Depois de mais um intervalo voltamos com o último capítulo dessa série que me aventurei sobre abuso psicológico retratado dentro de videogames, no caso como exemplo usamos o jogo Persona 5.
Vamos começar com nosso personagem da quinta parte…
Antes de começar dois avisos
1: Essas entrevistas são relatos de pessoas reais. Embora não sejam uma pesquisa empírica, são experiências e dificuldades reais que as pessoas vivem. Por favor, não desvalidem elas e tenham respeito.
2: Essa matéria terá SPOILERS vitais da narrativa do jogo. É uma reflexão direcionada para pessoas que já jogaram, que não se importam com spoiler ou que não pretendem jogar o jogo. Não precisa de ter jogado para conseguir seguir o raciocínio.
MANIFESTO 5— ABUSO DA AUTO SABOTAGEM
Futaba Sakura — Abuso: Auto Abuso
Futaba é um caso especial, ela é diferente de todos os outros. Não vai para a escola, mas é mais inteligente e competente que qualquer um dos personagens, ela também é mais jovem, tendo entre 14 e 15 anos. Futaba é doce, nerd e engajada em pautas sociais. Ela é uma hacker famosa que usava suas habilidades para fazer justiça e expor crimes. É uma clara alegoria ao grupo Anonymous. Só que no caso dela, ela seria o grupo todo.
Futaba tem uma condição, ela é uma Hikikomori (引きこもり). Talvez você não esteja familiarizado com o termo. Deixe-me explicar pelos olhos de Futaba.
Futaba não sai de casa, na verdade, ela não sai do seu quarto faz dois anos. Ela tem medo do convívio social e do mundo lá fora. Uma pessoa com Hikikomori abdicou da vida social. Já é uma problema de saúde pública no Japão, porém em todo mundo é sinônimo de uma sociedade doente.
Essa doença ou distúrbio psicológico surgiu graças a uma imposição de comportamento cobrado pela sociedade. Estamos exigindo das pessoas algo que não é natural, a perfeição. Assim as pessoas ficam receosas das imaginárias consequências sociais e apenas se distanciam da sociedade, criando pânico de tudo que está fora de seu ambiente seguro.
É importante notarmos que a responsabilidade pelo Hikikomori é da sociedade e não da pessoa que o sofre. O quanto uma sociedade precisa oprimir o ser humano para ele simplesmente decidir não fazer parte, ter aversão e pânico dela? As pessoas precisam de ajuda e embora elas tenham que fazer esforço, o esforço tem que vir dos dois lados. O esforço da pessoa com Hikikomori cura a doença dela, o esforço da sociedade cura o Hikikomori .
A três anos a Mãe de Futaba se suicidou (supostamente). Futaba tinha 11–12 anos, em vez de apoio e carinho dos adultos, ela recebeu apenas críticas. Em uma carta de suicídio que supostos agentes do governo acharam, a mãe de Futaba teria a culpado pelo Suicídio falando que ela era uma pirralha insuportável e outras coisas terríveis. Essa carta foi lida na frente de todos os parentes de Futaba. Todos a culparam.
Devido a esses acontecimentos, Futaba se recolheu em seu mundo, em sua mente, fechou seus olhos, tapou seus ouvidos e selou seu coração de tudo que a poderia machucar. Quando não conseguia mais aguentar o aperto no coração que sentia cada vez mais claustrofóbico dentro de si, Futaba fez o que nenhuma pessoa tinha feito no jogo. Ela mesma pediu para os Phantom thieves roubarem o seu coração.
A vontade de Futaba de se apagar e auto sabotar tinha feito com que ela criasse seu próprio desejo e coração distorcidos e ela gritava por ajuda, pois não conseguia sair do buraco que tinha se colocado.
No seu palácio Futaba acreditava que ela merecia morrer. Futaba simplesmente acreditou que ela era alguém que não valia a pena, ela se culpava por coisas que estavam totalmente fora do controle dela e que ela não poderia ser responsável. Ela acreditava que ela era imprestável e que ninguém se importava com ela.
Em seu auto abuso ela se culpava inclusive pelo abuso que sofria de outras pessoas, deixou ansiedade e depressão se instalarem. Os pensamentos negativos se tornavam verdades inquestionáveis que não tinham nenhuma resposta além que ela merecia tudo de ruim que acontecia com ela.
