Turma da Monica jovem e sua inspiração nos animes e mangás

Você sabia que os quadrinhos de Turma da Mônica Jovem têm inspiração em animes e mangás? Além de se basear no formato dos mangás para a composição das HQs, há diversas referências a animes nas edições. Animações como Naruto e Sailor Moon são algumas das que receberam homenagens nesses quase vinte anos de trajetória. Hoje, você irá conhecer algumas dessas referências que enriquecem as histórias da turminha do bairro do Limoeiro!

Tuuurma da Mônica em: Death Note?

Quem aí sacou a referência? Nas edições nº 23 e 24 da Primeira Série, foi construída toda uma narrativa inspirada em Death Note (2006 – 2007). No anime, Light Yagami, um estudante do ensino médio, descobre um caderno sobrenatural chamado Death Note, com o qual pode matar pessoas ao escrever os nomes nele, enquanto visualiza mentalmente o rosto de alguém que quer assassinar. Por analogia, em “O Caderno do Riso” Cebolinha está cansado do mau humor de seus colegas, e ao encontrar um caderno misterioso, começa a usar o objeto, fazendo testes com ele.

Com isso, ele logo percebe que, ao escrever o nome de alguém no caderno, a pessoa vai rir de gargalhar. Nessa aventura, Cebola tem a orientação de Ângelo (o Anjinho cresceu!), o “guardião do caderno” que ama maçãs. Conforme o enredo, dá para notar que Ângelo seria a versão de Ryuk, o shinigami que acompanha Light no uso do Death Note. Do mesmo modo, Cebola é o Light, o professor Licurgo é o L e a Denise é a Misa Amani.

Assim como Death Note traz a discussão acerca de justiceiros e do que é moralmente aceitável, Turma da Mônica Jovem possibilita uma reflexão sobre livre arbítrio e liberdade de expressão. Isso porque Mônica rapidamente percebe que há algo de errado com as crises de riso das pessoas, e que ainda que isso traga algumas vantagens, no geral elas estão sendo impedidas de expressar suas verdadeiras emoções. Dessa forma, ela decide impedir o “Grande Palhaço”, que é como estão chamando quem desencadeou essa confusão.

Um adendo curioso é a alusão a Sailor Moon, que acontece quando Mônica aparece brevemente vestida como sailor ao declarar “Isso eu não posso perdoar!”, caracterização com a qual já esteve antes, em outra edição que faz menção ao desenho, que você verá abaixo.

Sailor Mônica e Cascão da Vila da Folha Seca

No volume nº 13 da Primeira Série, intitulado “O Dono do Mundo”, somos apresentados ao mundo dos jogos de RPG online. Os personagens entram no game “World of AnimeCraft”, que nitidamente é uma referência ao videogame World of Warcraft. Como resultado, os protagonistas estão no universo virtual de Endívia e podem escolher quem querem ser, seus objetivos e missões. Então, Mônica decide ser “uma guerreira mágica que luta pelo amor e pela justiça”, o que juntamente com a sua roupa remete ao anime Sailor Moon (1992 – 1993).

Bônus: o gatinho de Magali, Mingau, apresenta-se neste momento enquanto guia de Mônica na aventura, lembrando a gatinha Luna que acompanha as sailors.

Além disso, há várias outras menções às nossas amadas animações orientais: Cascão é um ninja do Clã do Presunto Ninja, da Vila da Folha Seca. Sua vestimenta lembra na hora o Kakashi, fora que ele fica o tempo todo tentando desenvolver jutsus, em uma clara menção a Naruto (2002 – 2007). Ademais, Jeremias (ou Jerê) é o Black Samurai, referência ao anime Afro Samurai, de 2007; Quim (ou Quindim para os íntimos) está caracterizado de Cavaleiro de Quim, similarmente aos Cavaleiros do Zodíaco (1986 – 2008).

Temos ainda a maior dupla de alquimistas do mundo otaku, Ed e Al, os irmãos Elric de Fullmetal Alchemist (2003 – 2010). Na tirinha, são representados por Nimbus e Do Contra, respectivamente. Ainda mais, há alusões a Dragon Ball (1986 – 1989), One Piece (1999) e Sakura Card Captors (1998 – 2018).

