Existem várias empresas grandes e famosas na indústria dos jogos, mas uma das que se destaca é, sem dúvidas, a Ubisoft. Contudo, a empresa tem passado por algumas dificuldades e pode ser que ela esteja em situação crítica.

Dado o modo como a Ubisoft tem tratado seus jogos nos últimos anos, fez com que ela acabasse entrando em um momento muito delicado de sua existência. Mas como a empresa dona de franquias como Assassin´s Creed, Far Cry, Prince Of Persia e Watch Dogs chegou nesse ponto?

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Imagem: Watch Dogs
Imagem: Watch Dogs

INÍCIO DE TUDO

Em 1986, a então chamada Ubi Soft, foi fundada pelos 5 irmãos Guillemot. Por alguns anos seu principal trabalho era apenas distribuir jogos de outras empresas, apensar de ter títulos próprios, mas a partir dos anos 90, quando a Ubi Soft conseguiu acordos de distribuição com grandes empresas, como a Eletronic Arts (EA), que ela realmente começou a crescer mais, se tornando a maior empresa de jogos da França.

Contudo, foi em 1995, com o lançamento de Rayman que a Ubisoft conquistou seu objetivo de se estabelecer bem na quinta geração de consoles, e dando inicio a sua história.

FIRMANDO SEU IMPÉRIO

Posteriormente, em 1996, a Ubisoft conseguiu começar a arrecadar mais dinheiro e também comprar ou fundar outros estúdios pela França e pelo mundo.

Em 2000 adquiriu a Red Storm Entertainment, dando início a saga de jogo Tom Clancy´s, jogos baseados furtividade e espionagem, em como Ghost Recon e Rainbow Six.

Em 2003 a Ubisoft Montreal lançou o que viria a ser um de seus maiores sucessos até então, Prince of Persia: The Sands of Time. Jogo amado até os dias de hoje.

Em 2004 lançando o primeiro jogo da franquia Far Cry, que iria gerar um grande sucesso e um número gigantesco de novos fãs.

Em 2007, inicialmente planejado como uma sequência de Prince of Persia, Assassins Creed. O primeiro jogo do que viria a ser uma das franquias de maior sucesso comercial da história da indústria de Games.

Como resultado, a Ubisoft, em 2009, deu início a sua própria plataforma para vender seus jogos. Uplay, que a partir de 2020 passou a se chamar de Ubisoft Connect. E também em 2011 abriu um departamento para cuidar de filmes, séries e animações das propriedades intelectuais da empresa, levando a Ubisoft a trabalhar em outras mídias, a Ubisoft FIlm & Television.

CLÁSSICOS DA UBISOFT

Imagem: Vaas - Far Cry 3
Imagem: Vaas – Far Cry 3

Logo após isso, a empresa colocou seu nome entre as maiores da indústria. Entregando jogos, das suas principais franquias, cada vez melhores e mais bem desenvolvidos, ouvindo as críticas dos fãs e da comunidade para incrementar seus futuros jogos.

Com Far Cry 2 sendo uma boa melhoria em relação ao seu antecessor, apesar dos defeitos, que foram corrigidos depois para o lançamento do Far Cry 3, o que viria a ser o melhor da franquia até então. Personagens cativantes, uma história envolvente, variação de missões, boa exploração de mapa, e claro, Vaas, que entrou direto na lista dos melhores vilões dos jogos de todos os tempos. Há quem diga que Far cry 3 seja o melhor Far Cry até hoje.

Franquias como Assassin´s Creed, que com suas sequencias, no 2 e no 3, foram ficando cada vez melhores, mais bem polidos, dinâmicos, divertidos, inovando em gameplay e terminando a trilogia de maneira espetacular.

Nesse ínterim, também lançou Watch Dogs, jogo que foca em furtividade e a gameplay era baseada em hackear o seu caminho pelo jogo inteiro. Apesar do jogo não ter sido um sucesso estrondoso, conquistou uma boa fase de fãs, além de ter inovado na ideia da gameplay de hacker. Isso tudo claro, sem contar alguns outros jogos da saga Ghost Reacon.

Todos esses jogos foram bem recebidos, tiveram seu sucesso e sua parte na história dos jogos. Porém, conforme os anos foram passando, a Ubisoft foi tomando algumas decisões que foram cada vez mais incômodas para os jogadores.

TROPEÇOS

Com mais jogos de Assassin´s Creed vindo no lançamento, cada vez com mais erros, cheios de bugs e problemas. Além de histórias cada vez menos originais, repetitivas e tediosas.

Apesar do sucesso e da certa boa qualidade e recepção dos Far Cry 4 e 5, muitos concordam que em algum momento as missões ficam muito repetitivas. E ainda sim possuindo muitos bugs e problemas durante o jogo.