Até que ela foi obrigada a encarar a si mesma.
PERGUNTA
Você já foi abusado por si mesmo?
Você já decidiu não olhar para dentro de si e não olhar pra verdade e acreditar no que dizem, no que dizem sobre quem você é… e assim sentir, culpa, vergonha, responsabilidade e tristeza por verdades de outros? E porventura até se excluir às vezes.
Relato 1
Com toda certeza, já me fechei e me culpei por muita coisa que passei, inclusive de todas as situações que eu sofri abuso eu me culpei por elas e me exclui. A gente acaba se anulando.
Relato 2
Eu sou meu maior inimigo uai. Acho que são os sintomas de depressão e ansiedade. Autoestima baixa, Cobrança pessoal altíssima. Gera pensamentos não positivos e essa necessidade de “se provar” pra ninguém.
Relato 3
Com frequências. a sensação de boicote e auto-sabotagem me acompanha a uns bons anos, já perdi oportunidade por achar que era boa demais pra mim, perdi pessoas por isso, eu não saia também as vezes pq não me achava bom o suficiente para aquilo. Hoje eu já não me saboto muito, graças a terapia mas e uma sensação horrível.
Relato 4
A constantemente, eu sempre me achei insuficiente e com uma “brincadeira” aqui ou outra ali pessoas falavam pra mim que eu era apenas “bonita” ou que por eu ser bonita eu era boba, ou quando fiquei loira e pessoas me chamavam de burra só pela cor do meu cabelo, isso vai só adicionando na conta. Eu já tenho costume de ficar sozinha, mas algumas pessoas não entendem então constantemente me perguntam se eu to bem e eu acabo me forçando uma felicidade fora do comum pra que pessoas notem que eu to bem e não fiquem me perguntando essas coisas constantemente e quando me encontro com pessoas que estão forçando amizade então, meu deus, eu sempre acabo me retirando do lugar. Mas nada que um psicólogo não resolva depois de alguns bons anos de terapia
Quando Futaba acordou para seu espírito de rebeldia, conseguiu enxergar, mas dessa vez enxergar de verdade e prometeu nunca mais fechar os olhos.
Ela tinha desviado seus olhos da verdade diante do choque e da dor, a verdade que ela sabia, mas que outros tentaram convencê-la do contrário para culpá-la. Tentaram imprimir nela uma falsa memória, e por muito tempo ela deixou, ela se auto sabotou. A verdade que ela sempre soube é que sua mãe a amava muito e que ela não se suicidou.
Ela deixou eles brincarem como seu coração, pois não conseguia encarar a si mesma e preferiu se esconder com medo da verdade no auto abuso.
Agora acordada, Futaba não se deixará enganar pelas vozes dos outros. Ela irá confiar em seus próprios olhos e seu coração para distinguir a verdade da mentira. Ela aceitou e aprendeu a amar quem é, a auto sabotagem jamais a tocará de novo. Ela sabe que é inteligente, bondosa, sabe seu valor e não deixará nunca mais ninguém a convencer do contrário.
Segue o vídeo do momento que o espirito de rebeldia de Futaba acordou:
Recapitulando…
Enfim, aqui nos encontramos. Passamos por 5 tipos de abusos e hoje lhes tratei o sexto.
Isso não significa que não existam outras formas de abuso. Injustiça, abusos e opressões tomam várias formas. Analisei aqui como o jogo Persona 5 retrata 6 tipos de abuso e como eles se relacionam e descrevem nossa vida no mundo fora da tela.
O anterior foi Auto abuso, ou auto sabotagem. Quem não consegue se identificar?
Quantas vezes não deixamos de fazer algo que queremos pois achamos que não merecemos, ou não somos bons o bastante? Quantas vezes não nos achamos burros, ou feios, ou fracassados e tomamos isso como verdade?
Quantas vezes não fazemos algo para nos atrapalhar porque: “não é possível que tudo esteja dando tão certo assim??” “Como ele pode amar alguém como eu?”.
Como somos tão propensos a acreditar em qualquer crítica que nos diminua, inferioriza e degrada, vinda de um estranho aceitando aquilo como uma verdade sobre quem somos ao mesmo tempo que ignoramos elogios e exaltações de pessoas próximas?
