Aliel Paione é engenheiro e Mestre em Ciências e Técnicas Nucleares pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde lecionou. Trabalhou com salvaguardas nucleares na estatal Nuclebrás, no Rio de Janeiro (RJ), e foi professor de Física na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). É autor de “Sol e Sonhos em Copacabana” e “Sol e Sombras”. A pedido do consulado dos Estados Unidos, em São Paulo, as obras da trilogia integram o acervo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington. Em entrevista ao GeekPop News, Paione conta sobre as inspirações da própria escrita e o que podemos encontrar nas obras que escreveu.

Antes de tudo, nos conte um pouco sobre você.

Minha formação é na área de ciências exatas. Sou engenheiro e mestre em Ciências e Técnicas nucleares, pela UFMG. Trabalhei nessa instituição e na NUCLEBRÁS, Rio de Janeiro, e como professor de Física, na PUC/MINAS. Entretanto, sempre tive muito apreço pela literatura e, a partir de 2010, passei a escrever. Sempre fui meio dividido. Meu passatempo predileto é ler. Sempre li muito. Não tenho muito a dizer sobre mim, mas poderia ressaltar que sou um cara romântico, idealista e sonhador.

Como surgiu essa vontade e desejo pela escrita?

A minha vontade de me aventurar na literatura basicamente surgiu devido ao excesso de leituras e do fato de que tenho muita facilidade para escrever. Sempre me disseram isso. Lá pelo ano de 2010, li uma reportagem sobre um cabaré que existiu em Copacabana, no início do século passado, e surgiu-me a ideia de escrever um romance inicialmente ambientado nesse cabaré, chamado Mère Louise, nome da proprietária, uma francesa sofisticada. Ele era frequentado por políticos e gente importante. E então comecei a escrever, e fui gostando.

Sobre a trilogia “Sol e Solidão em Copacabana”o que você pode introduzir sobre a narrativa? O que as pessoas poderão encontrar ao ter essa leitura?

Como uma posterior introdução, poderia dizer que, ao ler o romance, o leitor se deparará com personagens complexas, metidas em suas angústias e contradições, sofrimentos e sonhos. Ele também encontrará um questionamento político-social sobre a realidade brasileira, entremeado à trama romanesca, e terá muitas surpresas com o desenrolar da trama.

Como você desenvolveu os personagens ao longo dos três livros?

O desenvolvimento das personagens é um processo interessante, e creio ser comum a todos os escritores de ficção. Afinal, o que é uma personagem senão um momento do que sente o escritor enquanto escreve? Sim, qualquer personagem se origina dos sentimentos multifacetado do autor, e se torna um ente representativo de cada uma dessas facetas. Em minha escrita, as personagens, ao longo da história, tendem a se humanizar, refletindo uma tendência pessoal de não julgar severamente o homem, pois ele é vítima de múltiplos fatores. Eu termino sendo compreensivo e condescendente. Por exemplo, a personagem do senador Mendonça, um vilão, corrupto e muito rico, deixa transparecer, ao final, a miséria humana, e é derrotado pelo seu amor impotente dedicado a Verônica. Apesar de tudo que fez, não consegue o seu amor, e sofre por isso. A construção das minhas personagens foge bastante do roteiro original, e vão, geralmente, adquirindo “vida própria”. Somente ao final, o leitor, e eu mesmo, poderemos de fato conhecê-las, ou permanecer na dúvida.

Reprodução: Foto do autor Aliel Paione / Divulgação
Reprodução: Foto do autor Aliel Paione / Divulgação

O cenário político turbulento na primeira metade do século XX é fundamental na trama da sua trilogia. Pode nos falar sobre como você equilibrou a narrativa ficcional com eventos históricos reais?

Eu procurei sempre entrelaçar as atividades ou as situações vividas pelas personagens com questionamentos político-sociais. Por exemplo, existem personagens com sensibilidade social que farão um questionamento oportuno em situações que mereçam uma crítica sobre as injustiças. O presidente Getúlio Vargas, talvez o homem político mais importante da história brasileira, em determinado instante aparece umbilicalmente ligado à vida de João Antunes, personagem importante. E, assim, procurei fazer um balanço oportuno entre o roteiro ficcional e os fatos históricos presentes ao longo da narrativa.