Até mesmo em Watch Dogs 2 sofreu com essas decisões da Ubisoft. O jogo fez sucesso, mas a história, que era algo marcante na empresa, acabou não sendo boa. Desse modo, sendo absurdamente repetitiva, parece que não há uma boa progressão, e nem muitos personagens bem escritos e desenvolvidos. As únicas coisas que se salvam seriam o mundo, parecendo vivo, bem construído e imersivo e também com ressalvas para Marcus, o protagonista e para Wrench, provavelmente o mais amado da franquia.

Nesse sentido, a comunidade começou a cobrar mais a Ubisoft, o que parece não ter funcionado. Inclusive fazendo surgir um famoso meme “Quem quiser fazer a aula de física, pode ir embora” e depois personagens com a logo a Ubisoft no lugar da cabeça saindo correndo da escola, felizes.

INOVAÇÕES X PÉSSIMAS DECISÕES

Imagem: Far Cry 6
Imagem: Far Cry 6

Talvez em parte querendo ouvir os fãs ou por conta de querer começar a arrecadar ainda mais dinheiro, ou talvez os dois, a Ubisoft começou tentar inovar e mudar alguns de seus jogos, na esperança de recuperar o feedback positivo de seu público. Isso até funcionou, para algumas pessoas, com a chegada de Assassin´s Creed Origins (2017), mudando o estilo de jogo com elementos fortes de RPG.

Assim o jogo se tornou uma espécie de recomeço para a franquia e para a Ubisoft. Apesar de muitos não gostarem e usarem do argumento “perdeu a essência”, não há como negar que o jogo foi um sucesso, mas que infelizmente não durou por muito tempo.

Essa mesmo estratégia sendo colocada nos jogos seguintes, mas muitos outros problemas apareceram. Problemas que elaboraremos mais a frente.

Em Far Cry, leves elementos de RPG também foram adicionados nos jogos seguintes. Levemente no 5 e em peso no 6. Mas a construção de mundo do Far Cry 6 foi uma grande pedra no sapato para a Ubisoft. Com personagens esquecíveis, diálogos sem graça e um falso senso de progressão, tornando o jogo muito repetitivo e entediante.

Mas o maior tiro no pé da Ubisoft veio de outra de suas grandes franquias.

TIRO NO PÉ COM GHOST RECON

Os jogos da Tom Clancy´s sempre seguiram um padrão de serem mais lineares, mas com as recentes críticas que eles estavam sofrendo, com o lançamento de Ghost Recon: Wildlands (2017) eles novamente seguiram pela tentativa de inovação de um mundo aberto e explorável, coisa muito diferente, e de certa forma arriscada, para esse tipo de jogo. Apesar de cair no problema da repetição nas missões, o mundo aberto de Wildlands foi bem recebido e elogiado. Respeitando o legado da franquia Tom Clansy´s.

O problema veio em sua sequência, Ghost Recon: Breakpoint (2019). Prometendo a mesmo imersão de mundo que em seu antecessor, um grande investimento em propagandas, o jogo até contava com a participação do ator Jon Bernthal (O Justiceiro – Justiceiro) ou (Shane – The Walking Dead). Com todas as cartas na mão para fazer de seu jogo um sucesso, a Ubisoft tomou o que pode ter sido a pior decisão possível: Micro transações pay-to-win e até houve a presença de NFT´s no jogo. E isso ofuscou todas as novas mecânicas que o jogo trouxe também.

LEGADO NO LIXO

Essa ação acabou por matar o jogo quase que instantaneamente após seu lançamento, assim como a fan base que eles haviam construído. A ganância que existe na indústria dos jogos infectou a Ubisoft e a fez destruir uma de suas grandes franquias.

Em seguida ainda anunciaram em 2021 Ghost Recon: Frontline, colocando fogo no legado de sua franquia, anunciando o jogo como um Live Service (com espécies de passes de batalha, micro transações), uma espécie de assinatura para jogar o jogo, claro além do valor do próprio jogo. Foram feitas tantas criticas e reclamações sobre isso que o Frontline fosse cancelado e nunca chegasse a ver a luz do dia.

A partir desse ponto, os fãs da Ubisoft começaram a não só fazer críticas, mas a ficarem verdadeiramente bravos com a produtora.