Será que acreditamos que não merecemos ser felizes? Não somos dignos de sucesso? Quando nos preparamos para a porrada, o soco não nos pega de surpresa, e assim aceitamos a auto depreciação como um porto seguro.
Não aceitamos nossas falhas como parte do ser humano e nem como um processo para o sucesso. Pois vivemos em um mundo que não aceita mais falhas.
Talvez ao mesmo tempo que uma pessoa precisa fortalecer sua autoestima, amor próprio e paz de espírito a sociedade tem que ser alterada para permitir às pessoas de acreditar que um erro não é um fim e sim um processo.
MANIFESTO 6— ABUSO DO CONTROLE
Okumura Haru — Abuso: Abuso do controle
A princesinha ou pelo menos é o que muita gente pensava de Haru, a primeira e única personagem milionária do elenco.
Haru está no último ano e de todos os personagens é a mais doce e educada. Não existe outra palavra para descrevê-la senão fina e elegante. Infelizmente isso significa que ela também é muito permissiva e que deixa os outros a controlarem como um fantoche.
O pai de Haru a trata como um objeto e ela prontamente atende como se essa fosse sua função. Dono de uma empresa multimilionária, para ficar mais rico ele decide que vai casar Haru com o filho do dono de outra companhia. Ela nada mais é que uma moeda de troca e para seu pai, ela deveria estar grata por isso.
Sem perceber que tem opção, Haru concorda com sua função, independente de estar contente com ela.
O seu suposto noivo é um sujeito desprezível que a humilha e a assedia. Ele é alguns anos mais velho que Haru e acredita que o lugar da mulher é ficar calada e ser obediente. Toda vez que Haru fala algo ou desobedece, de imediato ele explica como é Haru está errada. Independente de ele estar bêbado e com outra mulher no ombro.
Haru sabia o que fazer para ser uma “boa menina”.
Um dia Haru conheceu Morgana, ele tenta mostrar a ela como ser a dona da própria vida, do próprio destino, mas Haru já está a tanto tempo dentro de relacionamentos abusivos que sua autoestima e amor próprio estão muito defasados.
Ela já se perdeu no meio do que a pessoa que a controlava queria que ela fosse. Pedia desculpas por coisas que ela estava certa e fazia o que esperavam dela.
Dentro de um palácio quando seus relacionamentos abusivos a confrontaram ela viu, apenas aí ela conseguiu ver. O que todo mundo falava, o que para ela parecia absurdo. Ela conseguiu ver que estava em relacionamentos abusivos.
Precisou ser forçada a olhar no espelho, mas viu, e acordou para seu espírito de rebeldia.
PERGUNTA
Você já foi abusado ou oprimido pelo controle?
Em qualquer relacionamento amoroso, trabalho, familiar de amigos. Você já foi abusado por alguém querer te controlar. Te dizer o que fazer, como fazer, com quem e quando fazer? Te ditar do que gostar e quem ser. Se sentido no caso cada vez mais diminuído e sem voz, como se sua personalidade, desejos, sonhos sumissem.
E por ventura (essa não é regra) você foi convencido que o outro estava certo e você errado então é que você estava com sorte de ter essa oportunidade ou pessoa em sua vida.
Relato 1
Acredito que o que mais teve impacto na minha vida, foi em um relacionamento de uns 5 anos atrás.
Eu não percebi até já ser insuportável.
As pequenas chantagens de “você pode ir, se prefere mesmo seus amigos a mim?”, “se você acha que consegue sozinho. Eu disse que posso te ajudar”, que geralmente seguia de “mas eu te ajudei quando você precisou, você acha que é muito fazer isso por mim?”.O gelo que eu levava sempre que fazia algo que ele não achava que “era pra mim”
O mau-humor sempre que eu saía com meus amigos.Em algum momento me peguei me policiando sobre quais assuntos eu podia falar com meus amigos.
Em quais datas eu poderia sair, sem que ele ficasse chateado, o que era quase nunca.
Eu me sentia preso, culpado e sozinho. Mas ele fazia parecer que isso era minha culpa por não agir como ele queria
Terminar foi realmente como me libertar.
Relato 2
Sim. Meu último relacionamento foi um pesadelo. Eu me deixei controlar e me afastar de tudo até de mim mesmo. Perdi completamente o controle sobre minha vida. Sem voz, sem vontade. Chegou um momento que eu não escolhia nem o que jantar. Eu fui convencido que meus amigos queriam me afastar dele.
