Animação sobre a vida de Maximiliano Maria Kolbe promete discussão sobre Fé,
mas precisa de um milagre para ser um bom filme
A fé é um fator questionável na história da humanidade, sendo desafiada nos momentos mais caóticos e violentos de sua própria história. Afinal, é diante da desgraça e do infortúnio, que buscamos ajuda. Porém, se o divino não responde à altura, então se dá início a luta entre a fé e a descrença. E é em meio a tal cenário que o filme Maximiliano Kolbe e Eu se passa, retratando a história do padre e a sua busca em trazer esperança nos momentos de dificuldade. Entretanto, a retratação de sua história não aparenta ser tão esperançosa quanto a própria.
Com o título original de Max and Me, o filme Maximiliano Kolbe e Eu é uma animação mexicana. A história segue os passos do padre polonês Maximiliano Maria Kolbe e os grandes desafios que ele enfrentou para restaurar a religião franciscana, durante o período das Grandes Guerras Mundiais, incluindo a invasão nazista da Polônia na Segunda Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo, a história do padre é contada pelo idoso e solitário Gunter, que recebe a missão de ser mentor do rebelde D.J., um jovem em plena descoberta e questionamentos da vida. Com sabedoria, Gunter ensina ao adolescente verdadeiras lições sobre amor e altruísmo. Confira o trailer do longa abaixo:
Dessa forma, o longa promete retratar a história do padre missionário Maximiliano Maria Kolbe e sua luta pela bondade e o acolhimento dos vulneráveis, além de reerguer a religião na Polônia. Contudo, fica a dúvida: o filme realmente entrega uma trama a altura da história original? Ou então, Maximiliano Kolbe e Eu é bom filme?
Duas narrativas que se conversam e a necessidade do Milagre
Retratar a história de alguém para as telas não é fácil, motivo o qual muitas produções preferem fazer um recorte sobre a história do que abordar ela em sua totalidade. O que não ocorre em Maximiliano Kolbe e Eu.
Ou melhor dizendo, o longa como um todo trabalha com duas histórias paralelas: em uma, narrada por Gunter, retrata a história do padre canonizado; enquanto na outra, na atualidade, focada em D.J. e Gunter. Dessa forma, Gunter faz a ponte para que ambas histórias se conversem e então se desenvolvam em paralelo.
A premissa é interessante, a ideia permite desenvolver ambas as histórias de modo a uma servir como inspiração para os personagens da outra. Entretanto, a execução não acerta. Aliás, para ser justo, o começo da narrativa é bem apresentado, havendo um bom diálogo entre os dois núcleos. Contudo, é diante os obstáculos que ambas as histórias começam a tropeçar e engasgar.
Diante aos tropeços, a narrativa que estava acertando, começa a ter que recorrer a métodos artificiais e superficiais, quebrando o ritmo que a história estava tomando. É uma animação religiosa, mas o uso excessivo de milagres – como o aparecimento milagroso do dinheiro para consertar uma máquina – prejudica o enredo em si. Logo, o constante uso de milagres para responder aos obstáculos materiais faz com que a trama perca a sua essência e qualidade, e comece a ficar arrastada e sem proposito.
Além disso, o abuso dos milagres para resolução dos conflitos cria incoerências na narrativa. Afinal, a fé é somente uma consequência dos milagres? Não deveria ser ela uma força íntima para encontrarmos meios e, então, superar os desafios materiais? Enfim, muitas vezes o longa cai em contradição.
A animação que clama por uma salvação
Para representar e contar a história de Maximiliano Maria Kolbe, o filme faz uso da animação digital. A ideia pode ser interessante para conquistar a atenção do público infantil, ao mesmo tempo em que a animação permite trazer parte da história que seria mais pesada e densa, de modo a torná-la mais acessível e leve ao público.
Contudo, a animação peca em sua arte. Isso porque a animação em si parece não ter sido finalizada, ficando com um parecer de rascunho ou um esboço. São personagens flutuando sob o chão, atravessando objetos ou portas passando por eles. Enfim, faltou a finalização das artes na pós-produção do longa.
Para não dizer que a animação é um desastre total, há pequenos acertos, principalmente quando a animação digital retrata desenhos, grafites ou esboços no papel. Outro ponto interessante do filme é como ele consegue trabalhar com algumas noções de fotografia, como o uso simbólico da luz e sombra e dos tons vermelhos e azuis.
Por outro lado, o longa consegue apresentar uma trilha sonora que emoldura a sua história. De fato, o trabalho com edição de som é um dos elementos de melhor qualidade, podendo vir até a contrastar com a animação de baixa qualidade.
Resumindo, a animação é um pecado no filme, que talvez nem um milagre conseguiria salvá-la. São objetos atravessando outros, corpos mal desenhados e movimentações que desafiam todas as leis da física e da existência. Em outras palavras, Maximiliano Kolbe e Eu é um filme de animação que não teve cuidado em sua animação.
Uma breve reflexão sobre a delicadeza em falar sobre Fé
Representar a fé e a religião em um filme é uma tarefa difícil que precisa haver um cuidado. A discussão sobre o assunto é delicada, podendo facilmente cair em ideias equívocas, incoerentes ou, até mesmo, descriminatórias. Assim, ao tratar o tema, a delicadeza é uma importante arma no diálogo para, então, garantir o respeito.
Ter isso em mente é importante, principalmente, ao falar de um filme cujo foco é apresentar os ideais e ensinamentos de Maximiliano Maria Kolbe. Se a essência de seus ideais era o poder do amor, além de sua devoção a Santa Maria, ou sua busca por acolher vulneráveis e a propagar a esperança, então se espera que o longa os respeite.
Entretanto, nem tudo são flores e a fé no longa se mostra como uma moeda de dois lados. Se de um lado temos a representação do homem respeitador que buscava levar esperança a todos, enquanto respeita a fé alheia, do outro temos a apresentação de menosprezo e vilanização a outras formas de pensamentos religiosos e políticos, como o ateísmo, judaísmo e o comunismo, por exemplo.
Dessa forma, como dito anteriormente, é necessário um cuidado para tratar de ideais e fé. O longa tem seus acertos ao tratar dos ensinamentos do padre, porém, peca em alguns momentos, com diálogos ou representações discriminatórias, ou desrespeitosas.
Afinal, o filme Maximiliano Kolbe e Eu vale a pena?
Com 124min de duração, a animação mexicana Maximiliano Kolbe e Eu visa homenagear a história do padre missionário franciscano Maximiliano Maria Kolbe, de modo a mostrar seus ensinamentos podem inspirar o mundo moderno.
A maneira como a história segue é um ponto de acerto do longa, isso é, trabalhando o paralelo entre a história do santo e aqueles a quem ele inspira. A ideia é boa, mas sua execução não é das melhoras, principalmente pela maneira como problemas são apresentados e logo em seguida, milagrosamente, são resolvidos. Apresentar conceitos de fé e religiosos numa obra religiosa é importante, porém, o uso excessivo de milagres para resolução de problemas banais, faz a experiência tornar-se frágil.
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Entretanto, o ponto que coloca toda a experiência em xeque é a própria animação. Além de movimentações dessincronizados ou irreais, e de fenômenos que desafiam a lógica e as leis da física, a própria arte em si não é tão agradável. Parece até que o filme foi entregue antes mesmo de estar finalizado.
Por fim, Maximiliano Kolbe e Eu promete uma experiência e uma discussão sobre fé em uma história com potencial, mas falha em sua execução, apresentando um resultado mal finalizado. Dessa forma, infelizmente, o longa precisa de um milagre para então poder valer a pena ser assistido.
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