Neste último domingo (31), estive presente na Perifacon, a comic-con da favela. É a segunda edição presencial do evento. A primeira, em 2019, foi um sucesso astronômico. A 2º edição da Perifacon constrói pontes e derruba muros — como traz o próprio slogan do evento. E coisas como os pontos negativos da primeira edição – que presenciei – foram resolvidos. Assim como toda a estrutura foi repensada e teve êxito na sua realização.

Perifacon, passado e presente

Em 2019, estive presente na primeira edição da Perifacon. O evento foi transformador na minha vida, uma vez que foi a minha primeira convenção nerd. Naquele ano, fiquei surpreso em relação às pessoas e ao engajamento do público em relação a Perifacon — acolhedor, confortável e respeitoso. Eram áreas e mais áreas de crianças sorrindo, correndo e descobrindo – grande número delas pela primeira vez – o quanto o universo geek é fenomenal e pode ser inclusivo. 

Neste ano, o mesmo sentimento ocupou os espaços da Fábrica de Cultura da Brasilândia. Logo na entrada, um palco era a atração principal com um espaço bem planejado para receber o público durante os shows, palestras e os desfiles da competição de cosplay. Ao contrário da primeira edição, realizada na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, extremo sul de São Paulo, a edição de 2022 teve uma atenção maior na distribuição do espaço — o que tornou mais confortável a locomoção pelo ambiente. 

Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.
Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.

Em 2019, o evento foi realizado em um prédio, onde as atrações e as demais áreas, eram distribuídas por andares. Isso ocasionava, uma vez ou outra, uma fila na escada. No entanto, esse foi o único ponto negativo da edição. Porém, o público e a equipe do evento estavam sempre atentos em não gerar esses entraves de transeuntes nas escadas, o que denota a atenção da equipe em encontrar o problema e solucioná-lo. 

A importância da Perifacon

Assim que abriram os portões, o público começou a se espalhar no evento. Um dos pontos mais importantes deste ano – pelo menos ao meu ver – foi a importância que a Perifacon deu aos artistas independentes. Na primeira edição, isso também esteve presente, mas em 2022, o sentimento foi maior. O famoso Beco dos Artistas, contava com um espaço dedicado à troca de ideias entre autores, novos fãs, imprensa e frequentadores do evento. Mesmo que lotado, o próprio público soube como se portar para que ninguém ficasse de fora.

O coordenador editorial da Graphic MSP (Mauricio de Sousa Produções), jornalista e também um dos maiores especialistas em quadrinhos do país, Sidney Gusman, afirma: “Iniciativas como essa são absolutamente vitais. A gente tinha que ter uma Perifacon por cidade, por capital, a cada dois, três meses. Mostrar que a Perifa também tem gente nerd.” — momento tietagem do redator aqui, uma vez que sou extremamente fã dos cadernos de expediente presentes nas revistas em quadrinhos, assim como ouvinte do podcast do Sidney, o “Confins do Universo”.

Isso demonstra o quanto o evento é importante na formação dos jovens periféricos nerds nas quebradas de todo o Brasil — e não somente da capital paulista. “A maioria dos eventos é excludente no fator preço. Quando você faz um evento desses trazendo cultura, gratuitamente, mostrando pros caras que… sonha, sonha porque tem caminho” comenta Sidney sobre a importância de tornar eventos geeks acessíveis.

Personagens reais que encontrei

Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.
Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.

Cesar Santos, 38, integrante da Editora New Order, editora especialista em livros de RPG e literatura nacional fantástica, incentiva novos autores: “A gente tá investindo pesado no nacional. Sempre comentamos, quer colocar (publicar) o seu trabalho? Mostre. A gente só vai saber se você mostrar, não adianta ficar escondido pensando que a sua ideia é ruim, quando você só precisa de um ‘empurrãozinho’ para que ela aconteça”, comenta Cesar. 

Além disso, Cesar ainda complementa sobre a importância da Perifacon: “Acho que tem geek em tudo o quanto é lugar. A questão é a oportunidade, então quando falamos de oportunidade, não é só mostrar, é dar acesso”. Essa última fala resume a importância do evento na troca de “contatos” para com novos autores e as editoras presentes no mercado editorial brasileiro.

Outra pessoa importante para transcrever a Perifacon, é Welison Renato Santos de Lima, 29, mais conhecido como “Well”, psicólogo e profissional do teatro, que reside em Itaim Paulista, zona leste de São Paulo: “O que eu mais curto no evento é a inclusão, a representatividade e a mensagem que o evento leva pras pessoas. A importância pros jovens é exatamente isso, o evento levar o acesso mais fácil a esse mundo geek, levar a representatividade de pessoas iguais e ser inspiração aos demais jovens e crianças”, comenta. 

Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.
Arquivo pessoal. Welison Renato (Well) ao centro.

No dia, Well estava realizando o cosplay do personagem protagonista do evento, o Super-Choque. “Super-Choque é um dos meus heróis favoritos desde a adolescência. Sou cosplayer há 13 anos e nunca havia passado pela minha cabeça fazer cosplay dele, até que surgiu o evento Perifacon e com o herói tema do evento é ele, resolvi juntar o útil ao agradável” comenta. No facebook, Well faz parte da equipe administrativa do grupo “Black Cosplay”, espaço destinado a cosplayers de personagens negros. 

As atrações do evento

Dessa vez, o evento dispôs de uma distribuição maior das atrações. O Beco dos Artistas ficava ao lado da exposição do Quebradinha e dos Novos Modernistas, apostando numa imersão maior para com seus artistas convidados. Ao passo que, você poderia encontrar os autores da obra por ali, sem precisar procurá-los.

Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.
Arquivo pessoal. Perifacon, 2022.

Isso mantinha o público – já maravilhado com as obras – em constante contato com seus autores, além de conhecer mais desses no Beco. Ao lado das atrações foram separadas mesas para público dar uma pausa ou esperar surgir um espaço para adentrar os corredores da Perifacon. Além da pausa, você acompanha um grafite sendo realizado ao vivo, mostrando o processo desde o rascunho da parede até a finalização da obra. Assim como o contato com o público para a retirada de dúvidas.

Em todos os espaços destinados ao público a alegria era contagiosa. Vale lembrar que, a primeira Perifacon aconteceu em 2019, o que tornou o hiato de quase 3 anos um motor regado a ansiedade para estar presencialmente ao evento novamente. “Estamos há três anos esperando esse evento, em meio a uma pandemia, e agora a gente pode se reencontrar de novo, e fazer uma atividade com segurança, pode levar cultura à periferia.”, comenta Toni C, autor da biografia do rapper Sabotage e roteirista do documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, da Netflix. 

Construindo pontes, derrubando muros

O retorno da comic-con da favela acertou em cheio no slogan “Construindo Pontes, Derrubando Muros”. Pelos corredores da Perifacon, você assistia crianças correndo entusiasmadas para tirarem fotos com seus personagens favoritos. Carregando em suas mãos pôsteres dos títulos de Neal Adams, distribuindo de forma gratuita no local, uma importante cortesia da família do quadrinista falecido. Crianças, adolescentes, adultos, todos foram impactados e saíram do evento mais próximos a cultura geek. A fim de que, nos próximos anos, a cultura geek como um todo seja mais democratizada. Em 2022, com a concretização da 2º edição da Perifacon, novos autores foram criados. Pontes foram criadas e os muros cada vez mais são derrubados, ao passo que, no futuro, não existam mais muros.


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