Relato 3
Acho que essa é a pergunta mais difícil que eu não vou entrar muito no assunto, mas eu sempre estive em relacionamentos abusivos por bastante tempo e eu diria que é porque eu não sabia o que era um relacionamento saudável sabendo que eu nunca tive isso em casa, tudo era a base de se você tem dinheiro, você tem poder. Apenas quando eu saí desse ciclo vicioso que eu comecei a ter relacionamentos amorosos mais saudáveis e divertidos.
Ao despertar Haru imediatamente se recusou a ser uma fantoche submissa às pessoas que até então ela desejava o amor. Percebendo que o amor que mais importa é o que ela sente por si mesma, e todos verão quem é Haru, a Haru de verdade.
Como esse é o último capítulo dessa saga, a reflexão sobre o abuso descrito que normalmente é feita na semana seguinte será feita agora.
Quem nunca teve um relacionamento abusivo? De todos os abusos que descrevi até então, esse é o mais falado nas redes sociais, nos grupos de amigos, cinema, TV, livros e muitos outros.
Mesmo com tanta referência, acharíamos que as pessoas seriam capazes de identificá-lo e para-lo. Mas essa não é a verdade e por vários motivos:
Primeiro: Na maioria das vezes que nos é exposto o abuso do controle ou relacionamento abusivo como já é conhecido, ele é exclusivamente classificado como relacionamentos amorosos. Isso não é verdade, relacionamentos abusivos podem acontecer de todas as formas, pais, amigos, colegas de trabalho, professores, alunos ou qualquer tipo de relação entre pessoas que se pode imaginar.
Segundo: É possível que o abusador do relacionamento abusivo não tenha conhecimento do abuso que está fazendo. Parece inconsistente mas ficará mais claro quando eu explicar o abuso do controle.
Terceiro: Um abuso de controle só pode acontecer se existir envolvimento emocional em pelo menos uma das partes. Quando se está envolvido emocionalmente em uma situação as decisões a percepção cognitiva da realidade cria justificativas para manter a produção do hormônio que a o relacionamento de da
Quarto: É possível que os dois sejam abusadores e os dois estejam sendo abusados. Não só isso como também é possível que ninguém esteja abusando e eles se encontram em uma situação abusiva. Nesses dois casos chamamos o relacionamento de um relacionamento tóxico.
Mas o que é o abuso do controle?
Vamos entender um pouco de relacionamentos humanos. Primeiro relacionamento humanos são fundados em guerras de poder. Isso não significa que não são saudáveis. Deixe-me pegar uma alegoria melhor.
Relacionamentos são como uma dança, uma hora um guia e um é guiado. Em relações contemporâneas que são consideradas saudáveis, existe uma constante troca de quem está guiando a dança.
Em nossa sociedade atual existe uma repulsa do modo antigo em que apenas um guiava. No caso o “homem”. Pai, marido, amigo mais confiante etc. Pois apenas um detinha o poder. Isso não gerava tanto problema pois existia um papel social que as pessoas seguiam. A mulher era esperada para ser submissa ao seu homem. Como era imposto a ela aceitar isso, a ordem das coisas não era questionada e por isso o que hoje chamamos de relacionamento abusivo, antigamente era chamado de “normal”.
Voltando a nossa dança. Definimos os relacionamentos como guerra de poder, não por questão de abuso, mas da interação entre pessoas. Exemplo, Se A convida B para ver um filme e B aceita, existiu o que emitiu a ideia (A) e o que aceitou (B). Mesmo que B concorde e queira ver um filme até mais que A.
Sempre o que emitiu a ideia é quem teve o poder e guiou. Se B decidir qual filme eles vão assistir e A aceita, o poder de guiar a dança mudou de mão. Agora voltando, se B tivesse se recusado a ver o filme, então ele teria tomado o poder da dança naquele instante, pois ao se negar a algo e escolher que esse algo não ia acontecer entre eles, B guiou a dança.
A ainda pode assistir o filme sozinho, porém nesse caso eles não estarão mais se relacionando, então essa situação sai completamente do escopo.
