Qual a importância do sonho, essa é a temática central de “Criaturas da Mente“, documentário dirigido por Marcelo Gomes. O sonho como motor da revolução humana. Esse é o mote de Sidarta Ribeiro, neurocientista brasileiro que, há 20 anos, estuda os mistérios do sonhar. Assim, em “Criaturas da Mente”, Sidarta explora como os sonhos e outras formas de acesso ao inconsciente podem transformar a experiência humana. Em sua investigação, propõe unir os saberes ancestrais dos povos originários e de origem africana no Brasil ao conhecimento científico, além de uma reavaliação científica das experiências com alucinógenos.

O documentário se inicia pela perspectiva do próprio diretor Marcelo Gomes, que durante o período em que o mundo enfrentava a Covid, passou por uma experiência. Dessa forma, a experiência resultou no projeto, além de não pode filmar, o diretor sofreu uma ausência de sonhos. Foi então, que passou a pesquisar trabalho de Sidarta Ribeiro, o que guia quem assiste durante todo o filme.

Todos nós sonhamos, ou ao menos é o que pensamos, algumas vezes não lembrando desses sonhos, outras vezes preferindo não lembrar. Nesse ponto de vista, Sidarta Ribeiro e um dos entrevistados, o psicologo jungiano, Waldemar Magaldi, conversam sobre a importância do sonho, e como nossa realidade impacta na forma que sonhamos. Sonhar oferece benefícios como aprendizado, além de ser reparador e também funcionar como guia.

Criaturas da Mente, documentário dirigido por Marcelo Gomes.

Durante os bate papos, e também as explicações de Sidarta, surgem duas informações que acabam direcionando o documentário até o fim. Primeiro termo é o que dá nome a produção, criaturas da mente, outro termo é Mente Bicameral. Ambas terminologias, tem relação com o ato de sonhar.

Afinal, o que são as Criaturas da Mente?

Criaturas da Mente, de acordo com os entrevistados, e o próprio Sidarta Ribeiro, são criaturas que vivem dentro da gente. Essa é uma relação direta com religiões de matrizes africanas e indígenas. Então, fazendo uma ligação com a incorporação de entidades, orixás e até mesmo o contato ancestral.

Isso indica como tanto o sonho quanto incorporar uma entidade, ocupam o mesmo espaço na mente, assim como, a mente pode utilizar de imagens concretas para criar sonhos. Aqui retomamos o termo Mente Bicameral, quando parte da mente comanda a outra por alucinações, auditivas e visuais. Em uma palestra, Ribeiro mostra uma pesquisa que aponta que nossa mente pode ter uma fixação, ou um foco específico que altera seu campo neural, como em um caso o ator americano Mark Hamill e figuras que se conectam com ele como o mestre Yoda do universo Star Wars. Ou seja, figuras animadas que vemos, ou imaginamos acabam por alimentar nossos sonhos.

O documentário, consegue dialogar com a ciência, e as religiões ancestrais por meio de figuras importantes, também conectando isso tudo ao cinema. Dentre os convidados estão Mizziara de Paiva, Marcelo Leite, Mãe Beth de Oxum, Mãe Lu, Ailton Krenak, Dráulio Barros de Araújo, Ana Flávia Mendonça, Gilda Gomes e Sérgio Mota Ribeiro.

Por outro lado, temos Marcelo Gomes que embarcou em uma jornada de conhecimento, ao buscar a entender como funciona o sonho, e de que maneira o cinema, criação de personagens pode ser uma bateria para carregar sua mente e para quem sabe volte a sonhar. Por isso, ele mesmo faz uma experiência com a Ayahuasca, assim como Sidarta participa de um experimento em laboratório onde ambos expandem a mente.

Produção, roteiro e fotografia

Cena de Criaturas da Mente - gravação diretor Marcelo Gomes
Reprodução / Criaturas da Mente

No entanto, não são só as palavras que remetem ao sonho, ou as conversas, mas também a estética e a sonoridade do documentário nos levam a isso. O contraste entre cenas em preto e branco, com efeitos visuais coloridos, em formas circulares e psicodélicas. Isso nos ajudam a viajar acordados para outro estado da mente, talvez mais aberto a imaginação. Em contrapartida, a trilha sonora é tranquila, passando um efeito de paz.

A direção trabalha no plano entrevista na maioria das cenas em que os participantes explicam com mais detalhes sobre o tema, mas também são adicionados imagens em terreiros em sessões de gira e também alguns rituais indígenas. Entre as imagens também é utilizado arquivo do diretor, durante as gravações e também trechos de seus trabalhos. Tudo contribuindo para narrativa.

A fotografia tem muito verde, devido às gravações em espaço aberto, lembrando que as gravações estavam no período de maior flexibilização da pandemia. Mas, também tinham muita cor, o que dava o efeito de psicodelia quando estavam abordando as sensações.

Enfim, no geral o roteiro é linear, segue uma narrativa linear com início, meio e fim, ainda assim, sendo bem poética. E também, de certa forma, bem pessoal para o diretor e também para Sidarta Ribeiro.

Documentário com temática interessante que vale a pena conferir, principalmente para quem gostaria de saber mais sobre como funciona a mente humana.

Por fim, “Criaturas da Mente” estreia em 8 de maio nos cinemas.