Apaixonada mostra que se sentir perdida e questionar a forma como encara a vida é um momento que faz parte da realidade de grande parte das mulheres. Isso acontece principalmente após os 35 anos, onde não apenas o próprio corpo começa a apresentar reflexos da idade como também sociedade levanta questões e julgamentos que podem interferir muito nesse momento.

Com a proposta de refletir sobre essa realidade na vida das mulheres, o filme inspirado no livro Apaixonada aos 40 escrito por Cris Souza Fontes, tem a direção de Natalia Warth e é protagonizado pela talentosa (e maravilhosa) Giovanna Antonelli.

A trama mergulha na história de Beatriz (Giovanna Antonelli). Ela é uma mulher que aos 40 anos não se reconhece e se surpreende com alguns acontecimentos em sua vida. Esses choques que a Bia recebe são os gatilhos que fazem ela tentar se reencontrar, dando espaço para novas experiências e buscando o autoconhecimento.

Um roteiro um tanto perdido

O roteiro propõe um tema muito interessante e importante para reflexão e debate. Entretanto, ele não aproveita todo o potencial que tinha e não aprofunda nas nuances de sua protagonista, se conformando em permanecer no raso. A personagem de Antonelli tem muitas camadas e mesmo que o roteiro tente mostrar o processo de sua jornada e transformação, a sensação é de que ele não explora o suficiente o que atrapalha na conexão e na força que a história de Bia podia representar.

Essa tentativa de mostrar uma transformação sem penetrar no íntimo da personagem acaba deixando o roteiro perdido, assim como a protagonista no início do filme. Isso não significa que o roteiro não tenha uma continuidade, podemos perceber claramente que a personagem tem a sua transformação, tanto de mentalidade quanto com os relacionamentos da sua vida. Acontece que esse desenvolvimento se dá de uma forma tão rasa que não tem um alto impacto.

Quanto ao elenco, que além de Gio Antonelli tem grandes nomes como Danton Mello, Rodrigo Simas, Polly Marinho, Pedroca Monteiro, Nicolás Pauls e Rayssa Bratillieri, é muito simpático e funcionam bem no estilo da produção, ajudando no tom de comédia que ela traz.

Vale destacar que as atuações de Giovanna e Danton, são maravilhosas, com muito sentimento e entrega. É uma pena que seus personagens não sejam tão aprofundados. Aliás, tem uma cena de Bia e Dora, personagem de Polly Marinho, que a atuação das duas passa aquela cumplicidade e apoio que só grandes amigas conseguem ter.

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Reprodução IMDb

Quando o excesso atrapalha

Uma das escolhas da produção do filme é utilizar momentos de “quebra da quarta parede”, ou seja, quando os atores rompem com a barreira imaginária que existe entre a obra e o espectador, interagindo diretamente com ele. Embora esse recurso adicione personalidade e conexão nas produções, em “Apaixonada”, ele acontece em excesso e de um jeito meio abrupto. Com isso, o que era para ser um detalhe interessante na obra se torna banal e cansativo.

Outro detalhe que chama a atenção, infelizmente de jeito não tão bom, são os cortes entre algumas cenas. Tem certos momentos do filme que parece que uma cena não se conecta com a outra, ou traz um desconforto. Talvez esse desconforto seja intencional, para transmitir os solavancos que a vida da protagonista precisa sofrer.

O excesso também se reflete no roteiro, quando tenta abordar muitas experiências, ao invés de focar em explorar a personalidade de Bia e suas questões. Sabe aquele papo de menos é mais? Esse é exatamente o ponto.

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Reprodução via CNN Brasil

Vale a pena assistir “Apaixonada”?

Apesar dessas questões, vale a pena assistir a essa comédia romântica nacional. A atuação de Antonelli e o roteiro, fazem “Apaixonada” ser uma experiência, mesmo que fraca, divertida e com certas reflexões sobre a vida.

Por fim, vale dar uma chance para o filme, que está disponível na Netflix.