No dia 26 de setembro comemora-se o Dia Nacional do Surdo, data de grande importância, que visa o combate ao preconceito e busca a maior inclusão e respeito a pessoas com alguma forma de deficiência auditiva, inclusive no cinema. O dia não é uma escolha aleatória, afinal, segundo o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), foi no dia 26 de setembro de 1857 que inaugurou-se a primeira escola para surdos no país. Dessa forma, ao longo destes 166 anos, como será que anda tal inclusão? Será que podemos encontrá-la em filmes e séries?

A luta pelas melhores condições sociais e dignidade a pessoas surdas vem de longa data. Segundo os dados divulgados pelo IBGE em 2019, cerca de 2,3 milhões de brasileiros apresentam algum grau de surdez ou deficiência auditiva. Esse valor se refere a 1,1% da população brasileira, não apresentando diferença entre gêneros o etnias.

Aliás, único diferencial que a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) apresentou foi referente a própria idade. Isso é, quanto mais avançada, maior o número de indivíduos surdos. Outro fator que também se mostra presente no estudo refere-se a escolaridade: “quanto maior o grau de escolaridade, menor a parcela de pessoas com deficiência auditiva compondo o grupo”.

Portanto, com esses números em mãos, fica mais claro a necessidade de movimentos a favor da inclusão dos surdos em diferentes meios e nichos. Logo, o cenário de filmes e séries não seria diferente.

Inclusão em Filmes e Séries

A indústria cinematográfica tornou-se mais inclusiva de uns anos para cá. Com isso, vários filmes e séries já possuem atores ou atrizes surdos em suas produções, intensificando assim a importância dessa inclusão nesse meio. Essa representatividade no cinema é de extrema importância para comunidade surda. Dentre os atores e atrizes, é importante se lembrar de momentos importantes que facilitaram a sua inclusão

Lauren Ridloff

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Foto: Gage Skidmore

Um exemplo da inclusão efetiva e ativa é da atriz Lauren Ridloff (Eternos). Afinal, ela foi a primeira pessoa surda a atuar no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), interpretando a personagem Makkari. Enquanto nos quadrinhos, Makkari é um homem cis e branco, o estúdio da Marvel entendeu que Eternos seria uma ótima oportunidade de inclusão, trazendo então a Lauren Ridloff como forma de representatividade da comunidade surda. Além disso, vale lembrar que Lauren Ridloff também já trabalhou em The Walking Dead e Sound of Metal.

Estratégias de inclusão

Em uma entrevista para a Variety, a atriz revela como se sentiu frustrada em uma cena de Eternos, ao qual ela não olhou para a câmera, pois não captou o início do “ação”, da diretora Chloé Zhao. Com isso, Angelina Jolie sugeriu para que uma pessoa da equipe usasse um apontador laser para sinalizar quando a cena estava começando. Essa ideia foi tão bem recebida pela Lauren que desde então ela adotou essa prática em outros projetos: 

Sempre que vou filmar ‘The Walking Dead’, uso uma caneta laser. Quando a câmera começa a rodar, o intérprete apenas move a caneta laser em um círculo e, em seguida, ela desaparece, então eu sei que é quando estamos gravando

Lauren Ridloff para a revista Variety

Chris Kenopic

Outras grandes produções também contam com atores surdos em seu elenco. Como por exemplo a série Ginny e Georgia, produzida pela Netflix. Na série, o qual o personagem Clint Baker, pai do Marcus e Maxine, é interpretado por Chris Kenopic, que assim como o seu personagem, também é surdo.

Portanto, na série é apresentado o cotidiano de uma família ouvinte com uma pessoa surda. Mostrando assim a comunicação através da língua de sinais entre os familiares. A série teve um técnico lateral para ensinar a ASL (Língua de Sinais Americana) ao elenco, como também contou com a ajuda do próprio Chris Kenopic, ensinando a todos o alfabeto e alguns sinais. 

Keivonn Woodard

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Outra produção de grande sucesso que incluiu uma pessoa surda em seu elenco foi The Last of Us. A série baseada no jogo também é uma série inclusiva, ao qual no episódio 5 conhecemos o ator Keivonn Woodard, de 10 anos, que que vive o personagem Sam, sendo ambos surdos. 

No game o personagem Sam não é surdo. No entanto, a adaptação do jogo para a série traz o personagem como uma pessoa surda. A adição do Keivonn Woodard mostra a importância da inclusão e o crescimento de atores surdos na indústria cinematográfica. Além da sua atuação impecavel em Tha Last of US, o ator Keivoon Woodard é o primeiro ator surdo negro a ser nomiado ao Emmy, Woodard também encoraja outros atores surdos a seguirem seus sonhos na atuação. 

E no cenário nacional?

Enquanto grandes nomes já refletem sinais da inclusão no exterior, no Brasil, o avanço caminha rumo a diferentes horizontes. Diante do cenário nacional, a inclusão pode aparentar lenta, mas ainda é presente. De fato, ela é tão presente que em 2022, estreava o curta Silêncio Bruto, um filme composto por muitos surdos em seu elenco.

Dirigido por João Gabriel Kowalski, o curta apresenta Verônica (Karolina Halona), uma mulher surda acaba de chegar na cidade de Maringá, interior do Paraná, e tenta vender seu carro, mas cai em um golpe dado por dois salafrários, que conhecerão o Silêncio Bruto. Contudo, nas palavras de Kowalski em entrevista ao Tecmasters, “O filme, no entanto, mostra que Verônica não é necessariamente um alvo fácil…“.

Ainda, o cineasta deixa bem claro que o filme não tem como foco a surdez, mas sim no quão situações do dia-a-dia ocorrem para os surdos e não-surdos. O diretor também deixa claro que há as dificuldades cotidianas da surdez, mas estas somam mais ao contexto e ao cenário, do que de fato a narrativa do curta.

Assim, como já dito, o Brasil caminha em direção diferente, mas ainda busca a inclusão em si. Além do caso do curta, outras celebridades possuem diferentes níveis de perda auditiva, como o jornalista e apresentador Pedro Bial e o músico Rogério Flausino, do Jota Quest.

A importância do Dia Nacional do Surdo

Até agora, você leu o avanço e as conquistas das pessoas surdas para então serem aceitas, terem um local de respeito e dignidade na sociedade. Contudo, ainda há um longo caminho pela frente, para que a sociedade, tanto brasileira quanto em si, permita o devido espaço de equidade para todos.

Diversos estudos ainda apontam o mesmo cenário: pessoas surdas ou com algum nível de perda auditiva ainda são vítimas constantes do preconceito e da descriminalização. Ainda há olhares ou adjetivos que minimizam o outro, de modo a inferiorizar a pessoa surda. Portanto, enquanto houver quem define surdos como “pessoa incapaz” ou “inválida”, então ainda há sim um caminho a ser percorrido e um espaço a ser conquistado.

Por fim, que este Dia Nacional do Surdo seja justamente um lembrete que reflita nos dias seguintes: a necessidade pelo respeito e dignidade ao indivíduo em si. Aos surdos, que lhe hajam um espaço para ser quem queiram ser.

Matéria atualizada em 26/09/2023, às 09h48min

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