PONTOS NEGATIVOS

Inegavelmente, existem pontos bem claros entre a comunidade de quais seriam os principais pontos em que a Ubisoft vem falhando cada vez mais em seus jogos, resumidamente seriam:

  • Falta de Inovação em seus jogos (no sentido principalmente nos de mundo aberto, com pouca variação de objetivos, falta de progressão, e histórias menos engajantes e esquecíveis)
  • Jogos pouco polidos, cheios de bugs e problemas no lançamento
  • Repetição de gameplay
  • Reutilização e reaproveitamento de coisas de outros jogos, preguiça na criação
  • alongamento forçado das narrativas
  • poluição visual muito grande nos HUD´s do jogo. (muita setinha, indicadores, pontos brilhantes, textos em tela)
  • A percepção do público em relação a todos esses problemas
  • Jogos muito caros (valor muito alto pra qualidade ou tamanho entregues)
bug em jogo da ubisoft
Imagem: Assassin´s Creed Unity

E tudo isso sem contar com a quantidade avassaladora de vídeo na internet falando sobre a “decadência” dos jogos da Ubisoft com o passar dos anos.

MAIS PROBLEMAS

Houveram também, tentativas radicais, que acabaram falhando, de inovação de gameplay e mecânica, como em Watch Dogs: Legion (2020), onde introduziram a mecânica que é possível tentar recrutar TODO e QUALQUER NPC do mundo para a luta contra as grandes corporações. Mas isso também foi mal feito e mal recebido pelos jogadores.

Esses problemas podem ser vistos até nos jogos que fazem certo sucesso, em vendas e de público. Como os novos Assassin´s Creed, principalmente o Valhalla (2020) sofreu com essas críticas. Jogos como “The Division” seguem o mesmo caminho.

Far Cry 6 possui apenas um bom vilão, mas toda a gameplay, história, mundo, personagens são, no máximo, medíocres. Perdendo em muito na qualidade para os jogos anteriores da saga. O flop gigantesco que foi Skull and Bones (2024), jogo de piratas da Ubisoft.

FATOR ELDEN RING

Ao mesmo tempo em que todos esses problemas atingiam a empresa, foi lançado Elden Ring (2022), um jogo Souls-like, que inovou no gênero sendo mundo aberto. A grande diferença foi a qualidade do mundo aberto de Elden Ring, com uma exploração divertida, engajante e que se encaixa com o gamedesign do jogo.

Elden Ring foi um sucesso tão grande que perfurou a bolha de seu nicho e acabou entrando em muitas outras, como da Ubisoft. E vendo um bom jogo, com um bom mundo aberto e com bom game design. Assim, as críticas e cobranças à Ubisoft ficaram ainda piores.

POR UM FIO

Em resumo, a situação da Ubisoft não é fácil. Após jogos e mais jogos sendo mal recebidos, e não sendo o sucesso esperado, além dos fãs caindo em cima da empresa, as ações da Ubisoft vem caindo. Nos últimos 5 anos está apenas em queda, e isso é um grande problema para os acionistas da empresa.

O seu ultimo lançamento Star Wars: Outlaws (2024) também não tem sido muito bem recebido, o que deixa a empresa com a corda no pescoço. Além disso também foi desfeita, não demitida, toda a equipe responsável por Prince of Percia: The lost Crown (2024) devido ao pouco sucesso de vendas.

Com todo esse peso em cima deles, talvez a sua última aposta seja para Assasin´s Creed Shadows, com previsão para 2025. O jogo já foi adiado uma vez, e já gerou alguns problemas dentro da própria empresa. Visto como está a situação da Ubisoft, não seria exagero dizer que Shadows PRECISA ser um sucesso, do contrário, o destino da gigante ficará incerto. Talvez ela venha a declarar falência ou talvez seja comprada por outra empresa.

O QUE A UBISOFT PODERIA FAZER? x PONTOS FORTES

Imagem: Assassins Creed Shadows
Imagem: Assassins Creed Shadows

Para garantir que Shadows atinja o sucesso esperado, a Ubisoft tem que repensar algumas estratégias de mercado, e voltar a olhar para o próprio jogo ao invés do lucro e do dinheiro.

Os pontos fortes, marcados na história dos jogos que fizeram da Ubisoft o que ela é hoje, se revistos com a devida atenção da empresa, poderiam fazer não só o próximo Assassin’s Creed ser bom, mas os próximos jogos também.

Assim, voltando a ter a cara do que já foi um dia os jogos da Ubisoft, que sempre foi referência. Mesmo nos jogos com mais críticas, em sua AMBIENTAÇÃO, com cenários lindos e dislumbrantes. Se ligarem isso novamente com um game design pensado tem tudo para dar certo.

Além disso também há as histórias bem feitas e construídas dos primórdios da desenvolvedora. Se eles voltarem a dar atenção a esse ponto, tem tudo para funcionar. Dar um passo para trás e tentar novamente, aproveitando as coisas boas, dos jogos da Tom Clancy´s é uma estratégia viável para a Ubisoft também.

Por fim eles conseguirão deixar a ganância e a pressa de lado? Ou será que a Ubisoft acabou ficando com seus dias contados? Apenas o tempo dirá.

Redator em experiência sob a supervisão de Levi Gois Pires