O cinema francês me encanta de muitas maneiras. Gosto de pensar como que alguns roteiros, como é o caso de Belas Promessas, exploram bem o sentimento mais cru do ser humano.

Aqui, acompanhamos uma prefeita de uma pequena cidade. Ela e seu assistente estão tentando salvar um distrito residencial abandonado pelo poder público. Em meio a muito lixo, desordem e humilhação, os moradores não acreditam mais nas promessas e decidem se opor a um projeto de urbanização. Entre essas questões, a prefeita Clémence e seu assistente Yazid, precisam provar que a questão politica é mais importante que suas ambições pessoais.

Isabelle Huppert em Belas Promessas

Roteiro mescla drama e politica de forma harmoniosa

O roteiro de Thomas Kruithof e Jean-Baptiste Delafon mostra de forma simples o cotidiano da politica na França. Apesar de ser uma ficção, poderia muito bem ser enxergado como um documentário. Esse não é o primeiro filme que aborda os abandonos dos distritos mais pobres do país da Torre Eiffel. Quem não se recorda de “13º Distrito”? A premissa é muito parecida, porém, puxado para o drama, e não para a ação.

Gosto de pensar na perspicácia de tratar de assuntos intensos e polêmicos, utilizando recursos visuais limitados, deixando a cargo da percepção do espectador interpretar os elementos. Pequenos detalhes, como uma caneta, ou um gravador, podem guardar informações importantes, não é mesmo? Ora, aqui usei uma metáfora, da mesma forma como o filme de Thomas Kruithof usa. Elementos que parecem ser feitos para uma coisa, mas fazem outra.

Poderia estar me referindo somente a objetos, mas posso me referir também a Clémence Collombe, interpretada brilhantemente pela atriz Isabelle Huppert. Ela briga o tempo todo contra seus sentimentos, contra suas ambições. Ao mesmo tempo que ela quer resolver os problemas do povo da cidade, ela sente medo de não ter mais um proposito quando se aposentar. Ao mesmo tempo que ela se compromete com uma causa coletiva, ela se compromete com uma causa pessoal. Ou seja, a todo tempo que ela está disposta a passar por cima de tudo e de todos, ela se sacrifica em prol de uma causa muito maior.

Essas controvérsias são ilustradas a todo momento pela fotografia, que ora mostra um bairro detonado, ora mostra o palácio do governo. Ora mostra um jantar modesto na casa de um morador, ora mostra a luxuosa casa da prefeita. Ora mostra o interior moderno e simpático do interior da casa dela, ora mostra a parte de fora, toda desleixada. Essas imagens que se opõem o tempo todo em tela, dizem, sem dizer, que nada é simples e obvio quando se trata da vida como ela é.

Filme trata de temas sensíveis, mas não entra no mérito deles

E se por um lado temos um filme que aborda temas sensíveis, no fim, não temos um roteiro politico. Apesar de tratar de politica, nosso foco é entender como funciona a mente e o coração de Clémence. E entender as ações de seu parceiro de trabalho Yazid. O filme trata de lealdade, tanto para com os outros mas principalmente consigo mesmo. Podemos perceber que a intenção aqui não é se aproximar ou se conectar imediatamente com os personagens. Apesar do diretor não fazer questão de nos dar pistas sobre seus passados. Não, aqui trabalhamos com o que temos, o que nos é apresentado é o que precisamos entender, absorver. É uma história sobre uma história, sem proposito de ser perpetua.


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