Taylor Swift é conhecida por seus enigmas e quebra-cabeças, e com o seu mais novo lançamento, The Tortured Poets Department, não poderia ser diferente. Após um anúncio surpresa no Grammy 2024 e meses de teorias e especulações dos fãs, o 11º álbum de estúdio da artista finalmente chegou às plataformas digitais na madrugada desta sexta-feira (19). 

The Tortured Poets Department é o álbum mais confessional da carreira de Taylor Swift – e isso quer dizer muito vindo de uma artista cuja marca registrada é compartilhar sua vida em suas composições. Apesar de uma sonoridade mais voltada para o synth-pop, fica evidente que o maior ponto desse projeto são as suas letras, em todas as faixas, sem exceção.  

“São os piores homens que escrevo melhor”. O final do poema escrito pela artista no prólogo do álbum não poderia ser mais certeiro. Todas as evidências apontam para Joe Alwyn e Matty Healy como maiores fontes de inspiração para as canções. Isso porque, logo após o término de seu relacionamento de seis anos com o ator, Taylor se relacionou com o vocalista da banda The 1975 em uma espécie de “surto maníaco”, segundo descrição dela mesma. 

Faixas como ‘So Long, London’ e ‘loml’ demonstram a frustração de uma mulher que queria se casar, construir uma família, e viu tudo isso desabar. Um ponto que chama muita atenção são as diversas menções a anéis de noivado e casamento ao longo de todo o álbum. Vale lembrar que em ‘You’re Losing Me’, última música da era Midnights, a cantora já dava indícios de que esse teria sido um dos motivos de seu término com Joe Alwyn. Agora, ela não conseguiria deixar isso mais claro. 

“Você jurou que me amava
Mas onde estavam as pistas?
Eu morri no altar esperando pela prova
Você nos sacrificou aos deuses”

Já em músicas como ‘I Can Fix Him (No Really I Can)’ e ‘Down Bad’, somos apresentados ao famoso arquétipo do “bad boy” – supostamente, Matty Healy. As letras evidenciam a necessidade de “sentir algo” após essa liberdade recém-adquirida, mesmo que isso signifique entrar em um relacionamento impulsivo, breve – mas muito apaixonado e cheio de promessas – com um homem que não possui a aprovação dos seus familiares e amigos e, no fim, não é capaz de ser consertado, nem mesmo por você. 

Ah! E se você achava que não daria tempo de Travis Kelce ganhar sua parte ainda nesse álbum, uma música acabou chamando bastante atenção do público. EmThe Alchemy’ a cantora utiliza diversas referências sobre esportes para falar sobre um novo relacionamento triunfante. “Onde está o troféu? Ele simplesmente vem correndo até mim”, é o que diz a letra.

No entanto, se engana quem pensa que TTPD é um álbum somente sobre términos e relacionamentos. Na verdade, a obra parece uma grande imersão nos pensamentos mais profundos, e por vezes até perturbadores, de uma mulher em crise. 

Taylor Swift The Tortured Poets Department

‘Who’s Afraid of Little Old Me’ é a faixa que deixa mais evidente os sentimentos de pânico e ansiedade que vão se acumulando em nome das “boas aparências”, até que não fica mais possível segurar. Não dá para dizer se a narrativa vem de uma história real ou se passa somente nos pensamentos da artista que, de toda forma, demonstra estar à beira de um colapso nervoso.

Ainda nessa linha, ‘But Daddy, I Love Him’ faz uma alusão ao sentimento de perder o controle sobre a sua própria vida, porque o mundo inteiro se sente no direito de dizer o que você deve ou não fazer. É bem provável que a inspiração tenha surgido após o alvoroço ocasionado pelo seu curto relacionamento com Matty Healy, que é uma figura bastante polêmica no cenário musical. No entanto, não dá pra dizer que essa foi a única ocasião onde a vida pessoal da cantora foi exposta a milhares de opiniões não-solicitadas. 

