Você já tentou não sentir algo? Seja medo, paixão, dor, solidão ou inveja. Por acaso, alguma vez, disseram a você que demonstrar sentimentos ou chorar era sinônimo de fraqueza? Em uma sociedade que faz de tudo para entorpecer os sentimentos, O Fabricante de Lágrimas (Fabbricante di lacrime) chega para mostrar a importância da vulnerabilidade.

Dirigido por Alessandro Genovesi (Meu casamento gay italiano) e escrito por Erin Doom, o longa italiano conta a história de Nica (Caterina Ferioli) e Rigel (Simone Baldasseroni). Ambos cresceram no orfanato Grave, onde muitas histórias eram contadas a fim de consolar crianças que tinham passado por traumas terríveis; a mais famosa entre elas era a do Fabricante de Lágrimas.

Segundo a lenda, ele era um solitário artesão responsável por criar lágrimas de cristais a partir de medos, ansiedades, angústias e, principalmente, paixões dilacerantes. Assim, todos que desejam expressar esses sentimentos por meio do choro iam à sua procura.

Contudo, aos 16 anos, Nica estava cansada de acreditar nesses contos e sentia-se pronta para viver outra vida com a nova família, longe dos horrores que passou no orfanato. Mas, o que deveria ser um recomeço, torna-se uma turbulenta aventura, visto que Rigel é adotado junto com ela. Assim, com cicatrizes similares e uma estranha conexão, eles devem enfrentar o que sentem um pelo outro.

O Fabricante de Lágrimas
Nica e Rigel | Reprodução: Netflix

Mistura de Clichês

Com um ar gótico à moda de Fallen, O Fabricante de Lágrimas mistura uma série de clichês românticos e narrativas já conhecidos pelo público infanto-juvenil. Muitas vezes, você achará o nosso protagonista/lonely boy incompreendido parecido com outros personagens conhecidos da cultura pop, como Edward, da saga Crepúsculo, e Hardin, o anti-herói de After.

Embora a química entre os atores seja inegável, o roteiro peca na hora de construir a intimidade entre os protagonistas. Assim, torna-se difícil para o telespectador entender o porquê eles estão perdidamente apaixonados um pelo outro. Sem esse entendimento do encontro de afetos, todas as frases bonitas, os toques roubados e os olhares penetrantes tornam-se sem sentido.

Além disso, o longa ajuda a perpetuar o pensamento infantil de que “se ele está puxando o seu cabelo, é porque gosta de você”. Assim, muitas vezes, você verá Rigel sendo bruto com Nica para “o seu bem”. Isso é explicado, de forma superficial, pelo fato de que de onde eles vieram, demonstrar qualquer tipo de sentimento positivo era sinal de fraqueza. Por isso, Margaret (Sabrina Paravicini) aplicava punições terríveis nas crianças.

O Fabricante de Lágrimas
Nica e Adeline | Reprodução: Netflix

Trilha sonora e cenário de O Fabricante de Lágrimas

Ao som de Budapest, de  George Ezra, I Love You, de Billie Eilish, e intensas notas de piano, O Fabricante de Lágrimas mostra toda a agonia do primeiro amor. Além disso, o cenário com grandes construções arquitetônicas inserem o telespectador em um mundo que mistura a realidade com os contos de fadas. 

No entanto, a tonalidade escura do filme, por vezes, se torna incômoda. O longa também está repleto de erros de continuação e furos no roteiro, levantando mais perguntas do que respostas.

Ordem, respeito e obediência

O Fabricante de Lágrimas
Crianças no Orfanato | Reprodução: Netflix

Apesar dos erros, O Fabricante de Lágrimas passa por lugares muito sensíveis. Por meio de flashbacks, vemos os maus tratos que as crianças do orfanato Grave sofreram durante anos. Assim, o longa mostra como tudo o que passamos enquanto crianças afeta o modo como nos relacionamos como adultos.

O longa também permea outros conflitos, como a perda de um filho pelo casal Milligan, o amor não correspondido de Miki e o amor possessivo de Lionel. No entanto, ele não desenvolve nenhuma dessas questões adequadamente. 

Como livro, O Fabricante de Lágrimas fez um enorme sucesso, ultrapassando mais de 450 mil exemplares vendidos apenas na Itália. No entanto, a forma como o diretor adaptou a história nos faz questionar se o filme realmente era necessário ou se o amor entre Nica e Rigel deveria ter ficado apenas no formato original.


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