicked, em cartaz em São Paulo, sofreu com abusos de espectadores que insistem em fotografar a peça, cantam alto fora dos momentos adequados e até gritam com os atores no palco. O incômodo foi tão grande que fãs criaram um “Manual de Boas Práticas no Teatro” para tentar frear esses excessos.
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O alerta das estatísticas e denúncias recentes
Pesquisas concretas no Brasil ainda são escassas, mas indicadores internacionais e relatos midiáticos apontam uma tendência clara: o comportamento inadequado nas salas de cinema está crescendo, segundo levantamentos e reportagens recentes.
No Reino Unido, uma avaliação publicada em 2024 afirma que a etiqueta cinematográfica atingiu um novo ponto baixo, citando conversas e uso de celular como principais vilões. O jornal The Guardian relatou casos de espectadores que usaram o telefone com a tela acesa, conversaram como se estivessem em casa e até aplaudiram em momentos de música, prejudicando a imersão.
O site Salón publicou em 2025 dicas de etiqueta cinematográfica e lamentou que uma regra tão básica, manter o celular silenciado e sem luz, pareça tão difícil para muitos. Em outro texto de análise cultural, fala-se em degradação das normas sociais, citando pessoas que assistem a vídeos no TikTok com som durante sessões ou fazem transmissões ao vivo dentro das salas.
Um pacto coletivo em risco
A experiência de ir ao cinema sempre foi marcada pelo caráter coletivo: desconhecidos reunidos em silêncio diante de uma mesma tela, partilhando emoções e histórias. Quando esse pacto se rompe, perde-se não apenas o conforto individual, mas o sentido simbólico de assistir a um filme em comunidade.
Entre celulares acesos, conversas paralelas e transmissões ao vivo, a sala escura pode se tornar apenas mais um espaço barulhento em meio à rotina. Reverter esse quadro exige campanhas educativas, regras mais claras e, acima de tudo, uma mudança de consciência.
Manter a etiqueta no cinema não exige esforço extraordinário, mas sim respeito coletivo. Algumas regras básicas ajudam a preservar a experiência de todos: manter o celular desligado ou no silencioso e nunca acender a tela durante o filme, evitar conversas paralelas e risadas fora de hora, não gravar ou fotografar a projeção (isso é crime, inclusive), escolher lanches discretos sem cheiro forte, respeitar o espaço da poltrona alheia e entrar ou sair da sala com discrição. Atitudes simples como essas garantem que o cinema continue sendo um ritual de imersão compartilhado.
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Foto de Capa: Foto de Marius GIRE na Unsplash