A nova sensação da Netflix, a série atual, apresenta Donny (interpretado por Richard Gadd), um aspirante a comediante que passa os dias atrás do balcão servindo cerveja. Um encontro inesperado com uma mulher chamada Martha (interpretada por Jessica Gunning), que exibe tristeza em seu semblante, muda o curso de sua rotina. Diante da sua falta de recursos para comprar uma bebida, Donny a oferece um chá, reconhecendo sua necessidade de ajuda. No entanto, ele ainda não percebe o equívoco que cometeu: Martha, tocada por sua gentileza, torna-se obcecada pelo garçom. Para alguém como ela, stalker profissional, desculpas não são mais necessárias. Confira a review de Bebê Rena:

Consequentemente, o impacto do primeiro episódio é notável devido ao perfil das personagens, à dinâmica que se estabelece e aos preconceitos televisivos e sociais desafiados pela série. Aqui, a perseguidora não se encaixa no estereótipo da femme fatale que seduz com sua sexualidade, um clichê tão comum ao tratar desse tema. A inversão da dinâmica, com uma mulher assumindo o papel de predadora e um homem como vítima, abala nossas concepções pré-estabelecidas.

Quatro anos e meio de assédio

O true crime e assédio persistiram por quatro anos e meio, período em que o incansável ‘admirador’ enviou-lhe 744 tweets, 350 horas de mensagens de voz, 46 mensagens no Facebook e 41.071 e-mails. É digno de nota que muitos desses registros aparecem na série.

O próprio Gadd confessou ao ‘The Times’ que a série, que adapta uma história de uma produção teatral homônima que apresentou no Festival Fringe de Edimburgo, é baseada em experiências pessoais. “No início, todo mundo no bar achou engraçado eu ter uma fã. Depois ela começou a invadir minha vida, me seguindo, aparecendo nos meus shows, me esperando do lado de fora da minha casa,  me mandando milhares de e-mails e áudios”, ele explica.

Ademais, fica claro que Donny precisa ser conhecido, mas à medida que a trama avança, percebemos que ele não é apenas um personagem superficial e simplório como esperávamos.

Inicialmente, é apresentada como uma comédia de humor “sombrio”. Semelhante ao que vimos em ‘Fleabag’ no começo, a série revela-se gradualmente como um retrato complexo e contundente de assédio, abuso e trauma. Analogamente, alguns podem fazer comparações com ‘Misery’, o filme estrelado por Kathy Bates e baseado no livro de Stephen King, onde a protagonista psicopata, Annie Wilkes, carecia de qualquer traço de humanidade, aqui o foco está em explorar a personalidade de Martha de maneira mais profunda. O próprio protagonista se vê obrigado a entender a mente e a desordem de sua perseguidora. Nada é tão simples quanto parece.

Bebê Rena – Imagem: Netflix

Bebê Rena: mais do que uma história de assédio

Por sua vez, Bebê Rena é uma experiência visceral e perturbadora, porém incrivelmente cativante. Apesar dos momentos que nos fazem parar e respirar – o quarto episódio é tão poderoso quanto ‘I May Destroy You” (disponível na Max)’. O monólogo do sexto episódio não fica atrás – a narrativa é envolvente, deixando-nos ansiosos para saber o que acontecerá a seguir. Entretanto, o que se destaca ainda mais é a autenticidade da visão por trás da série e a convicção de que estamos testemunhando a obra de uma vida sendo escrita por um roteirista que expõe sua verdade e dor. É uma experiência única que nos deixa admirados e tocados pela sua sinceridade, diferenciando-se de tudo o que já vimos anteriormente.

No entanto, o assédio é apenas um aspecto desta narrativa. Também são abordadas as inseguranças e a falta de autoestima dos personagens, bem como as decisões equivocadas que tomam como resultado desses sentimentos. A história trata da frustração causada por expectativas excessivamente altas, tanto nas esferas pessoal quanto profissional.

Além disso, aborda o tema do abuso, algo que já estava presente no projeto teatral de Gadd e em suas próprias experiências. “Bebê Rena” é uma jornada catártica para o comediante, permitindo-lhe confrontar e superar os traumas que carrega consigo. Ele consegue representar de forma extraordinária sentimentos universais como ansiedade, estresse e angústia, que todos nós podemos identificar em algum momento de nossas vidas.


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