Esse texto conta com alguns spoilers da primeira parte da última temporada de “Stranger Things”
Após quase dez anos desde o início das gravações, “Stranger Things” chega à sua temporada final em um clima de balanço e despedida. O encerramento da série aprofunda conflitos e amplia o escopo da narrativa. Isso, além de revelar o quanto o elenco amadureceu junto com os próprios personagens.
Entre retornos aguardados, papéis reposicionados e vilões cada vez mais complexos, os atores detalham como a construção emocional e o peso cultural da trama influenciaram o trabalho diante e fora das câmeras.
Nesta fase derradeira, a série abre espaço para reflexões sobre o processo criativo e a convivência prolongada no set. Assim, destacando a evolução coletiva que marcou uma das produções mais comentadas da Netflix. O resultado é uma temporada que funciona como síntese de dez anos de histórias, decisões dramáticas e relações fortalecidas ao longo do tempo.

Jamie Campbell Bower e o impacto de interpretar Vecna
O ator Jamie Campbell Bower (“Game of Thrones”) detalhou para a Variety que a construção vocal e física de Vecna continua sendo um dos elementos fundamentais para definir o tom sombrio da nova temporada. Ele explicou que a referência direta ao trabalho de Doug Bradley em Hellraiser não apenas guiou a criação da voz usada desde a 4ª temporada, mas também estabeleceu um ponto de partida para compreender a natureza do vilão. Essa construção, afirmou ele, fez com que o personagem adquirisse uma presença mais ritualística, quase litúrgica, que reforça a sensação de ameaça mesmo quando está imóvel.
Com o retorno de Vecna em uma forma ainda mais deteriorada e agressiva, resultado direto da batalha anterior, Bower revela que precisou ajustar o desempenho físico para transmitir a fragilidade estrutural e, ao mesmo tempo, ampliar o peso simbólico do vilão. A interpretação exigia equilíbrio constante entre monstruosidade e controle, já que pequenas alterações corporais eram suficientes para modificar o tom da cena.
Paralelamente ao trabalho técnico, Bower destacou a necessidade de administrar a convivência com o elenco jovem. Apesar de interpretar o antagonista mais violento da série, ele relata que mantinha uma postura cuidadosa nos bastidores, especialmente antes e depois das sequências mais pesadas. Cenas com Millie Bobby Brown (“Enola Holmes”) foram particularmente desafiadoras, pois envolvem emoções extremas, longos períodos de concentração e a responsabilidade de preservar a segurança emocional da parceira de cena.

Natalia Dyer analisa decisões de Nancy e o peso emocional da temporada
A nova temporada coloca Nancy Wheeler (Natalia Dyer) diante de consequências diretas de escolhas tomadas no passado. Em entrevista à Variety, a atriz comentou que houve discussões com os irmãos Duffer sobre a decisão de Nancy e Mike (Finn Wolfhard) de não alertarem a família Wheeler sobre a ameaça de Vecna. Para a atriz, a intenção inicial era proteger, mas o resultado coloca Karen, Ted e Holly em situação crítica.
Dyer aponta que a personagem enfrenta um acúmulo de culpa, especialmente após perdas anteriores. A pressão emocional se soma à crise familiar e aos desafios de sobrevivência dentro da narrativa. Ela destacou que a temporada força Nancy a lidar com o colapso da sensação de controle e a enxergar a fragilidade das próprias escolhas.
Além disso, o enredo reacende a discussão sobre o futuro amoroso da personagem. A atriz reconhece que há atrito entre Nancy e Jonathan (Charlie Heaton), provocado pela distância e pelo estresse das circunstâncias. Embora parte do público acompanhe o possível triângulo amoroso com Steve (Joe Keery), Dyer afirmou que seu foco está na coerência dramática: depois de tantos anos interpretando Nancy, ela espera um desfecho que faça sentido dentro da jornada da personagem, independente de pares românticos.

