Apenas um mês antes de se suicidar, Sylvia Plath publicou o que viria a ser seu único romance. Em ‘A Redoma de Vidro‘, a poetisa e contista americana mascara seus sentimentos através da personagem Esther Greenwood, quase como em uma biografia ficcional. Dessa maneira, o livro narra a jornada de uma jovem muito talentosa, cujo potencial é aturdido pela luta contra questões emocionais nos anos 50.

Completamente focada em sua trajetória acadêmica, Greenwood está realizando o sonho de toda garota. Ela conquistou o emprego dos sonhos em uma revista famosa e passa o dia sendo mimada com caviar e presentinhos entre eventos em Nova York. No entanto, Esther sente que não consegue aproveitar as oportunidades, pois está constantemente preocupada com suas escolhas do futuro. Qual papel ela deve assumir?

Greenwood enfrenta uma batalha constante contra questões de identidade e alienação em uma atmosfera opressiva na sociedade. A estudante se encontra em um dilema profundo, Inicialmente, ela pensa em obedecer às normas estabelecidas, como preservar sua virgindade, casar e ter filhos. Apesar disso, ela também quer a realização acadêmica, o desejo de se tornar uma educadora e teme ser controlada por um homem.

Embora tenha tempo de sobra para fazer escolhas, acertar, errar e mudar de rumo, os anseios de uma sociedade se transformam em uma redoma ao redor de Esther. Sufocada, a protagonista mergulha em uma depressão profunda. Entre hospitais psiquiátricos, terapias de choque e até lobotomias, a obra de Plath se transforma em um retrato assustador do que pode ser a experiência feminina.

Impressões sobre a obra de Sylvia Plath:

 'A Redoma de Vidro' de Sylvia Plath
‘A Redoma de Vidro’ de Sylvia Plath – Foto/Reprodução

Penso frequentemente que só conseguimos escrever autenticamente sobre aquilo que experienciamos, e é angustiante contemplar ‘A Redoma de Vidro’ como um reflexo da realidade na qual Plath estava imersa. Como simples incertezas podem se transformar em uma corrente elétrica de 100 volts em seu cérebro? Por outro lado, a escritora consegue demonstrar toda sua angústia em sentenças curtas e sacadas rápidas.

Embora assustadoras, as palavras de Plath também são facilmente identificáveis, pois Esther enfrenta dilemas que, infelizmente, não foram exclusivos daquela década. Além disso, a personagem é construída para despertar antipatia, com observações ácidas e opiniões contundentes sobre tudo. Isso, particularmente, se torna um atrativo, pois ela emerge como uma das primeiras anti-heroínas dos livros.

É lamentável, no entanto, que a obra também reflita alguns preconceitos. Gosto de imaginar que, se tivesse a oportunidade, Plath mudaria algumas de suas falas. Especialmente considerando que o livro traz uma visão avançada sobre a liberdade feminina. Além disso, a autora expõe seu sofrimento e os motivos que a levaram a tirar a própria vida em uma época em que pouco se falava sobre saúde mental.

Quanto à edição, tive a oportunidade de ler a obra pela segunda vez na versão ilustrada por Beya Rebaï, publicada pela editora Biblioteca Azul. Os desenhos entre os capítulos conseguem retratar de forma vívida o desespero, a aflição e a bagunça que se passavam na mente de Greenwood, adicionando um toque especial à leitura.

Redatora em experiência sob supervisão de Giovanna de Souza.


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