Medida Provisória é a mais nova aposta do cinema nacional para esse primeiro semestre. Com a estreia de Lazaro Ramos na direção, filme tem um elenco de peso internacional. Tais Araújo, Seu Jorge, Alfred Enoch, Renata Sorrah, Mariana Xavier, Flávio Bauraqui, Emicida e Adriana Esteves, ou seja, um elenco de peso para um filme incrível.
É um filme baseado em uma peça de teatro chamada “Namíbia, Não!”, de Aldri Anunciação, que se passa num futuro distópico onde o governo brasileiro resolve reparar os tempos de escravidão no país. Primeiramente eles sugerem que os cidadãos de melanina acentuada possam escolher voltar para seu continente de origem. Visto que não daria certo, decretam uma medida provisória que obriga os cidadãos negros a voltarem para à África. Negros não, no filme os cidadãos que tenham a cor da pele “que lembrem mesmo de longe a descendência negra”¹ são chamados de “Melaninas Acentuadas”.
Em meio a todos os questionamentos a respeito da tal medida provisória o roteiro passeia por diversos temas complexos, e trata eles em um primeiro momento com muito humor. A divisão dos atos é muito cirúrgica, já que em um primeiro momento ouvir que a melhor forma de reparar 400 anos de escravidão seria enviar todos de volta ao continente Africano soa como uma piada. Mas claro, o debate social intenso muda esse tom para um thriller dramático e profundo.
Elenco
Com um elenco de peso assim, não pode se esperar atuações fracas, e de fato não há. Lázaro escala para o papel principal Taís Araújo, contracenando com Alfred Enoch (How to Get Away with Murder). Ambos vivem o par romântico e protagonistas das melhores cenas. Alfred, que é filho da brasileira Etheline Margareth com o ator britânico William Russel, entrega um português perfeito, com uma carga emocional e imponente, herança de suas atuações no teatro. Mérito de Lázaro, que traz para a tela do cinema vários elementos do teatro, como os monólogos e o humor pastelão.
Para esse humor, cai como uma luva a atuação de Seu Jorge. No filme ele é um um blogueiro ativista que se vê como questionador dessa medida provisória, e leva essa luta até as últimas consequências. Existem alguns momentos, entretanto, que esse humor passa um pouco do ponto, não por serem apelativos, mas pela quantidade. Faltou um pouco mais de trabalho da direção com os atores secundários, que ficaram soltos na trama.
A trilha sonora do filme é impecável e cai com uma luva no contexto e na dinâmica. Assinado por Plinio Profeta, Rincon Sapiência e Kiko de Souza, temos nomes incríveis dando som ao filme, Elza Soares, Xênia França e Liniker.
Veredito
Não resta dúvidas de que esse é mais um filme necessário. Em um país racista como o Brasil, nunca deixa de ser necessário abordar esse tema e pelas mais diversas perspectivas. Porém, apesar de abordar um tema tão complexo e importante, a entrega é muito delicada. Existe um tempo para aceitação, com tempo para indignação, com tempo para esperança. E apesar de não ter um final concretado, ele deixa margens para todas as interpretações necessárias. Porque é isso, é um filme para se debater, para se interpretar, para se colocar nos lugares daqueles que sofrem as mais cruéis desigualdades. Enfim, o filme estreia nos melhores cinemas brasileiros, vale a pena assistir.
¹ Frase retirada do filme
