Vermelho Monet é o filme brasileiro cult que estávamos esperando. Protagonizado por Maria Fernanda Cândido, a obra enfatiza as relações humanas em relação à memória, tensão, amor e poder de uma maneira única e poética. Tudo isso com a linguagem se alternando entre português, francês e inglês.
Relações centralizadas na personagem de Maria Fernanda Cândido
O filme gira em torno da personagem de Cândido, Antonielle, uma intensa curadora de arte. Antonielle é uma mulher instigante. Isso porque, ao mesmo tempo que define obras em galerias de arte e as movimenta no mercado dos pintores, ela consegue manter a narrativa sob os seus desejos e interesses.
Além de Antonielle, nos são apresentadas três figuras interessantes. Primeiro, o casal formado por Johannes Van Almeida (Chico Díaz), um pintor à beira da desistência do mercado artístico em razão de uma condição ocular, e Adele (Gracinda Nave), uma enigmática mulher ruiva que enfrenta a demência.
Na sequência, nos é apresentada Florence Fizz (Samantha Heck Müller), uma atriz brasileira iniciante nos palcos portugueses. A personagem, assim como Adele, é ruiva, com o tom suave de Vermelho Monet. A cor de seus cabelos é o que une sua história com a de Johannes, uma vez que a única cor que ele consegue distinguir do preto e do branco é esse tom de vermelho. Uma característica carregada de memória, saudade e intensidade.
No entanto, a história de Florence não se torna intrinsecamente ligada somente aos Van Almeida. Ao longo do desenvolvimento da trama, a personagem se envolve romanticamente com Antonielle, que se transforma em uma pivô entre a jovem e o namorado português. A partir do primeiro momento entre as duas, a trama se transforma em uma dança de dominação, com Florence lutando para se desenvolver em meio a quem tenta manter o poder sob ela.
Poesia, paralelos e pinceladas
Vermelho Monet é um filme para quem gosta de histórias lentas, contadas nos mínimos detalhes sem uma cronologia perfeita. A orquestra do roteiro, da direção e da fotografia leva o espectador a uma obra de arte visual. Assim, as cenas são construídas a partir de paralelos e de flashes de memória dos personagens, de maneira que a construção das narrativas não se dá de forma completamente linear. Então, a formação da história do casal Van Almeida, por exemplo, preenche a narrativa de uma maneira interessante, sobre os quais nos são apresentados diversos flashes de quem eram e do que deixaram de ser.
Além disso, uma característica interessante do filme é a construção dos diálogos. Alternados entre português, francês e inglês, a depender dos personagens em foco, as conversas se assemelham a poemas, que vêm em camadas, como pinceladas em uma pintura. Em razão disto, alguns momentos se tornam um pouco difíceis de compreender pela complexidade dos termos e diálogos. No entanto, não é algo que atrapalhe a experiência do longa. Muito pelo contrário: a torna ainda mais instigante.
Referências artísticas na fotografia
Ainda, vale ressaltar a grandiosidade da fotografia de Vermelho Monet. Por se tratar de um filme sobre arte, não deixa a desejar. O filme traz diversas referências de pinturas importantes na história da arte, como Os Amantes, de René Magritte, e, é claro, Impressão, nascer do sol, de Claude Monet. Esta última sendo a referência para o título e para o desejo que cercam todos os personagens do longa.
Vale a pena assistir “Vermelho Monet”?
Por fim, chegamos ao questionamento se “Vernelho Monet” vale o nosso tempo. Se eu fosse você, não perderia essa obra do cinema nacional. É um filme intenso, instigante, e literalmente lindo de se ver. Como se, a todo tempo, o espectador estivesse admirando uma galeria de arte ao invés de um simples longa-metragem.