Um dos diretores mais amados do cinema, Quentin Tarantino, tem um estilo inconfundível, se tornou referência no universo cinematográfico cult. Recentemente o diretor anunciou aposentadoria, para a tristeza dos fãs, após seu décimo filme que já está em produção. Mesmo saindo de cena, há muitos gêneros que não foram explorados por ele, como o sci-fi. Por exemplo, imagine o distópico e futurista Duna, dirigido por Quentin Tarantino
Completando 60 anos no dia 27 de março, aos 21 anos o diretor começou a trabalhar como balconista em uma famosa locadora de vídeos em Manhattan, conseguindo acesso a inúmeras obras cinematográficas. Simultaneamente, produzia seu primeiro roteiro o ‘Capitão Flocos de Pêssego e o Bandido de Anchovas‘. O nome peculiar da história demonstrava o estilo de linguagem abordada pelo diretor que se tornou sua marca registrada no cinema.
Saiu do anonimato após a venda de dois roteiros o ‘True Romance’ (1984) e ‘Natural Born Killers’ (1984). Em seguida, em uma festa de Hollywood, conheceu Lawrence Bender que o convenceu a roteirizar e dirigir um filme. O longa proposto foi ‘Cães de Aluguel’ em 1992, que marcou a estreia de Quentin Tarantino na indústria e revelando sua assinatura de direção. Logo após, em 1994, o diretor lançou o aclamado ‘Pulp Fiction: Tempo de Violência’, ganhador do Palma de Ouro no Festival de Cannes no mesmo ano, se consolidando na indústria.
Estilo Único, Diversas Referências
Desde então, passou a dirigir diversos clássicos do cinema independente. No entanto, alguns não foram bem recebidos pela crítica, como ‘A Prova de Morte’ (2007), por ser considerado de baixa qualidade. O cineasta, ao contrario da maioria, não possuí estudo superior em cinema, simplesmente a sua experiência na locadora lhe deu acesso a diversos gêneros e conceitos cinematográficos que hoje respaldam sua identidade como diretor.
Sendo assim, essa junta de métodos cinematográficos cria algo só seu. A experiência de um ‘filme tarantino‘ acontece através do conjunto da obra desde a música meticulosamente selecionada, a frames, fotografia e um roteiro que, mesmo com diálogos simples, apresenta uma estrutura narrativa indiscutível. Suas inspirações surgem de gêneros como Western (Faroeste), cinema ‘Noir’, ‘Exploitation‘, quadrinhos e filmes orientais, as artes marciais estão sempre presentes.
Duna, por Quentin Tarantino
Antes de tudo, Tarantino nunca arriscou produzir um filme de ficção científica distópica. Pelo contrário, o diretor sempre buscou trazer elementos verossímeis e cotidianos nas narrativas, trazendo a ficção para perto da realidade. Por exemplo, suas obras sempre permeiam pela vingança e justiça, semelhante a premissa de Duna. Porém, em contexto reais como em Kill Bill e Bastardos Inglórios. No entanto, a violência extrema entre os personagens de Tarantino é expressa como catarse, uma maneira de purificar as emoções reprimidas pela imoralidade delas e justificando a vingança como um meio.
Além disso, mesmo com a fotografia chamativa e musicas cativantes, todos esses elementos são secundários e acompanham o desenvolvimento emocional e moral da história para Tarantino. Já em Duna, Dennis Villenueve coloca os cenários dos mundos de Arrakis e Harkonnen em primeiro plano ambientando a trama. No entanto, o desenvolvimento dinâmico dos personagens fica como segundo plano. Com estilos totalmente distintos, Duna seria uma obra completamente diferente pelas mãos de Tarantino, seguindo alguns princípios.
Roteiro estruturado
Com uma história recheada de conflitos morais e ideológicos, envolvendo politica, religião e família, a premissa de Duna é um prato cheio para o diretor. Ama trazer as emoções humanas motivadas por propósitos ou desvios morais. Sendo assim, preservaria o conflito de Paul Atreides, tanto interno quanto externo, que sendo criado para governar com diligência e sobriedade se encontra movido a vingança e justiça contra o Imperium.