Leia também: Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo | Curiosidades sobre o filme 

Homenagem ao Studio Ghibli em Turma da Mônica Jovem

Não podia faltar o estúdio gigante das animações japonesas, né? Em “Coração e Garra”, a primeira edição em cores de Magali Jovem, um especial de Turma da Mônica Jovem. Confira a sinopse:

Descubra um reino secreto onde vivem misteriosos e poderosos felinos que odeiam a humanidade por maltratar os animais. Quando o rei do povo-gato aprisiona toda a Turma por isso, Magali deverá enfrentar com graça e bondade os desafios e provar que há aqueles que respeitam todos os seres vivos.

De acordo com a premissa acima e a capa, há sinais claros de uma referência a O Reino dos Gatos (2002), do Studio Ghibli. No filme, acompanhamos a história de Haru, uma garota que salva um misterioso gato de ser atropelado. Na mesma noite, a menina recebe a visita do Rei dos Gatos, que a convida para conhecer o seu reino, um lugar mágico diferente de tudo, onde os bichos falam e se comportam como gente. Haru não sabe, mas ela será obrigada a se casar com o Príncipe Lune. E mais: ela vai se transformar em uma gatinha muito simpática.

Tributo a Osamu Tezuka, o”pai do mangá moderno”

Não é segredo que Osamu Tezuka inspirou Mauricio de Sousa em sua carreira. Mauricio já deu um depoimento sobre sua relação com o famoso mestre dos quadrinhos japoneses:

De todas as influências que tive e tenho da cultura japonesa nas minhas criações, a maior delas foi do grande desenhista e mestre Tezuka Osamu, que foi o inventor do mangá, primeiro na história em quadrinhos e depois em animação. Tivemos uma relação muito próxima e trocamos muitas informações até sua morte, no fim do século passado. A própria Alice aprendeu a ler nas histórias em quadrinhos japonesas, nos mangás. Muito do que fazemos aqui brota do traço límpido do Tezuka.

Mauricio de Sousa (Entrevista à jornalista Juliana Almeida, Estilingue Filmes).

Além de todas as referências a animes em Turma da Mônica Jovem, há dois volumes especialmente com citações às obras de Tezuka. São eles os volumes nº 42, intitulado “Finalmente Juntos!” e o título nº 43, “Tesouro Verde”, da Primeira Série. Assim, nestas tirinhas a turma se reúne aos personagens icônicos de A Princesa e o Cavaleiro (1967), Astro Boy (1963) e Kimba, o Leão Branco (1995 – 1996). Logo após a reunião na primeira HQ, em Tesouro Verde todos partem para uma aventura na Amazônia, em busca de proteger a floresta do desmatamento e da destruição do meio ambiente.

Osamu se tornou também amigo pessoal de Mauricio pouco antes de falecer em 1989. Em crônica publicada nas redes sociais, Mauricio contou sobre o encontro dos dois em Tóquio, em 1984. Segundo seu relato, Osamu fez questão de receber ele e sua esposa Alice no aeroporto e até jantaram juntos, o que resultou em uma bela amizade entre eles.

Turma da Mônica Jovem: O estilo baseado no mangá

Desde o início da publicação em 2008, a notícia era que a série seria uma releitura dos personagens de A Turma da Mônica em versões adolescentes com traços, linguagem e estilo que remetem aos mangás japoneses. No final de cada edição, era colocado um aviso informando sobre a inspiração nos mangás: “Embora o mangá japonês seja lido no sentido oriental, resolvemos deixar a história com o sentido de leitura ocidental… Afinal, apesar do estilo mangá, ainda é estilo Turma da Mônica”.

Para além da paixão pelas produções orientais, Mauricio também viveu rodeado pela inspiração ao Japão. Ainda na infância, morou em Mogi das Cruzes (SP), e metade dos seus colegas de ginásio era nissei. Mais tarde, casou-se com Alice Takeda, nikkei da segunda geração de descendentes japoneses, e os filhos do casal possuem, portanto, descendência japonesa também.

Em suma, fica nítido que o escritor sempre esteve cercado da cultura japonesa, a qual incluiu tão fortemente em suas obras. Em 2019, a MSP Produções lançou uma série de animação em formato de anime baseada nos quadrinhos. A parceria para a criação foi com a Cartoon Network, que exibiu uma temporada de 26 episódios retratando assuntos comuns à adolescência.