Desde 2008 jogamos uma franquia que revolucionou o mundo dos games de várias formas, tanto boas quanto ruins. Aprendemos fatos históricos (alguns com liberdades poéticas), vimos lugares em épocas nas quais nunca seremos capazes de transitar e tivemos a capacidade de tocar virtualmente qualquer parte do mapa.

Pouco se fala sobre o impacto social da nossa realidade retratado em Assassin’s Creed.

Quero refletir com vocês sobre o controle de massa que acontece na nossa vida através da informação, desinformação e as atualmente famosas Fake News. Nesse mérito o jogo Assassin’s Creed não narra uma ficção e sim um reflexo de nossas vidas. Antes de começar gostaria de dizer que pretendo citar vários pontos da franquia, mas não vou vender o jogo e aviso de antemão que existirá spoilers da narrativa. Não citarei nada que acontece durante Assassin’s Creed Origens e nem Odissey, por serem jogos recentes.

Fonte: Ubisoft

Assassin’s Creed se trata de dois controles distintos da civilização humana. O primeiro feito pelos que vieram antes de nós. Uma raça humanóide que criou, controlou e escravizou os humanos com a ajuda das peças do éden. Durante o jogo eles já estão extintos e o conflito principal é entre a organização dos assassinos e dos templários que muitas vezes estão procurando peças do éden para ter controle sobre a sociedade.

Gostaria de colocar a seguinte premissa em suas cabeças:

“Informação é igual a controle, e controle é igual a poder.”

O jogo começa com a ideia de memória genética que sozinha já é uma maneira incrível de obter informação. Imagina conseguir toda a história de todas as pessoas na Terra em FULLHD. Memória genética é a teoria que dentro de nossos genes estão às memórias de todos os nossos antepassados e sincronizando essas memórias conseguimos assistir toda a vida de alguém que possa ter vivido há dois mil anos, por exemplo.

Essa simples concepção dá aos templários uma dianteira ótima, pois a partir do momento que se tem informação, pode-se controlá-la, alterá-la e doutrinar os pontos de vistas dos pioneiros.

Fonte: Ubisoft

Mentira e verdade são interpretações do indivíduo e da sociedade. Assim está correta a frase:

“quando alguém conta uma mentira 100 vezes, ela se torna uma verdade.”

Em algum momento a sociedade aceitou que a Terra era plana e essa mentira se tornou uma verdade. Quando pesquisadores questionaram isso, o simples questionamento da informação foi o suficiente para se queimar esses indivíduos. Logo, a sociedade está menos interessada em descobrir se suas verdades são fatos reais, do que em preservar o pensamento coletivo já doutrinado.

As perguntas a serem feitas são: “quem faz esse controle de massa? Porque fazem isso? Como faziam/continuam fazendo isso?”.

A informação sem questionamento em Assassin’s Creed 1

O objetivo dos templários no primeiro Assassin’s Creed é descobrir um mapa de onde se encontram diversas peças do Éden. O detentor dessa informação é um ancestral de Desmond que é um Assassino que viveu durante as cruzadas onde hoje é Israel/Palestina, chamado Altair. Ele era um exímio assassino, porém convencido e arrogante, e isso o fez quebrar as leis da irmandade, assim o destituindo de seus títulos e o transformando novamente em um aprendiz.

Para se redimir, o mestre da ordem dos assassinos o manda recolher informações para mais tarde matar templários que estavam tentando usar a maçã do éden para controlar a Terra Santa. No final descobrimos que a maçã do Éden estava com nosso mestre. Sua real intenção era matar todos os templários que o ajudaram, para assim obter o poder todo para si.

Esse é o primeiro controle de informação/desinformação. Uma voz que tinha certo crédito e autoridade disse algo a alguém e essa pessoa acreditou de olhos fechados, matou por conta dessas palavras. Em nenhum momento Altair questionou seu mestre, e mesmo se questionou, deixou para lá suas dúvidas por acreditar que esse formador de opinião tinha todas as respostas e era mais sábio que ele ou seja, Fake News.

Fonte: Ubisoft

Ele pode parecer bobo para nós, mas questione para si mesmo, quantas vezes você já acreditou nas palavras de alguém por considerar essa pessoa mais experiente e com mais créditos na fala que você? Quantas vezes você fez isso sem nem pesquisar a informação? Quantas vezes você repetiu essa suposta verdade para outra pessoa sem ter confirmado ela antes? Isso acontece todos os dias, todas as horas. Infelizmente damos esse controle aos formadores de opinião que podem ser youtubers, professores, pais, presidentes, etc. Esse é o controle de informação do indivíduo, porém, pode facilmente virar controle de massa com o boca-a-boca.

Existe lado bom e lado mal no controle de informação?

O controle de massa no jogo é feito dos dois lados, tanto dos assassinos quanto dos templários. Tanto que em Assassin’s Creed Rogue o protagonista Shay abandona os assassinos por procurarem um artefato, e não se importarem com as consequências que foram a morte de milhares de pessoas em Lisboa. Shay que foi controlado pelos assassinos e se sentiu manipulado a cometer genocídio.