Essa é uma situação do cotidiano. Escolhi ela para mostrar que guerra de poder não é algo como “você não vai nessa festa e pronto” ou “para quem você tá mandando mensagem, me passa a senha”. Guerra do poder é o estado normal de um relacionamento humano e não é abusivo de nenhuma forma. Porém a guerra do poder permite o abuso e situações abusivas acontecerem e pior ainda permite pessoas que são abusivas de abusarem.
Isso não significa que você tem que o abuso tem que ser visto como a pior coisa do mundo e ele é imperdoável. Agora vou contar para vocês uma coisa que aprendi. Abuso é normal e natural, todo relacionamento vai ter uma situação abusiva uma hora ou outra. Não se desespere, ter uma situação abusiva não significa ter um relacionamento abusivo.
Quero que lembrei de algo que falei na parte dois da série:
“Todo abuso é injusto, pois abusar de alguém é tomar para si algo que é de direito do outro ou pegar mais do que tinha direito e injustiça é toda vez que alguém não goza dos direitos que deveria ter ou não recebe de maneira igualitária uma troca.”
Todos queremos controle sobre nossa vida, sobre situações sobre coisas. Em relações interpessoais uma hora a vontade do “eu” vai colidir com a do “outro” e pode acontecer um abuso. Pode ser coisas bobas como, “ só você escolhe os filmes” ou um decidir que não quer ter DR porque ele disse que não vai ter ou alguém ficar inseguro na sua posição na relação e falar que não quer mais que você converse com o ex. Dependendo da situação até você tirar um peso de si e passar pro outro pode ser abuso.
Tudo isso é abuso? SIM.
Então deveria terminar? NÃO. Tudo isso são situações abusivas, elas acontecem diariamente com a vida, às vezes são feitas sem perceber, inclusive em um relacionamento saudável, na maioria das vezes são sem perceber.
Situações abusivas não significam que seu relacionamento é tóxico e nem que o seu companheiro é abusivo. Às vezes inclusive é você que comete o abuso. São atos ou situações normais da condição humana de querer controle e poder.
Então deveria ser ignorado? JAMAIS. Toda vez que uma situação abusiva acontecer, está na hora de se impor, de falar e não aceitar o abuso, de não se silenciar. Essa é a hora de usar a comunicação e conversar sobre o porque aquilo te incomoda e porque você acha que aquilo é abusivo. Isso é muito importante pois situações abusivas sucessivas não resolvidas, podem gerar um relacionamento abusivo.
Outra coisa que acontece é um abusador ser criado pelo silêncio. Quando uma situação abusiva acontece e você não fala nada, você está normalizando aquela situação e transformando o relacionamento em um abuso e pode chegar ao ponto que quando você conversar com o abusador sobre isso ele se revoltar pois “sempre foi assim no relacionamento”.
Voltando a persona, Haru estava em um relacionamento extremamente abusivo. Diferente de situações abusivas, os abusadores que eram seu pai e seu namorado eram pessoas abusivas. Não era a situação e não era o relacionamento, eram eles e por isso o relacionamento inteiro virou um abuso.
Como eu disse antes, todo relacionamento abusivo tem que ter uma condição emocional para a manipulação acontecer. Haru amava seu pai, e tinha duas coisas que os abusadores se aproveitam: a necessidade de ser amada pelo pai e a necessidade de amar o pai.
Quando isso acontece, qualquer coisa vale a pena para ter esse amor, e isso inclui abdicar do amor próprio. Haru renunciou o autocontrole e fez o que seu pai quis. Aceitou exigências absurdas pois desistiu da vontade própria, o pai a convenceu que até nas coisas que ela estava certa, ela estava errada.
O pai a convenceu que ela é uma pessoa horrível, inútil e ela acreditou pois ela faria qualquer coisa por aquele amor. Parece que tem um feitiço pois ela estava sempre triste mas está convencida que aquela pessoa pode trazer a felicidade. Uma hora a personalidade some por completo se tornando o que o abusador projetou para ser.
Me estendi muito mais do que pretendia dessa vez, mas queria dar um adeus digno a essa série que escrevi para vocês com tanto carinho.
Obrigado por ter me acompanhado e lido até aqui, ou por ter lido qualquer um dos outros capítulos, agradeço muito o apoio e espero terem aprendido tanto quanto eu, vou deixar aqui o vídeo do despertar do espírito de rebeldia de Haru.
Termino com a mensagem: Joguem Persona 5 é um aprendizado para todas as almas.