O episódio envolvendo as atrizes-dubladoras Myra Ruiz e Fabi Bang na première de “Wicked: For Good” expõe como o setor enfrenta reconhecimento limitado e precarização
A dublagem brasileira é reconhecida internacionalmente pela qualidade e pela capacidade de adaptação cultural, mas seus profissionais ainda enfrentam uma realidade de invisibilidade e desvalorização. Apesar de serem fundamentais para que o público tenha acesso a produções estrangeiras, dubladores raramente recebem o mesmo prestígio que atores, diretores e outros artistas do audiovisual.
Salários baixos, ausência de direitos autorais e a falta de crédito em campanhas promocionais são apenas alguns sintomas de uma indústria que lucra com o trabalho desses profissionais, mas pouco os reconhece.
Nos últimos anos, o avanço da inteligência artificial e o crescimento das plataformas de streaming intensificaram o debate sobre a importância da dublagem humana. Fãs e especialistas agora reconhecem o que antes viam como mero complemento técnico como parte essencial da narrativa e da emoção de uma obra.
Ainda assim, casos recentes mostram que o respeito aos dubladores está longe de se tornar regra, e o episódio envolvendo Wicked: For Good é um exemplo claro disso.

O caso Myra Ruiz e Fabi Bang na première de “Wicked: For Good”
Durante a première de “Wicked: For Good”, as atrizes Myra Ruiz e Fabi Bang, responsáveis por dublar as protagonistas Elphaba e Glinda na versão brasileira, foram impedidas de ter qualquer contato com o elenco internacional.
A decisão da produção indignou o público nas redes sociais e reacendeu um debate que vai além do evento: por que ainda tratam como secundários os profissionais que tornam o filme acessível ao público brasileiro?
O episódio escancarou uma hierarquia que persiste no mercado audiovisual. Enquanto o público reconhece e se emociona com as vozes que moldam sua experiência, os bastidores seguem ignorando esses artistas. Em um país onde mais da muitos espectadores prefere filmes dublados, a exclusão de Myra e Fabi representa não apenas um descuido, mas um desrespeito a uma categoria essencial, e historicamente negligenciada, do cinema nacional.

Exclusão e frustração
A comparação com outros países tornou o caso ainda mais evidente. Na França, por exemplo, a dubladora Mathilde de Carné, voz de Glinda nas músicas, conheceu Ariana Grande e compartilhou o momento nas redes sociais.
No Brasil, a situação foi o oposto: a ausência de espaço para Myra e Fabi causou revolta na fanbase de Wicked, que passou a comentar em massa publicações da produção, do elenco internacional e de outros dubladores, exigindo respeito ao país e às atrizes.
O público lembra que Myra Ruiz e Fabi Bang têm uma longa trajetória com Wicked: são dez anos interpretando Elphaba e Glinda em três montagens diferentes no Brasil. Muito antes dos filmes, foram elas que deram vida às personagens no teatro e criaram o vínculo emocional que hoje conecta a história ao público brasileiro.
A grande repercussão começou quando Ariana Grande cancelou sua participação no evento. A decisão já havia frustrado parte dos fãs que viajaram de outros estados para vê-la. A decisão de excluir as dubladoras foi, para muitos, “a gota d’água”.
Durante uma live feita por Fabi Bang, é possível ouvir Myra dizendo que não poderiam sequer tirar uma foto com os atores internacionais. Mais tarde, em suas redes, ambas se manifestaram sobre o ocorrido. Myra revelou ter voltado para casa chorando pela frustração, enquanto Fabi publicou um story dizendo: “Wicked nunca me fez triste. E apesar de hoje… nem hoje”.
O caso reforça um problema estrutural da indústria: a falta de reconhecimento aos profissionais da dublagem brasileira. Isso ocorre mesmo diante do carinho do público e da importância cultural de seu trabalho.
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Um reflexo de um problema estrutural
A polêmica em torno de Wicked vai além da cerimônia em si. Ela escancara uma estrutura que historicamente marginaliza o trabalho dos dubladores. Mesmo com o avanço tecnológico e a alta demanda, esses profissionais ainda não recebem o reconhecimento legal adequado.
A falta de regulamentação sobre direitos autorais agrava a vulnerabilidade dos dubladores. Além disso, o avanço das vozes geradas por inteligência artificial ameaça a arte e a emoção que apenas o trabalho humano transmite.
Ao lado de artistas, sindicatos e fãs, cresce um movimento por valorização e visibilidade. Mais do que apenas emprestar vozes, os dubladores traduzem emoções, recriam performances e constroem pontes entre culturas. O caso da première de “Wicked: For Good” não deve ser lembrado apenas como uma polêmica, mas como um marco na luta por reconhecimento de uma categoria que dá vida ao cinema para milhões de brasileiros.
Imagem de capa: Jairo Goldflus/Divulgação
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