A presença de Max na mente de Vecna
Sadie Sink (“A Baleia”) retorna para a última temporada em uma condição que redefine completamente o arco de Max. Embora permaneça em coma no mundo real, a personagem continua ativa, consciente e emocionalmente desgastada dentro da dimensão mental controlada por Vecna.
Sink explicou para a Variety que Max vive há mais de um ano presa em uma versão distorcida de Hawkins dos anos 1950, um cenário reconstruído pelo vilão para manipular lembranças, fragilizar sua identidade e testar seus limites psicológicos. Esse ambiente artificial funciona como uma prisão sensorial, onde o tempo flui de forma irregular e cada detalhe parece projetado para mantê-la vulnerável.
A aparição de Holly Wheeler (Nell Fisher) nesse espaço aprofunda ainda mais a narrativa. Holly, também capturada pela influência de Vecna, age como um ponto de disrupção ao instigar Max a questionar o propósito da simulação. Sua presença revela que outras mentes estão sendo manipuladas simultaneamente. A tensão entre as duas não se estabelece como rivalidade convencional, mas como um embate pela própria sobrevivência.
Esse prolongado confinamento psicológico transforma Max em peça central da batalha final. Por estar conectada diretamente ao domínio mental de Vecna, ela se torna tanto a vítima mais vulnerável quanto um elo estratégico com o vilão. A nova temporada explora esse paradoxo ao acompanhar sua luta para romper as camadas de controle impostas por ele, em um processo que mistura resistência emocional e enfrentamento de traumas. Além disso, mostra suas tentativas desesperadas de recuperar o próprio corpo no mundo real.

Cara Buono e o reposicionamento de Karen Wheeler na narrativa
Depois de anos ocupando um espaço periférico dentro dos conflitos centrais de “Stranger Things“, Karen Wheeler (Cara Buono) volta a ganhar peso dramático na 5ª temporada. A personagem, que sempre transitou entre a rotina doméstica e a função de contraponto às aventuras dos filhos, assume um papel ativo ao enfrentar um Demogorgon para tentar proteger a caçula, Holly.
Para a Variety, Cara Buono afirmou que o momento não é isolado, mas consequência de decisões que se acumulam desde a primeira temporada. Segundo a atriz, Karen sempre esteve em um ponto de tensão entre ignorar o desconhecido e pressentir que algo maior rondava sua família. O ataque dentro da própria casa funciona, assim, como a ruptura definitiva de uma narrativa que mantinha Karen distante dos horrores de Hawkins.
Para ela, essa virada reflete tanto a maturação da narrativa quanto a evolução da própria personagem, que deixa de ser apenas uma figura observadora. Embora a sequência de ação não altere o rumo central do conflito com Vecna, ela reposiciona Karen no conjunto da série e evidencia a forma como “Stranger Things” revisita seus personagens secundários na reta final.
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Transformações, debates e o peso de uma década
A percepção coletiva do elenco revela que a evolução dos personagens está diretamente ligada ao crescimento pessoal dos próprios atores. Ao longo de uma década, eles atravessaram transformações profissionais e emocionais. Nesse mesmo período, suas versões fictícias enfrentaram o avanço do Mundo Invertido, perdas, escolhas morais e relações frágeis.
Segundo o grupo, essa intersecção entre vida real e construção dramática influenciou decisões criativas e a dinâmica em cena. Ela também orientou a maneira como cada arco narrativo foi ajustado para a reta final.
Além disso, os atores destacam que a última temporada funciona como um ponto de convergência entre tensões acumuladas, leituras aprofundadas de roteiro e conversas recorrentes com os irmãos Duffer. Esse processo colaborativo, afirmam, foi essencial para definir o tom do encerramento. Para eles, encerrar “Stranger Things” significa revisitar momentos decisivos e enfrentar o impacto emocional do desfecho. Também representa reconhecer o peso cultural de uma série que acompanhou sua própria formação como artistas.
No balanço final, o elenco vê a temporada não apenas como o fim de uma história, mas como a consolidação de um ciclo que marcou suas carreiras e deixou marcas duradouras no público. E, enquanto Hawkins encara sua última batalha, atores e personagens dividem uma mesma sensação. Para ambos, o encerramento é ao mesmo tempo um destino e um ponto de virada.
Imagem de capa: Netflix/Divulgação
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