Em Tudo O Que Você Podia Ser, a trama gira em torno de Aisha (Aisha Brunno), uma mulher trans belo-horizontina que acaba de receber uma notícia que mudaria sua vida. Ao longo da trama, se fazem presentes as suas amigas mais próximas: Bramma (Bramma Bremmer), Igui (Igui Leal) e Will (Will Soares), que a acompanham neste último dia na capital mineira, antes da jornada em São Paulo.
Em uma linha tênue entre a ficção e o não-ficcional, a trama se desloca entre ações de despedida da personagem principal com suas amigas, em um universo trans. Assim, há um paralelo com cenas cotidianas, com Aisha em direção a um sonho de seguir um doutorado na capital paulista.
Roteiro sutil
O roteiro, do dramaturgo Germano Melo, que também é responsável pelo instigante As Boas Maneiras, se apresenta sutil com a pretenção de intenso. Isso porque, assim como em um dia cotidiano, é complicada a criação de uma cronologia com início, meio e fins conclusivos.
Por ser um documentário com uma janela temporal de um dia, não existem muitos recursos para a construção sólida de eventos. No entanto, a escolha de eventos sutis se faz proposital. Assim como descrito na divulgação do longa, a trama se faz na demonstração de como laços intensos se fazem. E não há nada de mais intenso em um laço do que a construção de uma rotina na qual as envolvidas se encaixam.
No entanto, a falta de eventos trouxe uma dificuldade no aprofundamento das personagens. Além de Aisha, questões particulares de cada uma foram abordadas, porém, a sensação que passa é que a citação traz um esclarecimento menor do que a não citação. Ainda, a “não conclusão ” da história traz uma sensação de falta, perda.
Direção de um universo particular
A direção é de Ricardo Alves Junior, que assim como em Vaga Carne e Elon Não Acredita na Morte, criou o universo de ‘Tudo O Que Você Podia Ser’ como único. Assim, não se vê muita interação das pessoas envolvidas na obra com personagens externos, apenas com a mãe de Bramma.
Nota-se as escolhas do diretor de apresentar as sutilezas das emoções das personagens, assim como a intensidade delas em momentos de euforia, como a grande despedida de Aisha em uma comemoração na balada. Em paralelo à direção, a atuação das atrizes se faz intensa ao mesmo tempo que sutil, com a apresentação clara de 24h na capital mineira.
Ainda, a construção imagética permite uma visualização clara do que se quer. Sempre, as personagens eram vistas juntas no plano. Isso demonstra uma união e uma lealdade das quatro no grupo. Além disso, permite com que o espectador compare inconscientemente com a expectativa de um novo cenário em São Paulo.
Vale a pena assistir “Tudo O Que Você Podia Ser”?
Em referência à canção do Clube da Esquina, Tudo O Que Você Podia Ser é uma ode à liberdade e ao não esquecimento com o passar da vida. Se você gosta de tramas calmas, sem muitos eventos, que valorizam a calmaria e o universo de possibilidades da vida, este filme é para você.