Falar sobre representatividade em mídias de entretenimento se tornou um grande tabu, tanto para as próprias minorias, quanto para o resto da população.
Esse quadro ocorreu devido à alegação de que se está atribuindo uma agenda política à indústria de entretenimento.
Finalmente terei a chance de citar a mim mesmo, em umas de minhas publicações…
Henry Lorenzatto
….É como se as pessoas se negassem a ver jogos como uma arte e artigo cultural, com profundas influências no desenvolvimento social do indivíduo e da própria sociedade….
…Jogo é uma arte reflexiva multidisciplinar que envolve cinema, música, interação, arquitetura, sociologia, filosofia, psicologia, literatura, história, artes plásticas e muitos outros….
… Meus queridos Homo sapiens; tudo é político, inclusive jogos…
Já conversamos sobre como a sociedade e política estão intrínsecos a tudo, que não existe uma “agenda política” e sim uma política que você não concorda integrada a algo que você tem paixão. De certo já existia uma política atrelada a paixão (arte, música, esporte, games) desse sujeito anteriormente e a mudança e o debate do paradigma social o deixou inquieto.
Mas estamos metendo os pés pelas mãos.
Primeiramente, antes de aprofundar esse assunto, gostaria de definir alguns conceitos vitais para o melhor entendimento.
Vídeo game é arte. Sei que muitos discordam desse termo, permita-me explicar:
Arte é a expressão de um indivíduo, grupo ou um povo onde é relatado sua história, costumes, cultura e vivência. Muitas coisas que hoje chamamos de ciências, historicamente eram definidas como arte.
Na Grécia antiga filosofia e política eram formas de expressão de arte. A separação atual que temos entre política e artes se trata da separação do entretenimento e da política.
Existe entretenimento na arte, porém ele só engloba uma porcentagem muito pequena do que é arte. Caso você, querido homo sapiens, se interessar em história da arte, vai perceber que a arte sempre envolveu e era intrínseca a política, exemplo:
A arte gótica representava uma época em que a igreja e Deus realmente estavam acima de todos. Todos os quadros, livros, músicas e esculturas eram voltados para glorificar a Deus, quem era a base do estado e do dia a dia do povo.
O Renascimento foi o desprendimento da religião com o estado ou pelo menos o inicio disso. O antropocentrismo foi mostrado na arte através do corpo humano.
Rococó era uma época em que a arte representava a vida de luxo dos monarcas e da nobreza, enquanto pobres não tinham o que comer. Essa abundância e contraste gerou a revolução francesa.
Mais recentemente, a pop art debateu o mercado de massa e desvalorização trazida pela revolução industrial.
Em resumo:
A separação da arte e política é uma massa de manobra das elites para tentar roubar do povo sua expressão pessoal e de sua voz.
Diferente do que muitos vendem, o ballet faz tanto parte da arte quanto Funk. A elitização do que é arte se tornou outro perigo enfrentado pela nossa sociedade.
Se um funk narra a vivência da favela, ele narra a cultura de uma comunidade, logo funk é arte. Ele pode não fazer sentido para a elite. A arte não precisa necessariamente fazer sentido para todos. Mas retirar a nomenclatura de arte de algo por classe social é um preconceito elitista.
Pense na arte como uma linguagem. Quando estudamos comunicação se eu falo em espanhol para alguém que só conhece inglês, diz-se que houve um “ruído” na comunicação. As duas línguas são muito distintas, então a maioria do que foi falado não seria compreendido.
Agora pense em um estudante rico tocando piano e um funkeiro da favela. Ambos reproduzem uma arte que fala com a sua respectiva cultura, história e vida. Suas artes seriam estranhas para o outro e não fariam muito sentido.
Nós vivemos em um mundo capitalista. Isso significa que alguém está sempre acima do outro e os superiores conseguem dar valor à maioria das coisas. É por isso que ouvimos que as pinturas nas galerias são arte e os grafites são vandalismo.
A arte se encontra em todos os tipos de grupos, independente do valor social. Se sua arte não fala com alguém no alto, ela falará com quem fala a sua “língua” sem nenhum “ruído”.
Lembrem-se que nossa própria língua portuguesa surgiu do latim vulgar.
Voltando ao assunto. “Tudo bem Henry arte é política, mas eu não acho que jogo é arte.”
Temos uma resistência inata de separar algo que vem da tecnologia da arte. Isso se deve a associação da arte a atividades manuais.
Julgamos obras atuais de doutrinação política, mas em grande maioria, as obras clássicas do passado que são famosas hoje, são obras que desafiaram as políticas de estado de sua época.
Isso acontece, pois temos dificuldade de dar valor ao atual e somos levados a dar valor aos clássicos. Os clássicos são fantásticos, porém, nem por isso os atuais são ruins.
A arte não se separa, a arte é conectada. Músicas são inspiradas por quadros, quadros são inspirados às decisões de ditadores e divulgados por conceitos sociais e filosóficos.
Podemos fazer uma linha do tempo de como a arte chegou aos jogos para ficar mais simples:
A pintura e desenhos eram formas clássicas, por precisar fazer de maneira mais rápida, a fotografia foi inventada. Da necessidade de ver movimento, filmes e animações surgiram das fotografias e desenhos. Da necessidade de uma interação ativa com filmes, surgiu o vídeo game.
Claro que podemos fazer uma linha mais complexa que envolve música, livros e brincadeiras sociais como esconde-esconde e pega-pega. Mas decidi fazer um ponto simples para exemplificar.
Podemos então chegar à conclusão. Arte é política e videogame é arte.