Fonte: Ubisoft

Se assassinos não podem ser definidos como bons e os templários não podem ser definidos como maus, então, como podemos defini-los? Essas duas organizações assim como os próprios seres humanos são complexas e seus objetivos podem ser vistos como bons ou ruins dependendo do indivíduo. Elas parecem muito mais com dois partidos políticos do que entidades benevolentes:

Assassinos: Acreditam que o homem é seu próprio estado e em si deveria ser livre, ter liberdade de pensamento e de ação. Toda a informação deveria ser clara para a população, que conscientemente poderia escolher o melhor caminho sem ser manipulada. Assassinos trabalham nas trevas para servir à luz, por isso se escondem na sociedade. Os grandes atos de libertação e independência que a história relata foram ações de assassinos que entregam seus créditos na mão do homem comum, para assim aos poucos tentaram abrir os olhos da humanidade.

Templários: Acreditam que o homem é seu próprio estado e em si deveria ser livre, ter liberdade de pensamento e de ação. Porém, todavia, eles acreditam que a pura liberdade leva o homem ao caos e logo a autodestruição. Uma ordem tem que ser mantida, e ali se encontram os templários controlando o sistema de forma invisível para preservar o direito de liberdade da população, que seria incapaz de manter esse total livre arbítrio sozinha. Os templários seriam uma mão que sempre regeria e controlaria a sociedade e que apareceriam apenas quando seus interesses fossem diretamente ameaçados.

Controle criado pela falta de informação em Assassin’s creed 2

Assassin’s Creed dois conta a história de Ezio Auditore e foi a única dividida em três partes. A primeira parte, Vingança, a segunda, reconstrução e a terceira conhecimento. Todas essas etapas foram indispensáveis, pois descreveram o crescimento de um garoto mimado que não conhecia nada sobre o mundo até se tornar um sábio.

Ezio vivia em Florença com seus pais e irmãos em uma vida confortável. Até um dia quando seu pai e seus dois irmãos foram falsamente acusados e capturados pelas autoridades. Ezio vai de encontro com o amigo da família que o seu pai lhe pediu para ver, acreditando que ele resolveria a situação. No dia seguinte ele descobre que o mesmo amigo era responsável pela acusação e assistiu ao assassinato de sua família.

Ezio foge de Florença com sua irmã e sua mãe e ao encontrar seu tio Mario (it’s me, Mario) descobre que vive em uma família de assassinos. Assim começa seu treinamento e jornada para vingar a morte de seu pai e irmãos.

Além da grande importância da família que é um ponto enfático nesse jogo, existe a análise da informação e a manipulação causada pela falta dela. Nossa família normalmente quer nos proteger do mundo, e esse ato muitas vezes nos condena. Possivelmente se ele soubesse cedo dessa verdade, essa tragédia nunca aconteceria. Logo, vemos outra faceta do controle de massa. Altair errou ao acreditar piamente em alguém sem questionar. Ezio nunca teve chance de acertar, pois a informação lhe foi negada, podemos concluir que manter pessoas ignorantes é uma maneira efetiva de controlá-las.

Fonte: Ubisoft

A obtenção da informação pelos personagens

Nos outros jogos vivemos na pele de Ezio enquanto ele reconstrói a irmandade dos Assassinos e depois vai atrás dos conhecimentos deixados por Altair. Esses jogos são importantes, pois com o crescimento, educação e aprendizado, Ezio se torna o primeiro Assassino a realmente entender o lema do credo. Altair chegou a uma compreensão ampla dele, mas apenas Ezio cresceu tanto que foi capaz de desmistificá-lo:

“Nothing is true. Everything is permitted”. Em português: “Nada é verdade, tudo é permitido”. Para um leigo esse lema se resume ao caos total. Porém, Altair e depois Ezio o explicam. Assim tentam responder à pergunta de como evitar o controle em massa de informação e desinformação.

Primeiramente o mestre de Altair lhe disse:

“Nosso credo não nos comanda a sermos livres, mas sim sábios”. Em sua jornada Altair finalmente explica que para uma pessoa viver o lema ela teria que transcender a ilusão que é o mundo, e reconhecer que as leis não aparecem em divindades e sim na razão.

Fonte: Ubisoft

Ezio no final de sua vida finalmente entende e escreve em uma carta para sua amada Sofia:

“Dizer que nada é verdade, é perceber que os pilares da sociedade são frágeis, e que nós devemos ser os pastores de nossa própria civilização. Dizer que nada é permitido é entender que nós somos os arquitetos de nossas ações, e que nós precisamos conviver com as consequências delas, sejam elas gloriosas ou trágicas.”.

A única forma de se livrar das trevas da ignorância e não ser consumido pelo controle de massa seria questionar tudo que vê. Nunca se preencher de certezas e sempre se completar nas dúvidas.

