Para encerrar a série de reportagens sobre o Dia Mundial do Livro, os autores falam sobre a experiência de escrever e como o livro é um registro eterno das memórias. O livro impresso é muito mais do que entretenimento. Ele desempenha um papel fundamental na cultura, uma vez que são artefatos que preservam as histórias. Em seus mais diversos temas, o livro possibilita, por meio da ficção e não ficção, viajar ao passado e conhecer sabedorias de diferentes épocas e culturas. Portanto, é fundamental para preservar a memória e a cultura.

Além disso, não podemos deixar de valorizar os escritores, assim como os profissionais que tornam o livro um objeto real. O processo de escrita, edição e publicação de um livro impresso é resultado de uma produção intelectual que busca disseminar e consolidar ideias. O compromisso do livro é com o conhecimento.

Encerrando nossa série especial, Daniela Bonafé, Mario Oshiro e Thaís Campolina falam sobre a ação de escrever e publicar, o foco e a concentração, assim como a conexão entre autor e leitor.

Confira os depoimentos dos autores

Daniela Bonafé é escritora, artista e professora de Arte. Ela também atua como formadora de docentes. Ela fala sobre a experiência de escrever, assim como o incentivo a crianças e jovens para desenvolverem capacidades e valores:

A leitura de um livro físico oportuniza uma experiência tátil única, jamais substituída por uma leitura online. O objeto livro carrega memórias, cheiro, afetos, relações com outras vivências. A experiência da leitura no livro físico é de fato mais imersiva porque elimina anúncios, vídeos curtos intrusivos, sem falar do excesso de estímulos que uma tela proporciona, como cores e luzes. 

Livros físicos são essenciais especialmente para crianças e jovens leitores porque estimulam a imaginação, as capacidades de abstração e reflexão, a manutenção de valores como responsabilidade pelo cuidado com o objeto; podem ser o elo de pertencimento do sujeito com grupos com os quais se relaciona e consolida amizades.

São radicalmente mais interessantes para estudos, rodas de leitura compartilhada, clubes de livro, entre outros, do que resumos e textos disponibilizados na internet, justamente por estes atributos mencionados e mais: existem materialmente porque muitas mãos se organizaram e se uniram em trabalho. 

Dessa preciosa ação de escrever e publicar um livro, associada ao incrível momento de alguém emprestá-lo ou comprá-lo e lê-lo, é que se fundam bibliotecas, livrarias, pequenos acervos coletivos, estantes de livros particulares em casa, feiras literárias e tantas outras possibilidades.

O escritor e roteirista Mario Oshiro defende o direito do leitor interpretar histórias de um jeito pessoal, criando um pensamento crítico, assim como ressalta a importância de se concentrar na leitura, como parte do cotidiano:

Livro é pausa, respiro, desaceleração, valorização do tempo. Ninguém pega um livro para ler estando com pressa, ninguém mergulha de fato numa história com a cabeça cheia de coisa. O livro nos permite isso. Permite que a gente interprete histórias à nossa maneira, que a gente possa imergir, imaginar, reimaginar, refletir, se provocar. 

É justamente essa a beleza do livro. Diferente da superficialidade das telas e do imediatismo digital, o livro tem esse poder de fortalecer nossa capacidade de concentração. Ele convida a gente a interpretar histórias de um jeito muito pessoal, estimulando a imaginação e até o pensamento crítico, sem ruídos ou estímulos externos. Então, para mim, o livro físico tem um significado especial no qual o tempo ganha um valor raro.

A escritora Thais Campolina, pós-graduada em escrita e criação, defende a leitura como uma maneira de fugir do consumo das redes sociais. Ela ressalta que o leitor se conecta com o autor, ao “criar mundos” a partir de suas próprias referências:

O livro, independente do suporte, não é sagrado e nem representa salvação, mas ler livros nos dá a chance de fugir da lógica do consumo passivo de informações, ideias e imagens tão frequentes em um cotidiano dominado pelas redes sociais. 

Ler é se permitir vivenciar estímulos criativos, enquanto se exercita a atenção plena. Além de também poder ser uma forma de fugir das telas, já que o livro, quando impresso, permite a atividade de folhear suas páginas e assim pescar palavras, cenas e até poemas. Folhear um livro é um convite criativo para curti-lo além daquela lógica linear prevista e amplia possibilidades de uso. 

Um livro impresso permite que a gente tateie também a história daquele objeto a partir do cheiro, da textura, da cor do papel e, às vezes, também das dedicatórias e marcas de uso de leitores anteriores. O livro impresso te convida a largá-lo pela casa ou emprestá-lo para reencontrá-lo depois. 

Sua lombada é um lembrete da leitura, mesmo quando ela serve de apoio para seu computador. Sua estrutura de papel permite livros cada vez mais diferentes, artesanais, com recortes e design diferenciados, o que também amplia nossa experiência fora de telas. 

O leitor cria mundos juntos do autor, independente do suporte de leitura, porque parte de suas referências culturais e de mundo na hora de se relacionar com a obra que está sendo lida, mas contar com os estímulos que o contato com um objeto possibilita auxilia a memória, a concentração e estreita ainda mais nossa ligação com a leitura e com o objeto livro.