Após ser indicado a Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Burbank e participar da seleção oficial dos festivais de cinema de Brasília, Nashville e Cairo, o longa “Lamento”, dirigido por Diego Lopes e Claudio Bitencourt, chegou ontem (26) aos cinemas do Brasil. Protagonizado por Marco Ricca, o filme conta a história de Elder, o proprietário de um hotel à beira da falência, que deixa com que seus problemas profissionais reflitam em sua vida pessoal, abalando seu casamento e trazendo à tona antigos vícios no caminho. Enquanto isso, o homem precisa lidar com os acontecimentos misteriosos envolvendo alguns hóspedes de seu hotel.
A premissa do filme é interessante e intrigante, no entanto, a execução deixa a desejar em alguns pontos. A atuação de Marco Ricca é muito boa, porém o protagonista em si é relativamente desinteressante e não consegue cativar o telespectador o suficiente, tornando suas ações confusas e estressantes em diversos momentos, pois não é possível decifrar o que se passa em sua cabeça e não é construído um sentimento de simpatia que possa ajudar a justificar sua instabilidade e impulsividade. Os outros personagens também não são desenvolvidos além do necessário para que se apresentem apenas como coadjuvantes na história de Elder.
É perceptível que a fotografia e a trilha sonora de “Lamento” foram muito bem pensadas, se caracterizando como os pontos mais fortes da obra, na minha opinião. A paleta de cores, predominantemente composta por tons mais frios, é quebrada por tonalidades quentes em momentos pontuais da trama de maneira inteligente e estratégica. Já a técnica de jogos de luz e sombras também se faz muito presente, especialmente nos momentos mais intrigantes da história, que são complementados por uma trilha sonora que ajuda a construir a atmosfera de mistério que envolve tais partes do filme. No entanto, o acerto técnico que mais me chamou a atenção foram as cenas onde o enquadramento “torto” da tela conseguiu transparecer com precisão o caos e a instabilidade do protagonista, causando um sentimento de desespero e perturbação no telespectador, de maneira proposital e calculada.
É importante ressaltar que o filme aborda temáticas densas, como vício, alcoolismo, uso de drogas, abuso sexual, agressão, entre outros – portanto, apesar de não serem retratados de forma explícita, este não é o programa ideal para pessoas que possam vir a se sentir desconfortáveis com esse tipo de conteúdo.
Em linhas gerais, “Lamento” é um filme que possui uma premissa intrigante que poderia ser melhor explorada através de um desenvolvimento maior de seus personagens e da construção de uma narrativa mais dinâmica e menos cansativa. O grande destaque da produção é, sem dúvidas, sua direção de arte e fotografia.
Ótima crítica!!!