“Deus salve os mais julgadores
Que dizem querer o melhor pra mim
Enquanto proferem discursos hipócritas que eu nunca verei”

Talvez uma das faixas que mais explique o fascínio do público por Taylor Swift seja ‘I Can Do It With a Broken Heart’. A música é uma grande confissão sobre como ela fingia estar feliz e bem nos palcos enquanto lidava com um término devastador. “Eu choro muito, mas sou muito produtiva. Isso é uma arte”, é o que diz parte da letra extremamente vulnerável que explica bastante dessa sensação de honestidade que permeia sua relação com os fãs há tantos anos.

The Tortured Poets Department: The Anthology 

Duas horas após o lançamento de The Tortured Poets Department em todas as plataformas digitais, Taylor Swift surpreendeu aos fãs revelando que, na verdade, o projeto é um álbum duplo. Em seguida, a artista lançou a versão estendida The Anthology, com 15 faixas adicionais.

A segunda parte do projeto se distancia um pouco da sonoridade inicial, se inclinando para um lado mais folk e acústico, ainda com toques de synth-pop. As novas faixas se aprofundam ainda mais nas temáticas abordadas na primeira metade do álbum, e ainda adicionam novas camadas e nuances.

Taylor é quase capaz de materializar seus pensamentos através do seu storytelling. Especialmente em The Anthology, ela insere elementos como história, mitologia e clássicos da literatura para construir uma narrativa interessantíssima. Particularmente, inclusive, muitas das músicas da segunda parte me agradam mais do que a primeira.

Grande mérito também de Aaron Dessner, responsável pela produção da maior parte das faixas, ao lado de Jack Antonoff. A dupla, que trabalha com Taylor há alguns anos, desenvolveu produções coerentes que fazem todo o sentido para a proposta da obra, ao mesmo tempo em que deixam espaço para as letras – que são inegavelmente as grandes estrelas do projeto – se destacarem devidamente.

Ainda falando sobre liricismo, a sensação que fica é que o álbum é especificamente voltado para o público que já acompanha a cantora há algum tempo e se interessa profundamente pelos seus pensamentos e reflexões. Se TTPD é sua introdução a Taylor Swift, talvez fique a sensação de lacunas em branco para além das letras afiadas e melancolia. Enquanto isso, se você não é um consumidor ávido das obras da artista, mas conhece seu trabalho superficialmente, você pode ficar se perguntando porque ela não diferenciou mais a sonoridade do novo álbum em comparação com os seus últimos projetos.

Claro, não há uma resposta absoluta para esses questionamentos que não venha da própria Taylor. Porém, na minha interpretação, a resposta pode ser mais simples do que parece: isso não é o que o álbum pede. Talvez uma mudança drástica de sonoridade tirasse a atenção do que a compositora realmente queria que se ocupasse o centro das atenções, que é sua poesia. Afinal, não é como se ela já não tivesse se provado capaz de transitar entre gêneros com maestria e discos aclamados pela crítica.

Seguindo com as considerações meramente opinativas sobre a mensagem que a cantora queria passar com o álbum, é engraçado perceber as diferentes opiniões entre os fãs sobre “quem” ou “o que” são as faixas individualmente. Eu acredito que Taylor brincou muito com a subjetividade nesse ponto, mesclando elementos sobre diferentes pessoas e situações em uma mesma canção, por exemplo, para tornar propositalmente mais difícil identificar uma única fonte de inspiração em cada faixa. Simplesmente porque esse não é o ponto. Não é sobre quem é a música, e sim sobre o sentimento dela.

The Tortured Poets Department te faz sentir que está vasculhando uma gaveta de rascunhos que não deveriam ver a luz do dia, com versos que te levam questionar como Taylor Swift realmente decidiu trazer esses pensamentos a público. A partir dessa vulnerabilidade exagerada e catártica, o álbum se torna uma das obras mais completas da carreira da artista.


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