Vitória, o mais novo filme com Fernanda Montenegro, já vem dando o que falar. A obra retrata a história real de uma senhora conhecida como “Vitória da Paz” que filmou por dois anos a zona de tráfico de Copacabana, no Rio de Janeiro, a fim de denunciá-los. Mesmo sem a ajuda da polícia, a mulher contribuiu para uma investigação jornalística que conseguiu desvendar o tráfico carioca. No entanto, você sabe qual a história completa?
Vitória da vida real
Vitória na vida real se chama Joana Zeferino da Paz, uma senhora de cerca de 80 anos moradora da Ladeira dos Tabajaras, favela da Zona Sul do Rio. Em março de 2004, ela deixou na Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil do Rio um trabalho que lhe custou bastante tempo, atenção e cuidado. Durante dois anos, a senhora gravou, da janela de seu apartamento, uma movimentação criminosa que acontecia a olho nu durante todo o dia. Nas imagens, que gravou em oito fitas VHS, pode-se observar criminosos desfilando com fuzis enquanto faziam venda e consumo de cocaína, maconha e crack. Tudo isso em meio a crianças e adolescentes, enquanto recebiam tratamento de conivência dos policiais.
Então, enquanto procurava uma notícia exclusiva para o jornal de domingo, o jornalista Fábio Gusmão, do Jornal Extra, encontrou as fitas de Joana. A partir deste momento, a história se desenrolou. Gusmão, então, para entender mais sobre essa história e apurar para a reportagem especial do jornal, procurou a senhora – com quem estabeleceu uma amizade depois de muitos encontros.
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Nesse sentido, o jornalista manteve a investigação e pesquisa por cerca de um ano. Neste meio tempo, houve também um travalho de convencimento da senhora de que ele não poderia revelar sua real identidade quando a matéria fosse publicada – por isso o nome fictício ‘Vitória da Paz’. Assim, a matéria foi para os jornais cerca de um ano depois do jornalista ter encontrado as fitas, ganhando prestígio mundial uma vez que desvendou uma das quadrilhas mais perigosas da região.
No entanto, a história não ficou por aí. No dia da publicação, Joana precisou entrar no Programa de Proteção a Testemunhas, do Governo Federal. Para tal, ela precisou se mudar, saindo do apartamento no qual morava há cerca de 40 anos, e começar uma nova vida.
E a polêmica com a Fernanda Montenegro?
Quando o filme foi revelado ao público, juntamente ao protagonismo de Fernanda Montenegro, os internautas não o receberam muito bem. Isso porque, mesmo sendo uma atriz de renome, Montenegro é uma mulher branca, enquanto Joana “Vitória” é uma mulher negra. Nesse momento, surgiram debates sobre quais os motivos a produção optou por apagar a existência de uma mulher negra e escolher uma branca no lugar, levando a debates sobre apagamento e racismo.
No entanto, há uma explicação para isso. A identidade da senhora conhecida como Vitória só veio a público quando ela veio a óbito, em fevereiro de 2023, aos 97 anos de idade. Nesse sentido, durante a produção do longa, o público não sabia a real identidade da senhora.
Além disso, Joana também participou da produção do filme, sendo consultora da produção. Nesse sentido, ela concordou com a escalação de Fernanda Montenegro, uma vez que tinha um fenótipo bem diferente do seu – característica inclusive escolhida por motivos de segurança.
Assim, o filme conta com a direção de Andrucha Waddington (Casa de Areia, O Juízo) com Montenegro, com roteiro de Paula Fiuza (Sobral – O Homem que Não Tinha Preço, Paulo Casé – O arquiteto do encontro). Assim, além de Fernanda Montenegro como protagonista, o elenco também conta com Silvio Guindane (Mussum, o Filmis) e Jeniffer Dias (Terra e Paixão).
Por fim, Vitória estreia nos cinemas em 15 de agosto deste ano.