O cinema japonês, conhecido por sua capacidade de capturar a beleza da simplicidade, apresenta mais uma obra-prima com “Sol de Inverno”, o novo filme da Michiko Filmes. Dirigido, roteirizado, fotografado e montado por Hiroshi Okuyama, o longa traz uma experiência imersiva, repleta de sensibilidade, onde cada elemento parece carregar a assinatura do diretor.

Sobre o filme

A narrativa nos transporta para o rigoroso inverno japonês, onde acompanhamos Takuya, um garoto de 9 anos que pratica hóquei no gelo, mas sente que não possui as habilidades necessárias para o esporte. Desiludido, ele encontra uma nova paixão ao observar o treinador Satoshi ensinando Sakura, uma jovem patinadora artística. É na pista de patinação que os três personagens se conectam, não por palavras, mas por ações, criando uma relação que transcende o esporte e explora a busca por significado e autodescoberta.

A fotografia, um dos pontos altos do filme, traduz sentimentos de maneira magistral. As luzes azuis predominam para refletir o rigor do inverno e os momentos mais introspectivos dos personagens, enquanto os tons amarelos aparecem como símbolos de esperança e alegria. Essa utilização da paleta de cores faz da fotografia um verdadeiro personagem dentro da narrativa, conferindo uma dimensão emocional que dispensa palavras. É possível, em determinados momentos, apreciar a beleza do longa apenas pelas suas cores e pelos seus sons. Inclusive, Takuya, é uma criança que não fala muito, devido a uma gagueira natural, mas ele conversa pelos sorrisos, pelos gestos e principalmente pela sua simpatia.

Hiroshi Okuyama demonstra um dom singular para criar um filme delicado, que é ao mesmo tempo, introspectivo e universal. Sua abordagem minimalista deixa claro que grandes reviravoltas não são necessárias para contar uma boa história. Em vez disso, ele opta por explorar os detalhes, as relações humanas e as pequenas transformações que ocorrem na vida dos personagens.

A Michiko Filmes lança nesta quinta-feira (16) nos cinemas SOL DE INVERNO, novo longa do diretor japonês Hiroshi Okuyama
Fotos: Michiko Filmes

Histórias não contadas

Embora “Sol de Inverno” se destaque pela sua beleza visual e narrativa tocante, algumas questões poderiam ter sido mais bem exploradas. As histórias paralelas de Satoshi, cuja sexualidade é sutilmente sugerida, e a relação familiar de Takuya são apresentadas de forma superficial. No entanto, é possível que essa falta de profundidade seja uma escolha intencional do diretor, focando no essencial: a conexão entre os três protagonistas e a transformação pessoal que experimentam.

O título, “Sol de Inverno”, é uma metáfora poderosa que remete à efemeridade da paixão e à necessidade de aceitar a transitoriedade da vida. A patinação, mais do que um esporte, torna-se uma expressão artística que conecta as personagens e revela suas vulnerabilidades e sonhos.

Vale a pena assistir?

Para os amantes de um cinema contemplativo, “Sol de Inverno” é uma experiência indispensável. Mais do que uma história, é um convite para refletir sobre a beleza da simplicidade, o impacto das conexões humanas e o papel transformador da arte. Este é um filme que pede para ser visto na tela grande, onde sua fotografia deslumbrante e narrativa envolvente podem ser plenamente apreciadas. Um verdadeiro poema visual que marca a singularidade do cinema japonês.