Quentin Tarantino é o autor de diversos filmes que marcam a atualidade. Por trás de obras como Pulp Fiction, Django Livre, Kill Bill e diversas outras, muitos consideram o cineasta como um dos maiores nomes do cinema. Entretanto, diante de tanto sucesso, Tarantino acabou se envolvendo em uma polêmica por conta de uma de suas marcas registradas: a violência. Mas afinal, que polêmica é essa?

Quentin Jerome Tarantino, ou apenas Quentin Tarantino, possui um forte currículo no mundo do cinema: diretor, roteirista, realizador, produtor, ator, diretor de fotografia e crítico de cinema norte-americano. Além disso, o cineasta já levou dois Oscars para casa, ambos de Melhor Roteiro Original.

Ao longo de sua carreira, Tarantino lançou diversos filmes com outros grandes nomes do cinema, como Brad Pitt, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, entre outros. Assim, podemos dizer que o diretor e roteirista fez sua história no cinema norte-americano ao lado de grandes figuras de sucesso.

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Imagem: Paul Drinkwater/NBC

Contudo, o sucesso de seus filmes não se devem apenas aos atores neles, afinal, lembre-se: ele ganhou 2 Oscars de Roteiro Original. Em outras palavras, um dos maiores pontos positivos de seus filmes é justamente a história que ele mesmo escreveu.

Contudo, ao longo de sua carreira, os filmes de Tarantino também são marcados por suas algumas marcas registradas de seu criador. Dentre elas, temos os discursos fortes e de impacto, cenas dinâmicas e de tensão e, claro, a violência estilizada.

Assim, tal violência já envolveu Tarantino em polêmicas e em confusões, inclusive durante entrevistas.

A polêmica pergunta que NUNCA deve ser feita a Tarantino

Desde que adotou o “estilo Tarantino” em seus filmes, tanto o diretor quanto os seus filmes são constantemente envolvidos em uma pergunta um tanto quanto polêmica: Afinal, filmes com violência podem ser gatilhos para a violência real?

Bem, no final de 2012, Tarantino havia acabado de lançar seu novo trabalho Django Livre, com Jamie Fox, Samuel L. Jackson, Leonardo DiCaprio e Christoph Waltz. O filme encheu salas de cinemas pelo mundo todo, trazendo uma temática envolvendo vingança e luta pela liberdade. Com câmeras dinâmicas, diálogos sarcásticos e fortes cenas de violência, o filme acabou sendo um sucesso.

Contudo, em 2013, o diretor participou de uma entrevista com o jornalista Krishnan Guru-Murthy. No meio da entrevista, o entrevistador lançou a tal pergunta, relacionando seus filmes a casos de violência pelo país. Mesmo se recusando a responder, o repórter ainda insistiu e pressionou mais e mais para obter a reposta de Tarantino. Dessa forma, o diretor respondeu:

Eu recuso a sua pergunta. Eu não sou teu escravo, e você não é meu mestre. Você não me vai fazer dançar a tua música. Eu não sou um macaco.

Em outras palavras, o jornalista além de jogar uma bomba no colo de Tarantino, responsabilizando-o por incentivar de violência, ainda reduziu todo o seu trabalho neste aspecto, descartando toda a história, contexto, e a produção como um todo. E para completar, não respeitou o desejo do entrevistado, pressionando-o mais e mais. Enfim, você pode conferir essa entrevista logo abaixo:

Um buraco é mais embaixo: a opinião de Tarantino sobre a polêmica

De fato, a violência é um dos elementos que compõem os filmes de Tarantino, bem como é uma de suas marcas registradas. Isso não há dúvida.

Contudo, de forma alguma os filmes do cineasta devem se reduzir a somente isso. Seria o mesmo que dizer que toda a obra de Django LIvre, por exemplo, é sobre violência, e não sobre a jornada do herói ou sobre os relacionamentos dos personagens que a constrói. O que é completamente o contrário: aqui, a violência é fruto do contexto social.

Da mesma forma, falar que produções com violência são as responsáveis por tantas mortes, é o mesmo que ignorar todas as diversas condições culturais e sociais que, de fato, causam e nutrem o problema. Ou seja, a violência é um fenômeno de razão sociocultural, que abrange contextos sociais e outros aspectos da sociedade em si.

No Brasil, por exemplo, segundo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apesar da Violência ser separada em categorias, há características semelhantes para todas quanto as suas causas. Dentre elas, se destaca a vulnerabilidade e desigualdade social, bem como questões de relacionadas a preconceitos a minorias. Isso tudo, sem levar em conta o fácil acesso a armas de fogo.

Um outro exemplo claro disso é o próprio vizinho do norte: nos EUA, há um cenário constante de mortes por armas de fogo, ocorrendo em escolas e nas ruas, por exemplo. Acusar filmes ou qualquer outra produção de gatilho para estes atos, é uma maneira superficial demais de mascarar um problema que vem bem mais de baixo. Afinal, de onde vem essas armas? Onde ocorrem tais atos? Quem são as vítimas e os atiradores?

Para além do cinema

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Imagem: Andrea Raffin

O cinema pode retratar a realidade e a fantasia, ao mesmo tempo em que questiona a vida. Portanto, culpá-lo é o mesmo que ignorar que os EUA é um dos países com as maiores taxas de compra de armas, assim como um dos países que mais registraram acidentes e mortes causadas por armas de fogo dentro de casa.

Portanto, como Tarantino já disse em outras vezes a respeito de seus filmes, suas obras são apenas fantasias e não devem ser vistas como gatilhos de atos. Afinal, em nenhum momento o diretor está forçando ninguém a cometer uma tragédia. De fato, a origem do problema é bem mais funda e o buraco vai ainda mais longe.

Dessa forma, não só Tarantino, mas o próprio cinema, muitas vezes, faz uso da violência como uma ferramenta para apontar as feridas da sociedade e abri-las, para que todo o mundo as vejam. Para que o mundo se lembre que a violência é fruto de um problema cultural e social em si. Há casos em que ela é meramente retratada na sua forma mais barbárie e gratuita sim, porém, essas representações seguem a linha de fantasia e nunca deve ser vistas como a causa do problema.