Essa semana, a Editora Companhia Das Letras recebeu diversas críticas após ter publicado o livro “Abecê Da Liberdade: A história de Luiz Gama”, um livro infantojuvenil que conta a história de um menino negro, durante o período da escravidão. Foi chamada a atenção da editora para o fato de que a narrativa é lúdica e fora do contexto histórico – além de conter passagens racistas.

Na literatura é sempre bom ressaltar a importância do aprendizado que uma obra pode trazer para o conhecimento popular, algo que é um marco na história ou de algo novo sobre o que estudamos. Para o universo infantil não é diferente, e trazer um conhecimento para uma criança da forma que é necessária para a idade em questão, é preciso se atentar a diversos fatos quando estamos produzindo uma obra literária, especialmente o quanto aquilo que escrevemos tem uma ligação, se fazemos parte e vivência daquilo que contamos e se podemos de fato registrar sobre isso. E esse é um dos pontos levantados após a notícia da republicação do livro “Abecê Da Liberdade”.

Lançado originalmente em 2015, pelo selo Alfaguara da Editora Objetiva, o livro foi escrito por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, com ilustrações de Edu Oliveira. A história narrada é referente ao abolicionista e escritor, Luiz Gama (1830-1882), que chamou a atenção de muitas pessoas pela narrativa que romantiza o período de escravidão. Um trecho que está circulando bastante na internet sobre isso é de um dos momentos de brincadeiras entre as crianças, de forma lúdica em um navio negreiro. Brincando de pular correntes e achando graça em estarem brincando de escravos de Jó. As passagens, que além de romantizar um período tão agressivo e triste da história da humanidade, diminui a forma como deveria ter sido o impacto de uma realidade muito diferente do que a narrada.

A Companhia Das Letras publicou notas de esclarecimento sobre o ocorrido, se desculpando e dizendo estar tomando providências para que os exemplares saiam de circulação. “Lamentamos profundamente que esse ou qualquer conteúdo publicado pela editora tenha causado dor e/ou constrangimento aos leitores ou leitoras. Assumimos nossa falha no processo de reimpressão do livro, que foi feito automaticamente e sem uma releitura interna, e estamos em conversa com os autores para a necessária e ampla revisão. De toda maneira, como consideramos a crítica correta e oportuna, imediatamente disparamos o processo de recolhimento dos livros do mercado e interrompemos o fornecimento de nosso estoque atual. Esta edição agora está fora de mercado e não voltará a ser comercializada. (…) Reconhecemos nosso erro e pedimos, mais uma vez, desculpas aos leitores. Estamos dispostos e abertos para aprender com esse processo, para dele sairmos, todos nós, muito melhores.”

Também em nota, a Companhia das Letras diz reconhecer os erros históricos e morais presentes na obra, e que está tomando as devidas providências em relação à revisão do conteúdo infanto-juvenil disponível no catálogo, com um projeto de uma revisão e análise mais profunda das obras. “A obra em questão não passou por revisão e voltou a ser comercializada em 2020. É uma falha processual grave, que já começou a ser corrigida. Essas falhas não minimizam o erro. Nós erramos”, disse a editora, em nota publicada hoje, dia 17 de setembro. 


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