Existem muitos jogos que eu poderia usar para abordar esse assunto, porém The Last of Us Part II fez isso com tanta maestria que seria injusto não escolhê-lo. Eu também sei que faria mais sentido eu falar da representação LGBTQI+ presente no jogo. Com certeza eu teria mais lugar de fala para abordar tal assunto. Um dia quem sabe ainda vou escrever sobre inclusão de orientação sexual e de identidade de gênero, mas não hoje.
Precisamos falar sobre PCD e a representação, visibilidade e inclusão da mídia desses que assim como todos nós, são Homo Sapiens.
Vou começar falando que eu não sou uma pessoa com deficiência e que eu não serei inconsequente o suficiente para falar “eu sei” sobre qualquer coisa aqui. Eu não sei, não posso começar a imaginar, tenho comigo a empatia e a vontade de ser uma voz para poder ajudar outros Homo Sapiens.
The Last of Us Part II está sendo chamado, muito merecidamente de “o jogo mais acessível de todos os tempos”. Ele tem embutido em seu seu sistema mais de 60 opções diferentes de acessibilidade, algo até então inédito em toda a indústria de games e por isso, porém não SÓ por isso vem ganhando vários prêmios.
Poderíamos ficar horas descrevendo cada uma dessas características de acessibilidade implementadas (aqui), mas sairíamos do foco principal. O objetivo é falar o sobre o que essa inclusão significa e como ela é importante, a forma que ela se apresenta, embora relevante não nos influencia durante essa conversa e se você chegou até aqui, você sabe se gosta ou se odeia esse jogo.
Estamos falando de pessoas que conseguem ter acesso a recursos que elas amam, estamos falando sobre integração de pessoas a bens que deveriam ser de todos, não é só um artifício para “encher linguiça”. São vidas.
Em um mundo lotado de padrões, quem não cabe nas caixas geralmente é marginalizado, ignorado, esquecido, criminalizado ou às vezes apenas invisível. A mídia, governo e a sociedade em normalmente só lembram de PCD em certas ocasiões:
Caridade: É bom se sentir bem, não é? Imagina quão bem uma pessoa se sente ajudando alguém que para eles é tão miserável e digna de pena.
Discurso Motivacional: “Olha aquele guerreiro, ele conseguiu ir tão longe e só tem uma perna, e você aí com duas reclamando!”.
Cota: Olha só, demos porcentagens para fazer, agora se vira.
Embora a cota seja importante, o maior benefício da cota é a integração social de PCDs, preconceitos e ódio são resultados de ignorância e conhecer reais pessoas com deficiência é a melhor maneira de acabar com essa intolerância. Ajudando pessoas a perceberem que PCDs são… PASMEM; pessoas.
Henry Lorenzatto
Eles não são pessoas dignas de pena e não vivem esperando caridade. São uma parte ativa da sociedade que merecem respeito. Eles merecem ser vistos e verem a si próprios representados na sociedade que eles ajudam diariamente a moldar.
Existe uma escassez gigante de representatividade PCD em todos os lugares, e essa ignorância eletiva da sociedade é um problema para todos. Normaliza ódio, discriminação, aumenta a desigualdade e segregação, porem, pior de tudo incentiva o isolamento, o auto ódio e silencia vozes…
Eu me recuso e usarei esse espaço aqui para dar vozes a aqueles que sempre tiveram voz, mas em algum momento, por algum motivo esqueceram:
Esse é Steve Saylor, ele é um youtuber streamer de games, ele é cego (sigam ele aqui) e ele gravou a reação dele ao ver as opções de acessibilidade de The Last of Us Part II.
Tradução:
Tenho relutado em postar isso.
Registrei minha reação quando vi as #configurações de acessibilidade em #TheLastofUsPartII pela primeira vez, pensando que seria um vídeo divertido para a posteridade. Eu não esperava isso.
É por isso que fazemos o que fazemos.
Conversei com Adalberto Maia, Programador formado em Game Design pele Universidade FUMEC (Belo Horizonte) e PCD:
Henry: Como você se sente sendo gamer? Como eles fazem parte da sua vida para superar suas dificuldades e analisar a vida? Sobre jogos com inclusão e integração de pessoas com alguma deficiência física ou cognitiva, como você se sente quando vê ou experimenta tudo isso? Como eles te ajudam e como isso muda sua vida, tanto pessoalmente, socialmente e psicologicamente? Você se sente pertencente a algo?
Adalberto: Ultimamente tenho jogado mais para distrair a cabeça, muito FPS. Não me sinto representado em nenhum jogo, eu nunca vi um jogo com um personagem PCD pra me inspirar, mas de contra ponto eu consigo fazer nos jogos coisas que num faço na vida real como correr (risos).
Adalberto: Na infância eu sinto que os jogos tiveram uma importância maior para liberar minha criatividade, desenvolver lógica e reflexos.
Adalberto: Quando vejo jogos que entendem que ser acessível não é bondade e sim uma inclusão de um público que é pouco representado na sociedade, eu fico maravilhado, como o the last of us 2 que ganhou prêmios por isso, vi um jogador cego que se emocionou muito com a jogabilidade, e pra mim é isso, promover essas emoções para todas pessoas que jogam.
Adalberto: Gosto muito da interação que rola nos jogos online pq atrás da tela ninguém sabe da minha realidade e não sou julgado por ter uma perna a menos, na hora do jogo é tudo de igual pra igual. Não sou julgado (ou subestimado).
Jogos têm o poder de atingir tudo e todos, fazer todos nós invencíveis, ascender em empatia, nos tirar da realidade quando precisamos e fazer a gente refletir sobre ela quando necessário. Fazer de todos um herói e de nos fazer confortáveis com quem somos de verdade.
Por último, quero homenagear alguns personagens com deficiência dos games, pois mesmo com carência de representatividade, quando ela aparece, ela deve ser celebrada.