Beyoncé lançou ‘Cowboy Carter’, o act ii de seu projeto que começou com Renaissance (2022). Com feats poderosos, a artista trabalha o country resgatando as origens negras desse estilo musical.
O álbum possui 27 músicas, dentre elas, destacam-se as parcerias com Miley Cyrus, Post Malone, Dolly Parton, Willie Nelson, Linda Martell, Shaboozey e Willie Jones. Além disso, a música ‘Protector‘ possui a participação da pequena Rumi Carter, filha mais nova da cantora.
Ouça o álbum:
Um requiem americano
Como uma prece, Beyoncé inicia o disco relembrando suas origens em ‘Ameriican Requiem‘ e se há uma característica importante no country, é sua história de origem.
No entanto, a cantora não cita apenas suas raízes, mas também relembra os momentos em que foi criticada quando trabalhou com esse estilo.
Diziam que eu era country demais
Então veio a rejeição, disseram que eu não era country o bastante
Disseram que eu não ia subir na sela, mas
Se aquilo não é country, me diga, o que é?
Tive meus pés em terra firme por anos
Eles não sabem, não sabem o quanto eu tive que lutar por isso
Algo interessante de se notar é que, não só em ‘Ameriican Requiem’, mas em outras músicas também, a letra “i” é repetida. Ao que tudo indica, a artista duplicou a letra todas as vezes em que ela aparece em referência ao fato desse ser o act ii do projeto.
‘Blackbiird‘ é uma reinterpretação da música dos Beatles. A nova versão possui participação de Tanner Adell, Brittney Spencer, Tiera Kennedy e Reyna Reynolds. A música fala sobre esperança diante dos desafios e pode ser vista como uma forma de expressar a jornada e as lutas enfrentadas por Beyoncé por ser uma mulher negra na indústria da música.
A canção encerra com um gancho perfeito para ‘16 Carriages‘, que já havia lançada anteriormente como single. A música narra o início da carreira Beyoncé, com apenas 16 anos.
Em ‘Protector‘, escutamos a voz da pequena Rumi Carter. A letra cita a necessidade de proteger os filhos, mesmo sabendo que, logo, logo, eles saberão se cuidar. É uma característica do gênero country esse apego familiar.
Beyoncé, a primeira Cowboy Carter
Willie Nelson, cantor e compositor country, aparece em ‘Smoke Hour‘, que funciona como um interlúdio entre as músicas. O cantor, que é conhecido pelo seu humor e pelo seu ativismo a favor da legalização da maconha, brinca como um locutor de rádio do sul dos EUA. Inclusive, comenta sobre o uso da cannabis, já que o termo smoke hour pode significa uma pausa para relaxar e curtir o momento.
Em seguida, vem a música ‘Texas Hold ‘Em”, que também foi lançada junto de ’16 Carriages’. Depois dessa, Beyoncé canta ‘Bodyguard‘ que se trata de uma balada romântica country.
Dolly Parton, icônica cantora country, aparece em ‘Dolly P’ e faz uma ponte entre a sua música ‘Jolene‘ e a música ‘Sorry‘ do álbum ‘Lemonade‘ antes de introduzir a releitura da clássica canção reinterpretada por Beyoncé no álbum.
Dessa vez, a artista encarna uma outra protetora, já que ela busca afastar qualquer um que queira se meter na vida dela e do seu marido.
Sem limites
Gêneros são um conceito engraçado, não são?
Sim, eles são
Esse é aquele pique Beyoncé Virginiana
Em teoria, eles têm uma definição simples de se entender
Mas, na prática, bem, alguns podem se sentir confinados
Eu juro por Deus que a coisa vai ficar séria
‘Spaghettii‘ já inicia a música com uma mensagem poderosa de Linda Martell, cantora country dos anos 60 e 70, que lutou pelo seu espaço no gênero country.
A música possui um feat com Shaboozey e mistura o country com o afro beat, hip hop e até mesmo funk, com o sample de ‘AQUECIMENTO DAS DANADAS‘, do DJ O Mandrake.
Em ‘Alliigator Tears‘, Beyoncé explora o amor dentro de um relacionamento. Após essa música, Willie Nelson aparece novamente para um prelúdio da música ‘Just for Fun‘, com a participação de Willie Jones.
Willie Jones é um cantor de country super talentoso. Sua voz casa com o ritmo e a letra e o tom mais lento da canção faz uma transição perfeita para a música seguinte.
Em seguida, temos feat da Beyoncé com a cantora Miley Cyrus: ‘Il Most Wanted‘. A canção retrata um amor regado pelo companheirismo em que os dois não possuem limites.
Entre as diversas teorias sobre as possíveis participações que a Beyoncé traria em Cowboy Carter, Cyrus não só foi uma ótima surpresa, mas também casou com a história narrada no álbum. Visto que, além de ser afilhada de Dolly Parton, a cantora nasceu no country, porém estabeleceu a sua carreira no pop. E, talvez, uma das principais mensagens desse disco seja sobre a possibilidade de se aventurar entre os gêneros musicais.
Outra participação interessante é a do Post Malone. A música ‘Levii’s Jeans‘ tem um toque de sensualidade, humor e jogo de palavras que deixa a canção mais leve e mostra os vocais do artista fora do rap.
Versatilidade musical
Em ‘Ya Ya‘, Beyoncé faz referência novamente a Linda Martell com uma canção que possui uma variedade de gêneros, não se prendendo no country. A letra aborda a história dos EUA e os conflitos que existiram no sul.
Com a versatilidade musical, Beyoncé traz uma mistura de ritmos também nas músicas ‘Desert Eagle’, ‘Riiverdance’, ‘Il hands Il heaven’, ‘Tyrant‘ e, principalmente, ‘Sweet ☆ Honey ☆ Buckiin‘, com feat de Shaboozey. A letra busca retratar a essência e a liberdade do country, apresentando esse universo.
Por fim, para fechar o disco, Beyoncé apresenta a música ‘Amen‘. A letra é uma súplica e resgata a fé que é mencionada tantas vezes no gênero country.
Uma curiosidade que muitos fãs perceberam é que a faixa final termina em uma transição perfeita para a primeira música do act i, Renaissance. Isso porque, em comunicado, Beyoncé já havia afirmado que Cowboy Carter seria o act i. No entanto, por causa da pandemia, ela sentiu a necessidade de deixar esse álbum para o segundo momento. Afinal, o mundo precisava dançar e a leveza do Renaissance caiu muito bem.
O country é liberdade
Diferentemente do act i, em Cowboy Carter Beyoncé resgata a origem do gênero country dentro da sua própria história. A cantora busca apresentar esse estilo de modo que ele não ficasse preso no próprio gênero, para isso, ela apostou na produção das músicas com uma suavidade necessária dos vocais e letras impactantes.
Dessa forma, a artista conseguiu criar um álbum coeso com o seu estilo sem distorcer as características do country ou sua própria identidade. Afinal, como ela mesmo afirmou, esse não é um álbum country. É um álbum da Beyoncé.
*Créditos de imagem de capa: Blair Caldwell