Juntamente, a argumentação de vingança de Paul seria como uma forma de honrar a memória expectativas do pai. Movido pelo sentimento de falha e arrependimento por não conseguir proteger a família, além de enfurecido pela traição do Imperium que explorou o senso moral que a família possuía pelo governo. Em extremo conflito, o menino começa a descobrir as mentiras que permeiam sua criação, inclusive sua mãe, e o governo de Duna, respaldando a vingança com as lentes da justiça.
Monólogos e personagens complexos
Os monólogos são uma das estrelas nos filmes. Contrariando as expectativas em um filme cult, com falas difíceis e ideias complexas, o diretor busca trazer conversas simples em contextos cotidianos. Em seguida, trazem um momento de epifania para os personagens, esclarecendo os conflitos e revelando uma nova visão sobre a vida.
É possível imaginar Paul tendo esses diálogos com a mãe, uma Bene Gesserit, sobre os mistérios de Arrakis e o mito de Lisan-al Gaib. Além também do contato com a realidade do povo desértico e o descobrimento do amor por Chani em meio a dor. Mas ao mesmo tempo, esses diálogos seriam cômicos e descontraídos. Certamente, Paul Atreides se tornaria um fumante ou alcoólatra, nunca um protagonista de Tarantino poderia enfrentar tais conflitos sem um vicio amenizando a dor das dúvidas e solidão interna.
De mesmo modo, as Bene Gesserit teriam um papel mais presente e atrativo na trama. Se tem algo que o cômico diretor ama é desenvolver personagens femininas em papéis cruciais e explorar a sensualidade como em Kill Bill, Bastardos Inglórios e Jackie Brown. Essas mulheres são capazes de tudo por seus ideais e vontades, mas mesmo sendo mulheres enfrentam as duras consequências de suas ações.
Além do mais, o elenco contaria com Uma Thurman, além do elenco contar com Samuel L. Jackson, Brad Pitt e Leo DiCaprio, que sempre aparecem nos filmes do diretor.
Elementos de direção
Certamente, é onde o longa Duna ganha discrepâncias cômicas e visuais da versão de Villenueve. Primeiramente, mesmo com todo a tensão da premissa, é difícil imaginar Tarantino levando tão a sério o peso dramatúrgico que Dennis emprega em Duna. Considerando os mais variados estilos que o inspira o diretor, pode-se imaginar Arrakis e Harkonnen como uma mistura de Django Livre e Sin City respectivamente.
A constituição de Arrakis teria influências diretas do estilo Western, Tarantino não deixaria um planeta cheio de areia e montanhas sem uma referência aos cowboys e muito bang-bang. De antemão, o planeta seria preenchido pela tensão do vazio e escassez dos recursos, desesperados pelo fim da exploração e a manifestação de Lisan-al Gaib. Diferente de Villenueve, que destacou essas características como riqueza, força e poder.
Ao mesmo tempo, os Harkonnen têm o cenário perfeito para a execução do estilo ‘Noir’ e o gênero Exploitation. Personagens sem escrúpulos, movidos por seus desejos de poder e subversão se encaixam perfeitamente no método. Atraídos por violência, a imoralidade é uma das características presentes que faz esses dois estilos perfeitos para a representação segundo Tarantino. Como consequência, a violência gráfica e os momentos tensos seriam a essência desse núcleo do filme.
Pode-se imaginar os confrontos entre as duas nações ao estilo de Kill Bill com Os Cães de Aluguel, espadas chinesas e armas complementariam as cenas. Nesse sentido dinâmico, a montagem do longa não seria linear, trazendo mais tensão e profundidade na história.
Por fim, nenhuma suposição seria capaz de mapear o que poderia sair da mente de Quentin Tarantino quando se trata de histórias e gêneros que ele nunca explorou. Ousado e amante do cinema, certamente seria algo totalmente diferente e interessante com muita sátira e humor duvidoso. Além disso, mesmo que amado ou odiado pela crítica, Duna por Quentin Tarantino seria um clássico cult do cinema.