Porque é interessante extinguir os diferentes para se obter controle

De todos os Assassin’s Creed nenhum se iguala a tristeza que encontramos em Assassin’s Creed Três e Assassin’s Creed Liberation. Os dois se parecem com seus antecessores na premissa que eles abordam o controle através da informação, porém, diferentemente deles que era feito em uma pessoa ou em um povo inteiro, é feito em parcelas da sociedade. Quando o controle é feito em minorias, normalmente elas terminam enganadas ou oprimidas, muitas vezes por pessoas que consideravam irmãs.

Fonte: Ubisoft

Em Assassin’s Creed Três essa minoria eram os indígenas e em Assassin’s Creed Liberation, os negros. Quando o controle de informação é feito sobre a sociedade ele controla como a maioria enxerga a minoria através da ignorância.

Tanto na nossa história quanto em Assassin’s Creed a informação é usada para tratar minorias como algo menos que humano, para que assim se possa justificar abuso, exploração e o genocídio de um povo. Normalmente para lucro e outras vezes para manter uma visão homogênea da população. Não é difícil de controlar opinião pública quando todos são iguais e têm opiniões iguais.

Quando todos os bois são iguais é fácil guiar o gado a seguir uma linha reta.

Durante Assassin’s Creed Três somos Connor um indígena que ajuda os americanos a se tornarem independentes da Inglaterra. Algo que os templários eram contra. Porém, após ajudar os americanos a serem livres, ele percebe que os índios assim como ele foram manipulados com promessas de liberdade mútua. Quando o que aconteceu foi à destruição do seu povo logo após. Connor, nosso protagonista, fica triste quando descobre que seu povo jamais será livre em sua terra novamente.

Em Assassin’s Creed Liberation somos Aveline de Grandpé uma mulher mestiça filha de uma mãe negra com um pai nobre Branco. Por isso mesmo ela sendo negra fazia parte da nobreza. Aveline não entendia porque pessoas negras como ela eram escravas enquanto ela vestia roupas caras.

Aveline lutou do início ao fim pelo direito dos negros e no final descobriu que sua sonhada liberdade era um sonho distante. Muitos negros tinham correntes imaginárias os prendendo que não era nada mais do que o controle de informação passado pela massa a eles, que os faziam acreditar que eles realmente não tinham valor.

A Cruel realidade do controle de informação de massa em Assassin’s creed Syndicate

Tudo culmina no último Assassin’s Creed que gostaria de cintar. Um dos Assassin’s Creed com maior impacto no controle de informação e mais perto de nossa era, o underrated Assassin’s Creed Syndicate que acontece em Londres durante a revolução industrial onde acompanhamos os irmãos Evie e Jacob Frye.

Londres estava dominada pelos templários há mais de 100 anos. Durante a Revolução industrial e auge do imperialismo, Londres era a capital do mundo e chamavam o império Britânico do império que o sol nunca se punha, pois tinha colônias em todos os fusos horários. Logo, no jogo se acreditava que quem dominasse Londres, dominaria o mundo.

Diversas vezes declara os trabalhadores como uma subclasse exaltando apenas a nobreza e burguesia. As propagandas incentivavam pessoas a acreditarem em coisas absurdas e a mídia ajudava a perpetuar essas verdades. Um exemplo do próprio jogo é quando Alexandre Graham Bell conta que ainda existiam várias donas de casa que acreditavam em Mrs. Windlow’s Soothing Syrup (um calmante de crianças que realmente existiu, mas que matava algumas delas).

Graham Bell relata que foi contar de porta em porta para essas donas de casa a verdade, sendo ele um cientista e mesmo assim muitas não acreditaram, preferiam acreditar na mídia pois se um veículo de informação que está em todos os lugares diz algo, deve ser verdade.

Fonte: Ubisoft

Alexandre Graham Bell comenta que esse episódio prova que uma informação falsa pode ser tão danosa quanto informação nenhuma. Em Assassin’s Creed Syndicate vemos o início de uma sociedade mais parecida como é hoje e por isso é mais fácil se relacionar. Nessa época já temos o começo da mídia.

Mentiras contadas pela mídia afetam países inteiros e tem potencial de causar danos que podem demorar décadas ou séculos para se corrigir. Londres em Assassin’s Creed era controlada por templários que incentivaram a ideia de divisão do valor do ser humano por sua classe social. Assim controlavam o pobre a não buscar mais do que tinham, não se rebelar e aceitar a realidade imposta pela mídia. Aceitando que é normal uma pessoa trabalhar dezesseis horas por dia para fazer outra pessoa ficar rica e que esse é o seu lugar, e que se um dia ele trabalhar muito ele vai conseguir acumular riquezas.

Esses são alguns relatos de pontos sérios em que a ficção de Assassin’s Creed colide com a realidade. E você? Já parou para questionar quantas informações te controlaram hoje? Afinal, essa minha análise não passa de um artigo de opinião? Por favor, questione.

“Nothing is true. Everything is permitted”


Obrigado por ler!! 

caso tenha gostado do conteúdo, deixe seu comentário e cogite de me seguir nas redes sociais:

Meu twitter

Meu Instagram

Meu Medium


Descubra mais sobre Portal GeekPop News

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.