De que forma você abordou as dinâmicas de amor e ambição no triângulo amoroso existente na narrativa?

Eu abordei a dinâmica entre o amor e a ambição de modo conflituoso em que, ao final, as ambições são fragosamente derrotadas pelo amor. O senador Mendonça, sujeito corrupto e super ambicioso, ao final de sua vida dizia que daria a sua fortuna pelo amor sincero de Verônica, o que era impossível.

Até quando, Riete, este país rico conviverá com a imensa desigualdade social, com o sofrimento dos humildes e com a prepotência dos poderosos? Até quando prevalecerá o espírito do relho nas costas dos negros, metáfora do que está introjetado no inconsciente da sociedade brasileira? Daqueles que se julgam brancos e branquinhos de cabelos bons? Quando essa gente pretenciosa perderá esse ranço e será menos ignorante e mais solidária? — indagava João Antunes.”

O trecho citado do livro destaca questões sociais e raciais no Brasil daquela época. Como essas questões influenciaram a trama e o desenvolvimento dos personagens e da história como um todo?

Eu penso que a trama e as personagens estão subordinadas aos problemas sociais. Quando eles aparecem, as personagens, com sensibilidade, exercem uma crítica rigorosa, posicionando-se contra as injustiças. Já as personagens insensíveis têm um comportamento indiferente, cínico, o que geralmente coloca o leitor contra elas. Bem, isso se tal leitor se identificar contra as injustiças…

Além do contexto político e das relações construídas para representar metaforicamente alguns aspectos, quais outros temas ou mensagens você esperava transmitir aos leitores?

Existe um aspecto fundamental embutido na narrativa que poucas pessoas questionam: trata-se da complexidade psicológica das personagens, portanto, inerente à natureza humana. Seus sonhos, suas atitudes contraditórias, suas frustrações, seus amores, seus momentos de intensa tristeza e a maneira como reagem a esse cipoal de sentimentos.  Eu procurei penetrar fundo nas personagens e mostrar como tudo é efêmero. Reconheço, porém, que vislumbrar a subjetividade psicológica envolvida na narrativa depende da argúcia, da sensibilidade e da cultura do leitor. E isso é válido para qualquer texto que se lê. Um leitor menos erudito permanece na superfície, já os mais cultos e inteligentes penetram nas entrelinhas.

Reprodução: Capa do livro “Sol e Solidão em Copacabana, de Aliel Paione / Divulgação

Você tem mais planos futuros dentro da carreira como escritor? Pode compartilhar um pouco desses planos conosco? 

Eu não sou um cara que pensa muito no futuro a longo prazo. Não faço planos meticulosos e nem imagino o que será minha carreira literária. No momento, estou imaginando escrever um romance abordando a vida de João Goulart e descrever os fatos e momentos políticos que antecederam ao golpe de 1964, enfim, seguir a linha desta trilogia. Quem sabe, outra trilogia. Mas estou ainda na fase embrionária, ou melhor, na fase pré-embrionária, naqueles instantes em que um homem e uma mulher preparam o embrião.

O que você diria para quem quer começar a escrever, mas ainda não se sentiu motivado para começar?

Escrever é trabalho artesanal muito complicado. Quem desejar fazê-lo é melhor meter logo a mão na massa e começar. Porém, eu penso que, quem realmente tem esse desejo, chegará a um ponto que inevitavelmente ele começará a fazê-lo. Então, eu desejo sucesso ao pretendente. Portanto, manifeste sua imaginação, ponha suas ideias no papel, e terá muitas surpresas consigo mesmo. Escrever é um ato freudiano.

E se quiserem saber mais sobre o seu trabalho, quais as plataformas e meios de te encontrar?

Meu Instagram: https://www.instagram.com/alielpaione/

Agradeço muito a você, Amanda, e ao Portal Geek Pop News pela oportunidade de me dirigir aos leitores. Um grande abraço. Beijos, Aliel Paione


Descubra mais sobre Portal GeekPop News

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.